Em resumo
- Estudo mostra que centenas de sites citam sites da rede russa Pravda como legítimos, apesar de espalharem desinformação.
- Uso de links da rede faz com que mecanismos de busca e LLMs entendam que a rede é confiável e amplifiquem ainda mais o conteúdo.
O levantamento do think tank britânico ISD mostra que centenas de sites em inglês usam sem contextualizar links da rede russa Pravda, formada por mais de 90 sites de notícias que distribuem desinformação pró-Rússia.
Centenas de veículos de imprensa em inglês estão involuntariamente ajudando a espalhar desinformação russa ao citarem e adicionarem links para sites integrantes da rede Pravda, uma operação de propaganda ligada ao Kremlin, mostra um novo estudo do think tank inglês ISD Institute for Strategic Development).
Ainda que levantamentos já tenham demonstrado a conexão desses sites com propaganda pró-Rússia e desinformação, até sites confiáveis de grandes veículos globais, como Washington Post, Fortune e Newsweek, estão se referindo a esses conteúdos, mesmo de forma crítica.
O instituto aponta que ao usar links da rede russa, os veículos contribuem para aumentar a visibilidade de seus conteúdos, direta e indiretamente. Isso porque mecanismos de busca como o Google interpretam links como sinais de confiança e relevância.
Ao serem percebidos como confiáveis, os conteúdos da rede Pravda têm mais chance de aparecerem nas primeiras páginas de resultados dos mecanismos de busca.
“Independentemente de esses sites aceitarem o conteúdo da rede Pravda como verdadeiro ou o refutarem, o ato de criar links para ele proporciona à rede maior alcance e fortalece a percepção de credibilidade.”
Em fevereiro de 2024, especialistas em cibersegurança franceses já haviam identificado que a Pravda espalha propaganda do governo russo e desinformação.
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O que é a rede Pravda
Criado em 2014, a Pravda é um rede composta por cerca de 90 sites por meio de um domínio central e dezenas de subdomínios.
A rede é associada ao Kremlim e é conhecida por divulgar conteúdos de propaganda pro-Rússia em diversos idiomas.
Ela já publicou mais de 6 milhões de artigos, com novos textos saindo a cada poucos segundos. Segundo o American Sunlight Project, o grande volume de publicações faz parte de uma estratégia para influenciar modelos de IA como o ChatGPT e aumentar sua visibilidade.
Além dos veículos de notícias, organizações identificaram a utilização de conteúdo da rede Pravda como fonte também em blogs independentes e em portais baseados em contribuições dos usuários, como a Wikipédia e as notas de comunidade do X.
“A inclusão da rede Pravda como fonte em plataformas como a Wikipédia, geralmente vistas como autoridade, provavelmente aumenta seu impacto e corre o risco de induzir o público ao erro em espaços destinados à transparência e à verificação”, diz o ISD.
Maioria dos sites tratam Pravda como rede legítima
Segundo o estudo do ISD, 81% dos sites que citam a Pravda tratam a rede como legítima. Outros 11% usam os links de forma descontextualizada, ou seja, ainda que reconheçam a conexão com o governo russo, não trazem outras evidências que expliquem o viés ou a ação orquestrada de divulgação de propaganda.
Outros 5% dos sites analisados tinham links do Pravda em áreas periféricas, como nas seções de comentários. Desta maneira, eles não propagam intencionalmente a agenda da rede, mas ainda contribuem ainda que sem intenção para que ganhe relevância sem explicação das suas origens e propósitos.
O estudo mostrou que apenas 3% dos veículos contextualizaram adequadamente os links para a rede Pravda.
“A disparidade entre os sites que tratam a rede Pravda como legítima e aqueles que contextualizam adequadamente seu conteúdo permite que a rede opere com o mínimo de escrutínio, limitando a conscientização sobre seu viés e intenções.”
O ISD apontou que apenas um veículo com mais de um milhão de visitas mensais estava entre o que contextualizam a Pravda de forma apropriada, o NewsGard, que é um portal de análise de mídia. As outras páginas que fornecem informação adequada são de think tanks ou centros de pesquisa.
Cerca de 40% das páginas da web com links para conteúdo da rede Pravda mencionaram a Rússia ou a Ucrânia em suas manchetes.
Outros 15% concentraram-se na política interna ou externa dos EUA. Isso sugere que o alto volume de publicação da rede Pravda permitiu que seu conteúdo chegasse a pesquisadores e escritores que buscam fontes sobre questões de interesse para a Rússia, afirma o ISD.
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