Em resumo
- Primeiros alvos do site Hall of Shame da Casa Branca incluem CBS News, Boston Globe e o britânico The Independent, acusados de distorcer fatos do governo Trump.
- Objetivo do site é denunciar o que o governo entende como fake news sobre o presidente Trump e atos governamentais.
O novo espaço digital da Casa Branca, Hall of Shame, transforma em política oficial a retórica de Donald Trump contra a mídia, expondo publicamente reportagens consideradas distorcidas até de veículos internacionais.
Quando parecia impossível alguém se surpreender com os ataques de Donald Trump à imprensa que o critica, a Casa Branca deu um novo passo lançando o site Hall of Shame, uma plataforma para denunciar jornalistas e veículos acusados de divulgar “fake news” – segundo critérios do próprio governo.
O nome faz uma alusão irônica aos populares Halls of Fame, criados para homenagear pessoas com contribuições positivas em suas áreas.
No universo político de Trump, porém, o Hall of Shame, que entrou no ar na segunda-feira, tem objetivo oposto: “expor reportagens enganosas e tendenciosas”, destacando semanalmente veículos e jornalistas considerados “infratores” e listando aqueles que considera infratores contumazes.
Tired of the Fake News?
We’ve got the place for you.
Get the FACTS. Track the worst offenders. See the Fake News EXPOSED. 💥👇
📲 https://t.co/BZX1NVe0Jg pic.twitter.com/gbQaRTTIZU
— The White House (@WhiteHouse) November 28, 2025
O Washington Post – que pertence ao amigo de Trump, Jeff Bezos – encabeça a lista de “Repeat Offenders”, seguido por MSNBC, CBS News, CNN, The New York Times, Politico e The Wall Street Journal.
A iniciativa foi apresentada pela porta-voz Karoline Leavitt como uma forma de “defender a verdade contra ativistas disfarçados de jornalistas” e “restaurar a confiança do povo americano na informação verdadeira”.
Como funciona o site contra a imprensa de Trump
O funcionamento do Hall of Shame é simples: semanalmente, “infratores” são destacados, com nome do autor da matéria, veículo e reportagem considerada enganosa, acompanhada da versão oficial do governo sobre o caso.
Entre os primeiros nomeados estão a CBS News, acusada de distorcer declarações de Trump sobre imigração; o Boston Globe, listado por uma reportagem crítica sobre políticas econômicas da administração; e o britânico The Independent, incluído por ter publicado uma matéria que, segundo a Casa Branca, representava de forma equivocada falas do presidente sobre parlamentares democratas.
O veículo britânico reagiu publicando críticas à iniciativa e destacando que a tentativa de “nomear e envergonhar” jornalistas críticos é uma forma de intimidação que ameaça a liberdade de imprensa em escala internacional.
O Independent ressaltou que continuará a fiscalizar o poder, mesmo diante de pressões vindas diretamente do governo dos Estados Unidos.
Trump anda de mal com a mídia britânica, com a ameaça de exigir 1 bilhão da BBC em compensação pela edição de seu discurso no dia da invasão do Capitólio que sequer foi exibida nos EUA.
A rede britânica está entre os Repeat Offenders, junto com a Fox News, uma surpresa considerando o histórico de apoio da rede ao presidente.
De acordo com o site, “Esses veículos não entenderam errado – eles fazem isso repetidamente.”
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Trump perde apoio da imprensa MAGA
O lançamento do site pelo governo Trump ocorre em um momento em que enfrenta críticas até mesmo de antigos aliados, como a parlamentar Marjorie Taylor-Greene, que deixou a base trumpista (e o posto de congressista) atirando contra o presidente e seus rumos políticos.
E segundo uma análise recente do projeto Media Matters for America, parte da imprensa conservadora ‘MAGA’, que historicamente o apoiava, começa a romper o silêncio e adotar posturas críticas.
Em sua análise, o projeto afirma que número crescente de jornalistas, influenciadores e veículos de direita têm criticado Donald Trump abertamente em relação a decisões econômicas, políticas externas e sobre o caso dos arquivos do pedófilo Jeffrey Epstein.
Em vários casos, como o da influenciadora Breck Worshan, a ‘loira patriota’, o levantamento encontrou afirmações de que o movimento “MAGA”, centrado em Trump, está “morto”.
O novo site pode ajudar a reter apoio entre os mais fanáticos e que já concordam com a retórica de que a grande imprensa não merece crédito.
Mas deixa o governo Trump cada vez mais próximo das práticas consagradas entre líderes autoritários, que quando não podem prender ou condenar, partem para o assédio e desqualificação pública dos que os criticam.
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