No segundo ano do presidente Javier Milei governando a Argentina, a violência institucional contra jornalistas atingiu níveis “sem precedentes” no país.
É o que aponta um relatório da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) em parceria com o Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA), a Federação Argentina de Trabalhadorxs de Imprensa (FATPREN) e o curso de Comunicação Social da Universidade de Buenos Aires (Comu-UBA).
O Informe sobre a Liberdade de Expressão na Argentina em 2025 expõe a repressão sistemática nas manifestações, o uso irregular de armas menos letais, as detenções arbitrárias, a hostilidade digital e uma crescente judicialização de jornalistas que investigam ou criticam o governo nacional.
Realizado com o apoio do Fundo para a Democracia e o Trabalho, o relatório foi apresentado nesta semana no Senado argentino.
A vice-presidente da IFJ, Zuliana Lainez, defendeu a importância de documentar os casos de violência contra jornalistas na Argentina. Segundo ela, este é um processo “vital”.
“Este relatório é essencial porque, toda vez que alguém tentar afirmar que a liberdade de expressão é respeitada na Argentina, teremos este documento para relatar o que aconteceu com [o fotógrafo] Pablo Grillo, com a mídia pública, com os jornalistas que cobrem manifestações, com a propaganda governamental e com o assédio a jornalistas mulheres. Não estamos apenas defendendo a imprensa: estamos defendendo o direito do público à informação.”
Grillo foi seriamente ferido com uma bomba de gás lacrimogêneo lançada diretamente contra ele pela polícia quando cobria uma manifestação de aposentados em Buenos Aires.
Agressões e detenções
Os casos de agressões e detenções arbitrárias de jornalistas e civis, principalmente no contexto de manifestações se agravou consideravelmente no segundo ano do governo de Javier Milei.
O documento mostra que de janeiro a outubro deste ano, 83 jornalistas foram agredidos no país durante coberturas de protestos, em especial nas marchas semanais de aposentados. O número é 66% maior do que o registrado em 2024.
Os jornalistas não foram os únicos alvos da repressão. Nos primeiros seis meses do ano, foram constatados fatos repressivos em 54% das manifestações. Em 2024, este número era de 28%.
No mesmo período, 130 pessoas foram detidas arbitrariamente em protestos, número também muito superior ao de 2024 (93).
Esvaziamento de estruturas de comunicação
Além da repressão, o relatório alerta sobre outras formas por meio das quais o governo Milei ataca o jornalismo e a liberdade de expressão. Um exemplo é o processo estrutural de esvaziamento das políticas de comunicação pública e de promoção de meios de comunicação comunitários e independentes.
Outras maneiras são a intervenção e paralisia de organismos-chave como a Entidade Nacional de Comunicações e a Ouvidoria, e o avanço da concentração dos meios de comunicação e da censura judicial em casos de elevado interesse público.
Organização aponta para ameaça à liberdade de imprensa
Ao divulgar o relatório, a IFJ afirmou que “o Estado argentino não apenas abandonou suas obrigações de proteção, como também se tornou um dos principais agressores contra a imprensa por meio de práticas de estigmatização, repressão, perseguição judicial e desmantelamento das garantias institucionais.”
A organização explica que a política sistemática de ataque à mídia e seus profissionais é uma ameaça à democracia e às liberdades de expressão e de informação. Na visão da IFJ, um ecossistema midiático democrático, pluralista e livre de violência é fundamental para assegurar esses direitos.
“A IFJ reafirma sua solidariedade aos profissionais da imprensa da Argentina e insta o Estado argentino a abandonar práticas que limitam o exercício do jornalismo e, consequentemente, restringem o espaço cívico.”
O relatório completo (em espanhol) pode ser acessado aqui.
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