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Liberdade de imprensa

Além do discurso: como Trump está recorrendo a barreiras físicas para dificultar o trabalho de jornalistas críticos

RSF destacou 8 formas usadas pelo governo Trump para limitar o acesso de profissionais de imprensa, seja por bloqueando entrada em coletivas ou determinando expulsões do país

Donald Trump com bandeiras dos EUA ao fundo


Desde o início do segundo mandato do presidente Donald Trump, limitações físicas à liberdade de imprensa vêm sendo cada vez mais utilizadas.


Apesar de ter ficado de fora da lista deste ano de “predadores da imprensa”, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump é conhecido por seus ataques a jornalistas, violando sistematicamente a liberdade de imprensa. Dois dos casos mais recentes envolveram agressões verbais a profissionais mulheres.

A retórica do presidente é um dos fatores que contribui para o “clima de violência” alertado pela Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão, õrgão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que chamou atenção para a situação da liberdade de expressão e de imprensa nos EUA.

No entanto, os ataques de Trump à imprensa não se limitam a seus discursos. A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) aponta que desde o início do seu segundo mandato, Trump tem imposto cada vez mais limitações físicas aos jornalistas.

A RSF destacou oito maneiras por meio das quais o governo de Trump está atacando a liberdade de imprensa por meio da restrição física do acesso de jornalistas a áreas que antes eram de livre acesso para profissionais da imprensa.

“Os ataques de Donald Trump à liberdade de imprensa muitas vezes parecem ocorrer de forma abstrata, por meio de políticas e retórica. Mas Trump também está reduzindo o espaço físico para o jornalismo”, explica Clayton Weimersm, diretor-executivo da RSF nos Estados Unidos.

“É uma tática muito básica, mas um golpe fundamental na liberdade de imprensa’, alerta.

“Assim como ele quer controlar a narrativa na mídia impressa e nas ondas de rádio e televisão usando pressão governamental ou processos contra veículos de comunicação, ele também está tentando controlar a narrativa restringindo o acesso da imprensa a espaços onde decisões cruciais são tomadas, evitando a transparência e a responsabilização.”

Fechamento de áreas

Quatro das restrições físicas destacadas pela RSF estão relacionadas ao fechamento literal de áreas às quais jornalistas costumavam ter acesso.

Este é o caso das restrições impostas a jornalistas que cobrem o Pentágono, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. Lá, as limitações causaram protestos dos profissionais de imprensa e levaram a uma troca dos credenciados, com novos nomes majoritariamente favoráveis ao governo.

Também foram impostas limitações a certas áreas da Casa Branca no dia 31 de outubro. As novas regras impedem que jornalistas entrem sem agendamento prévio na área que inclui os escritórios do segundo andar pertencentes ao Secretário de Imprensa da Casa Branca e outros assessores de imprensa.

“A área, conhecida informalmente como “Upper Press” (Imprensa Superior), era um ponto de encontro para repórteres que tinham acesso relativamente livre ao local para conversar com funcionários da Casa Branca”, explica o RSF.

No dia 28 de outubro, dois jornalistas do Capital News Service foram impedidos de acompanhar uma audiência de imigração em uma corte do estado de Maryland. Posteriormente, eles conseguiram contestar a decisão judicialmente, uma vez que audiências de imigração costumam se abertas ao púlico.

Outro impedimento de acesso físico a um órgão de governo se deu por meio da atualização de políticas do Departamento de Estado, que agora requer que jornalistas solicitem passes de acesso com dias de antecedência.

Esta medida atrapalha a cobertura de fatos quentes ou o acesso de jornalistas que não cobrem o Departamento habitualmente, o que, segundo a RSF, leva a uma cobertura menos diversa.

Proibições relacionadas à migração

A perseguição do governo Trump a imigrantes respingou também nos profissionais de imprensa. A RSF monitorou dois casos em que jornalistas foram fisicamente impedidos de trabalhar nos EUA devido a questões de visto.

Primeiro, Mario Guevara, um repórter de El Salvador, foi deportado no início de outubro. Ele foi detido em julho justamente enquanto cobria um protesto contra as ações truculentas do controle de imigração.

Posteriormente, em agosto, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) propôs uma nova regra que restringe drasticamente o tempo que jornalistas estrangeiros podem viver e trabalhar no país.

Esta nova regra permitiria apenas 90 dias para cidadãos chineses e 240 dias para cidadãos de outros países, o que, para a RSF, “criaria um fado indevido para jornalistas estrangeiros”, que seriam obrigados a conviver com a incerteza da permanência no país e enfrentariam questões burocráticas com muita frequência.

Banimento de veículos específicos

Por fim, o governo Trump também limitou fisicamente a liberdade de imprensa por meio do banimento de alguns veículos de mídia específicos de certos espaços.

É o caso do Wall Street Journal, que está proibido de entrar no Air Force One, o avião presidencial devido a reportagens que mostram os laços de Trump com o financista e predador sexual Jeffrey Epstein.

Também é o caso da Associated Press, que foi banida da Casa Branca por se recusar a chamar o Golfo do México de “Golfo da América”, como trump desejava. A agência conseguiu recuperar o acesso por meio de uma decisão judicial.

“Táticas vingativas como essas criam um precedente alarmante, sinalizando que Trump só se cercará de membros da mídia que o retratem de forma favorável”, diz a RSF.

“Isso impede que a mídia responsabilize a Casa Branca e que o público tenha uma visão completa de como seus representantes eleitos estão gastando o dinheiro dos impostos”, completa.

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