Ao mesmo tempo em que um acordo mediado pelos EUA e pela União Europeia tenta colocar fim à guerra na Ucrânia, a Rússia condenou o jornalista Vilen Temeryanov, original da Crimeia, a 14 anos de prisão por “participar das atividades de uma organização terrorista” e “preparar uma tomada de poder violenta”.
A Crimeia foi ocupada pela Rússia em 2014, e o destino do território é um dos pontos difíceis do acordo.
Preso desde agosto de 2022, o jornalista nega as acusações e afirma que vai tentar recorrer da decisão. Ele se pronunciou oficialmente pela última vez no dia 25 de novembro, na véspera da condenação.
“Sou muçulmano e jornalista, e depois de estudar a realidade durante todos esses anos, cheguei à conclusão de que não há lugar para justiça onde há intenção de cometer terrorismo na forma de perseguição, intimidação e destruição de famílias e da paz entre as pessoas.”
A Rússia acusa o jornalista de ser membro do grupo islâmico Hizb ut-Tahrir, que as autoridades russas proibiram e consideram uma organização terrorista. O grupo tem permissão para operar legalmente na Ucrânia.
A sentença determina que Temeryanov cumpra os três primeiros anos em regime fechado em presídio e depois passe para uma colônia prisional.
O jornalista trabalha para a organização de direitos humanos Crimean Solidarity e para o site independente Grani.
Temeryanov foi preso junto com outros cinco ativistas. Quatro deles já tinham recebido condenações que variam de 13 a 19 anos de prisão.
Leia também | Jornalismo na América Central está sendo desmantelado com repressão e crise econômica, diz estudo
Perseguição a jornalistas na Crimeia
Além de ser da Crimeia, Temeryanov é da etnia muçulmana Tatar, que, segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), tem sido alvo de perseguição.
De acordo com o CPJ, atualmente há 12 jornalistas ucranianos presos na Rússia. Sete deles são Tatars da Crimeia.
A organização aponta riscos à liberdade de imprensa, pede a liberação imediata do jornalista e o fim da “repressão às vozes independentes na Crimeia”.
Gulnoza Said, coordenadora do programa para a Europa e Ásia Central do CPJ, classificou a prisão de Temeryanov como uma represália a seu trabalho.
“Isso demonstra o quanto a Rússia teme qualquer reportagem independente vinda dos territórios ocupados da Ucrânia.”
Rússia e Ucrânia negociam acordo de paz
As conversas entre a Rússia e a Ucrânia ainda acontecem em caráter inicial, mas um dos pontos centrais do acordo é o futuro de dois territórios ocupados, a Crimeia e Donbass.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou no dia 27 de novembro que um acordo deve incluir o reconhecimento legal de que as regiões agora pertencem à Rússia.
No entanto, o documento que está em discussão no momento, apresentado por países europeus com base em uma primeira versão feita pelos Estados Unidos, traz 28 pontos, e não inclui a questão dos dois territórios ocupados.
Leia também | Jornalista turco é condenado por ‘ameaçar’ Erdogan ao comentar pesquisa sobre presidência vitalícia
Leia também | Além do discurso: como Trump está recorrendo a barreiras físicas para dificultar o trabalho de jornalistas críticos
Leia também | Organizações condenam novos ataques de colonos israelenses a jornalistas na Palestina
Leia também | Tribunal mantém condenação de jornalista chinês a 7 anos de prisão por se encontrar com diplomata japonês
Leia também | Rússia já condenou quase 70 jornalistas exilados e estrangeiros à revelia, com direito a prisões ‘simbólicas’





