Londres – As negociações em torno da compra do Group Nine Media pela Vox Media, envolvendo dois dos maiores players de mídia digital americanos, seguiam discretas até a notícia ser revelada pelo Wall Street Journal na segunda-feira (13/12).
O “furo” precipitou a confirmação de mais um grande negócio envolvendo referências do jornalismo digital, quatro meses depois de o Politico ter sido vendido por US$ 1 bilhão ao conglomerado de mídia alemão Alex Springs.
Na carta enviada aos funcionários depois que a história vazou, Jim Bankoff, CEO da Voz, explicou : A lógica de negócios […] é aumentar a receita, aumentar a escala e combinar portfólios incrivelmente fortes e complementares.”
Gigante de mídia digital
A aquisição vai resultar em uma empresa poderosa. Fundado em 2016, o Nine é dono de marcas populares no mercado americano, incluindo The Dodo, PopSugar e Thrillist, como foco em audiência jovem. Contabiliza 250 milhões de seguidores em mídias sociais e mais de 6 bilhões de visualizações de vídeo por mês.
A Vox já detém marcas como New York Magazine, Vulture, The Verge e Polygon. A aquisição é a maior das cinco anunciadas em 2021. As quatro anteriores foram podcasts: Cafe Studios, Punch, Hot Pod e Criminal Productions.
A união dos dois portfólios tornará a Vox uma das 10 maiores empresas de mídia dos Estados Unidos por alcance de público, atingindo 350 milhões de seguidores de mídia social e 6 bilhões de visualizações mensais de vídeo, destaca o comunicado.
Todas as marcas serão atendidas pelo mesmo marketplace interno de publicidade, o Concert, aumentando a escala.
Bankoff seguirá comandando a nova companhia, enquanto o fundador do Group Nine, Ben Lerer, irá para o Conselho de Administração.
A operação só será concluída em 2022. Até lá as empresas continuarão separadas. Não houve garantia de manutenção de empregos, apenas uma sinalização de que “haverá cuidado”, segundo Bankoff informou à equipe:
“Nenhuma de nossas ofertas ou serviços editoriais existentes mudará como resultado dessa combinação, e seremos atenciosos sobre como tomamos decisões e tratamos as pessoas.”
Mídias sociais no radar da Vox Media
Escrevendo aos funcionários, o CEO da Vox destacou o perfil complementar das marcas que passarão a operar sob o mesmo teto, e a visão de futuro sobre o papel das mídias sociais:
“A organização [Group Nine] é forte e complementar à nossa em muitas áreas, desde os temas que cobre e o público que atendem até os formatos em que contam histórias, e as plataformas em que as contam.
Nossa empresa combinada será a líder em mídia moderna, alcançando públicos em larga escala em todos os lugares, de podcasts a serviços de streaming, do YouTube ao TikTok, de sites a impressão.”
Uma das apostas da Vox Media tem sido a produção de áudio e vídeo. O site Axios revelou que a empresa projeta receita de US$ 100 milhões no segmento para este ano e o dobro de programas, transmitidos por serviços como Hulu, Netflix, YouTube Originals, AppleTV + e HBO.
Propaganda combinada na mídia digital
Jim Bankoff também valorizou o modelo de propaganda da empresa que vai ser adquirida:
“Eles construíram um negócio de publicidade forte e crescente que permitirá que nossa empresa combinada forneça aos profissionais de marketing um conjunto completo de soluções, incluindo ofertas únicas e valiosas em redes sociais e vídeos, onde os consumidores estão dedicando mais atenção do que nunca.
Sua receita também é diversificada além da publicidade, com uma operação robusta de estúdios, comércio de afiliados e parcerias de licenciamento com grandes varejistas.”
O CEO da Vox enfatizou à sua equipe “o controle sobre nosso próprio destino”, sinalizando quem vai mandar na casa. E descartou planos imediatos de abrir capital, embora tenha deixado a porta aberta para isso no futuro.
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Abertura de capital do Buzz Feed decepcionou
A referência à abertura de capital na mensagem interna pode ser um sinal para tranquilizar os mais ansiosos depois que a Buzz Feed enfrentou solavancos ao seguir essa rota na bolsa de tecnologia Nasdaq, no dia 6 de dezembro.
A organização de mídia digital lançada há 15 anos utilizou uma empresa de SPAC (Special Purpose Acquisition Company, ou Companhia com Propósito Especial de Aquisição), uma forma de encurtar o caminho para o lançamento das ações. E levantou US$ 16 milhões, em vez dos US$ 250 milhões esperados.
Ao mesmo tempo, 61 funcionários do BuzzFeed News – cerca de 5% da força de trabalho da empresa – pediram demissão em protesto contra o estado de suas negociações para um contrato sindical.
Em uma análise sobre o impacto da abertura de capital para a equipe de funcionários, o jornalista Peter Kafka do Vox Media, disse que parte deles vai ganhar “algum dinheiro”, porque suas ações ou opções podem agora ser negociadas na bolsa. Segundo ele, o maior beneficiado será o CEO Jonah Peretti, cuja participação “vai valer milhões.”
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Mas quem recebeu opções após a última rodada de financiamento do BuzzFeed em 2016 pode não ver nenhum lado positivo, ao menos por enquanto. Segundo Kafka, os investidores teriam que estar convencidos de que a empresa vale pelo menos US$ 1,7 bilhão.
Ele acha que alguns ex-funcionários podem ganhar um bom dinheiro, mas não tanto assim. Um deles disse ao jornalista da Vox que pelos valores atuais, a venda dos papéis pode dar para pintar a casa, mas não para comprar uma casa.
Outros negócios na mídia digital
A compra do Group Nine pela Vox Media acontece no mesmo ano em que outras empresas de mídia digital americanas mudaram de mãos, ambas em agosto. Primeiro foi o The Hill, site de notícias políticas, vendido para o Nextstar Media Group por US$ 130 milhões.
Em seguida, o fundador do Politico, Robert Allbritton, que tinha chegado a tentar comprar o The Hill, vendeu sua empresa ao conglomerado alemão Axel Springer por cerca de US$ 1 bilhão.
O Axel Springer já detinha 50% do controle da operação europeia desde 2014. No ano seguinte, tinha oferecido US$ 250 milhões a Allbritton para comprar a operação global, mas sabiamente a oferta foi recusada. Em seis anos, ele vendeu o Politico por um valor quatro vezes maior.
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