Ao mesmo tempo em que o Congresso dos Estados Unidos aprovou por quase unanimidade a liberação dos arquivos de Jeffrey Epstein, dois ataques do presidente Donald Trump a mulheres jornalistas elevaram ainda mais a tensão com a mídia e o temor de represálias contra veículos críticos.
Um deles ocorreu no dia 14 de novembro, a bordo do avião presidencial, mas ganhou visibilidade ontem depois que um vídeo com a cena viralizou.
Trump perdeu a compostura ao ser perguntado por uma repórter da Bloomberg por que ele era contra a liberação dos arquivos Epstein se não havia nada lá contra ele, disparando diante de todos os jornalistas presentes: “Quiet, piggy” (Silêncio, porquinha”).
Wait!
Did trump really just call Bloomberg reporter, Catherine Lucey, “piggy”???
WTF??? pic.twitter.com/8zOWZ3tEGS— Jonathan Blank Films (@jblankfilms) November 18, 2025
A Bloomberg divulgou uma nota defendendo Catherine Lucey: “Nossos repórteres na Casa Branca prestam um serviço público vital, fazendo perguntas sem medo ou troca de favores. Permanecemos focados em reportar temas de interesse público de forma justa e precisa”.
Ataque de Trump a jornalista da ABC na sede do governo
O outro ataque foi ainda mais visível, durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca nesta terça-feira (18), novamente contra uma jornalista mulher, um hábito do presidente.
Donald Trump recebeu o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman com honras militares e foi confrontado pela repórter Mary Bruce, chefe da equipe da ABC News que cobre a sede do governo, sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Colunista do Washignton Post, ele foi morto em 2018 no consulado saudita em Istambul.
Irritado com a pergunta, Trump defendeu o príncipe dizendo que ele “não sabia de nada” e minimizou o episódio com a frase “things happen” (essas coisas acontecem), além de classificar Khashoggi como “extremamente controverso”.
O presidente insistiu que Bin Salman é “um grande aliado” e destacou os investimentos sauditas de quase um trilhão de dólares nos Estados Unidos, acusando a jornalista de tentar “envergonhar nossos convidados”.
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Perda de licença por pergunta incômoda?
Mais tarde, Trump foi além e defendeu a revogação da licença de transmissão da ABC:
Acho que a licença deveria ser retirada da ABC, porque suas notícias são muito falsas e muito erradas”.
Ele instou o presidente da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr, a tomar uma atitude: “Ele deveria olhar para isso”, disse Trump.
Remover uma licença pode não ser legalmente fácil sem fundamentos sólidos, mas as ameaças de Trump têm provocado turbulências nas grandes empresas de mídia.
Algumas, como a própria ABC, fizeram acordos milionários para encerrar processos judiciais movidos pelo presidente e especula-se que jornalistas e editores podem estar sendo mais cuidadosos com as notícias sobre o governo para evitar danos.
ABC já fez acordo com Trump
A ABC, que pertence à Disney, é uma delas. Em 2024, Trump processou a rede e o âncora George Stephanopoulos por difamação e obteve um acordo: a ABC concordou em pagar US$ 15 milhões para sua fundação presidencial, além de cobrir parte dos custos legais.
As ameaças à liberdade de imprensa são também físicas, com jornalistas e veículos banidos de espaços onde o presidente fala com a imprensa.
“Assim como ele quer controlar a narrativa impressa e em transmissões usando pressão do governo ou ações judiciais contra meios de comunicação, ele também está tentando controlar a narrativa restringindo o acesso da imprensa a espaços onde decisões cruciais são tomadas, evitando transparência e responsabilidade”, disse Clayton Weimers, Diretor Executivo da Repórteres Sem Fronteiras nos EUA, sobre os bloqueios e restrições de acesso a espaços na Casa Branca e no Pentágono.
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