Em resumo
- Brasil lidera participação na COP30, com mais de 3 mil delegados, e lista inicial de credenciados não inclui representantes dos EUA.
- Redes americanas de TV ficaram de fora devido à ausência do país, reduzindo o impacto internacional da cobertura de imprensa.
Relatório feito pela plataforma Carbon Brief a partir da lista de credenciados junto à ONU para participar da cúpula climática em Belém revela que, mesmo sediada na Amazônia, a COP30 não deve ter recorde de delegações. O Brasil lidera em número de representantes, e 11% dos registrados como observadores não declararam quem financia sua presença.
No fim da conferência do clima da ONU em Baku, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apostou que Belém seria a COP das COPs, mas a expectativa está cada vez mais difícil de se materializar tanto pelo impasse no acordo final e pelo impacto negativo do incêndio no pavilhão dos países quanto pelo número de participantes na COP30, que segundo uma análise preliminar pode ser menor do que o das conferências recentes.
De acordo com a “Provisional list of participants”, divulgada antes do início do encontro pela UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e analisada pela plataforma climática Carbon Brief, a cúpula de Belém teve 56.118 mil delegados registrados, o que a colocaria atrás apenas do encontro em Dubai, com 80 mil participantes.
No entanto, a plataforma aponta que cerca de 10 mil dos que pediram credenciamento antecipado para as COPs anteriores acabaram não coletando um crachá físico, que é o registro formal da presença.
Se a tendência se repetir no Brasil (só se saberá após o encerramento), Belém será apenas a quarta maior COP desde a conferência sediada no Egito, e ficará bem aquém da recordista Dubai, prevê a Carbon Brief.
Problemas logísticos, como a limitação na rede hoteleira de Belém, não chegaram a afetar as inscrições prévias, mas podem ter desestimulado alguns países a mandar mais representantes ou a confirmar a presença dos que se inscreveram.
Dos 198 países e regiões que fazem parte da Convenção-Quadro, apenas quatro não se registraram para o encontro: EUA (a ausência mais notável, que também impactou a ida de grandes redes de TV a Belém), Mianmar, Afeganistão e San Marino.
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Protagonismo brasileiro: mais participantes na COP30
Com 3.805 delegados inscritos, o Brasil lidera com folga entre os países participantes. É a maior delegação já enviada pelo país a uma COP, o que é natural em se tratando de um evento no país.
A análise ressalta, no entanto, que parte desse número elevado pode ser explicada pelo registro de ONGs brasileiras como parte da delegação oficial, o que poderia ter inflado os números.
China (789) e Nigéria (749) figuram como a segunda e a terceira maiores, respectivamente.
A seguir aparecem Indonésia (566), República Democrática do Congo (556), França (530), Chade (528), Austrália (494), Tanzânia (465) e Japão (461). A menor delegação é a única pessoa registrada, para representar a Nicarágua.
Além da inscrição para participação presencial, 40 países registraram delegados virtuais.
Jornalistas na COP30
De acordo com a lista, o número de representantes de veículos de imprensa este ano foi expressivo: 3,920, o que poderia colocá-la como a maior em número de jornalistas.
Dubai, em 2023, teve mais de 3 mil profissionais da imprensa. Mas a exemplo da participação de delegados, nem todos que se inscreveram estão em Belém.
E os números brutos podem não refletir a representatividade e impacto global da cobertura de imprensa.
A mídia brasileira responde por uma parcela expressiva dos participantes, já que o custo elevado das passagens e hospedagem, além da distância para muitos países, impactaram a cobertura presencial.
A ausência dos EUA é um outro fator. Conforme reportagem do The Guardian, as quatro grandes redes de televisão dos EUA (CBS, NBC, ABC e Fox News) praticamente não registraram presença oficial ou enviaram equipes para Belém.
Isso reduz significativamente a visibilidade norte‑americana do evento e pode influenciar o “eco” das negociações em mercados e audiências de larga escala.
Entre os veículos internacionais de imprensa com maior número de representantes credenciados na COP30, a liderança é dividida entre a Reuters e a Bloomberg, ambas com 42 jornalistas inscritos.
Em seguida aparecem a Associated Press (32) Sky News (31), BBC (20), Financial Times (16), Deutsche Welle (10), The Guardian (10) e New York Times (nove).
Influenciadores também se registraram em nome das plataformas onde publicam seu conteúdo: há três do TikTok e oito do YouTube.
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Parte dos observadores não declarou quem financia sua presença
Segundo a Carbon Brief, mais de 12 mil observadores se inscreveram para participar da COP30, com a grande maioria representando organizações não governamentais.
O número inclui desde ONGs ambientais como WWF, Ocean Conservancy e Wateraid a grupos de lobby que representam interesses específicos, como a Organização Mundial dos Agricultores, a Associação Internacional de Produtores de Petróleo e Gás e o Instituto de Energia Nuclear.
Este ano, pela primeira vez, o processo de registro da UNFCCC incluiu a opção de os observadores divulgarem as fontes diretas de financiamento para a participação.
Dos 11.300 observadores de ONGs registrados para a COP30, 11% optaram por não divulgar o financiamento. Os financiadores mais comuns foram ONGs (57%) e instituições acadêmicas ou de pesquisa (11%).
Além disso, os observadores foram “convidados a declarar o alinhamento de sua participação com o objetivo da convenção e os objetivos e princípios do Protocolo de Kyoto e do Acordo de Paris”.
No geral, 9.755 delegados selecionaram “sim” para esta opção. Mas 1.545 delegados deixaram a resposta em branco.
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