As mudanças climáticas não fazem mal apenas à terra, aos mares e às florestas. Pessoas também adoecem vítimas do aquecimento do planeta, ou perdem o direito a recursos básicos para a sua saúde e sobrevivência.
Em uma de suas categorias, o prêmio anual de fotografia da Fundação Wellcome, organização global dedicada a promover a ciência, destaca o efeito da emergência ambiental sobre a saúde e não apenas sobre a natureza.
Os vencedores do Wellcome Photography Prize 2021 serão anunciados em julho, mas os finalistas foram revelados esta semana. E representam um alerta eloquente para lembrar que as pessoas, sobretudo as mais frágeis, estão no centro da crise ambiental.
Sob o tema “Saúde em um mundo mais quente”, imagens capturadas em cinco países mostram como o fogo e as enchentes devastam as terras das quais as pessoas dependem, como o aquecimento global cria novos perigos de doenças e o que acontece quando alimentos e água potável tornam-se escassos. Mostram também o que populações vulneráveis têm feito para manter suas famílias em ambientes que a crise climática tornou hostis ao ser humano.
Escassez de água, Índia
por Sujan Sarkar
“Rupali, uma menina de nove anos, carrega água para sua família usar em casa. Mas é água salgada. Desde 2009, quando o ciclone Aila atingiu a ilha de Mousuni, na costa indiana ao sul de Calcutá, a comunidade tenta se refazer do choque. As inundações e a erosão das margens do rio tornaram a água local salobra. As árvores morreram ou pararam de dar frutos. As terras agricultáveis tornaram-se inférteis. É possível usar a água disponível para lavar objetos, mas água potável adequada e saudável para a vida humana é terrivelmente escassa.”
Custo do clima, Bangladesh
por Zakir Hossain Chowdhury
“Três meses depois que o ciclone Amphan atingiu Bangladesh, Habibur Rahman Sarder tenta resgatar qualquer coisa que ainda possa ser útil em meio aos destroços do que um dia foi a sua casa. Como muitos outros, Habibur continua sem teto, sempre procurando algum refúgio improvisado. Ele não tem onde cozinhar e nem onde cultivar. É difícil conseguir tratamento médico. As comunidades costeiras de Bangladesh estão gravemente expostas às mudanças climáticas, assombradas pela previsão de que 20 a 25 milhões de pessoas serão forçadas a deixar suas casas até 2050.”
Eliminando combustíveis fósseis – Alemanha
por Krisztián Bócsi
Prevenir é melhor do que remediar. Quanto mais rápido o mundo puder reduzir as emissões de gases de efeito estufa, maior será a nossa capacidade de mitigar os perigos para a saúde representados pelo aquecimento global – desde desidratação e desnutrição até doenças infecciosas e condições climáticas extremas. Uma grande parte disso virá da substituição do uso de combustível fóssil, como a usina de lignito de Jänschwalde em Peitz, Alemanha. A linhita, também conhecida como carvão marrom, é uma das fontes de energia mais intensivas em carbono. O governo alemão está empenhado em eliminar o uso de carvão até 2038.”
A família no final do Mundo, Noruega
por Michael Snyder
“Aqui, na periferia da cidade mais setentrional do mundo, uma menina sai para brincar. Saga Bernlow vive no arquipélago norueguês de Svalbard, no Oceano Ártico, onde as temperaturas estão subindo rapidamente. O negócio de trenós puxados por cães que garante a sobrevivência de sua família enfrenta um futuro incerto, já que a camada de neve derrete no início do ano. E outros riscos também se escondem: os cientistas temem que o derretimento do permafrost possa liberar bactérias ou vírus há muito extintos de volta à atmosfera.”
Lágrimas na seca – Bangladesh
por Sharwar Apo
“Uma família leva a criança ao hospital em Rajshahi, Bangladesh em uma padiola improvisada, cruzando cerca de 10 milhas em uma terra castigada pela seca. A mãe segura um frasco de soro fisiológico o tempo todo. Na maior parte do ano essa terra fica morta. Durante quatro meses, fica inundada.
Ainda assim, a água potável é escassa, as plantações não sobrevivem, e os problemas de saúde se multiplicam – da desidratação à infecção. O transporte é limitado. A jornada desta família foi bem-sucedida e a criança recebeu tratamento para sua diarreia. Mas muitos dos que tentam a mesma jornada não têm tanta sorte.”
Uma Elegia para a Morte de Hamun -Irã
por Hashem Shakeri
Durante séculos, a província persa Sistão-Baluchistão foi uma região fértil do Irã, com florestas e plantações produtivas. Os balúchis habitam a região desde o ano 1000. Mas as mudanças climáticas estão transformando-o em um deserto, trazendo seca, fome, desemprego e emigração em massa. Na série finalista do prêmo da Fundação Welcome, o fotógrafo fez uma elegia, expressando em imagens a sensação de tristeza, pesar e saudade dos tempos de fertilidade que a crise ambiental destruiu.
“As áreas pantanosas do vilarejo de Hamun estão quase todos secas hoje em dia. Após uma enchente, Moslem conseguiu alguns peixes. Mas não demorará muito para que a água desapareça novamente.”
“Yasmin Raeesi, de 17 anos, usa uma árvore morta para secar roupas. Ela e sua família vivem em uma área com escasezz de água potável, o que leva a problemas de saúde como desidratação, desnutrição e doenças.”
“Abdullah, que está jejuando, descansa sob o que já foi uma árvore frutífera, agora seca e tomada por besouros. Ainda há árvores verdes ao redor, mas ele acredita que a agricultura logo se tornará inviável aqui.”
“Balek Roza não tem certidão de nascimento, mas dizem que ela tem 110 anos. Ela tem catarata e em sua aldeia não há água potável.”
“Abdul Rahman está de pé na terra em que trabalha. Depois de anos de seca, uma temporada de chuvas proporcionou algumas boas safras de banana. Mas neste ano as enchentes destruíram tudo.”
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