Londres – O prêmio de fotografia jornalística e documental World Press Photo recebe até 10 de janeiro inscrições para sua edição 2023.
Em 2022, o brasileiro Lalo de Almeida conquistou o primeiro lugar na categoria Projetos de Longo Prazo, em reconhecimento a um conjunto de fotos retratando a destruição da floresta e as consequências para as pessoas que nela vivem.
Prêmio de fotografia recebeu quase 65 mil inscrições em 2022
O prêmio World Press Photo é aberto a fotógrafos profissionais trabalhando em jornalismo ou fotografia documental.
Os participantes devem confirmar sua situação profissional com documentos como carteira de emitida por sindicato ou associação profissional, comprovante de publicação de fotos em formato online ou impresso ou carta de referência de veículo ou agência atestando serviços prestados.
As inscrições são gratuitas. Fotos não publicadas podem ser inscritas.
Os vencedores regionais recebem um prêmio de € 1 mil (R$ 5,6 mil) e os globais recebem mais € 5 mil (R$ 28,2 mil).
Além da premiação em dinheiro, o World Press Photo dá visibilidade internacional aos vencedores, que participam de exposições e do anuário da organização.
Os trabalhos premiados passam a integrar a coleção online e seus autores ganham um perfil pessoal no site Word Press Photo.
Um total de 24 vencedores regionais serão premiados, um por categoria (Foto Individual, Histórias, Projetos de Longo Prazo e Formato Aberto) em cada uma das seis regiões (África, Ásia, Europa, América do Norte/Central, América do Sul e Sudeste Asiático / Oceania).
O júri da América do Sul é presidido este ano pelo brasileiro Felipe Dana, Brasil (Associated Press). Os demais jurados são Federico Estol (Uruguai); Gisela Vola (Argentina); Isadora Romero (Equador) e Marianela Balbi (Venezuela).
Veja os melhores do prêmio de fotografia em 2022
Melhor Foto do Ano: Escola Residencial Kamloops, por Amber Bracken, Canadá
A autora da fotografia vencedora do prêmio em 2022, Amber Bracken, é reconhecida por documentar questões relacionadas aos povos indígenas da América do Norte.
A fotografia que venceu o concurso foi feita para o New York Times. Uma característica única do trabalho é que pela primeira vez nos 67 anos do World Press Photo, a imagem do ano não ter uma pessoa como objeto.
Bracken capturou a imagem de vestidos vermelhos pendurados em cruzes ao longo de uma estrada para homenagear crianças que morreram na Kamloops Indian Residential School, um internato que funcionou na época colonial em British Columbia para assimilar crianças indígenas. No local foram encontradas 215 sepulturas anônimas.
No vídeo, ela conta a história por trás da fotografia premiada.
Os internatos começaram a funcionar no século 19, como parte de uma política de assimilação forçada de pessoas de várias comunidades indígenas à cultura ocidental dos colonizadores e missionários europeus.
Mais de 150.000 estudantes foram removidos à força de suas casas e famílias, muitas vezes proibidos de se comunicar em seus próprios idiomas, sujeitos a abuso físico e às vezes sexual.
Uma Comissão de Verdade e Reconciliação concluiu que pelo menos 4.100 estudantes morreram enquanto estavam nos internatos. A Escola Kamloops foi apontada como o local onde mais fatalidades aconteceram.
Em maio de 2021, uma pesquisa usando radar de penetração no solo identificou até 215 possíveis locais de sepultamento de jovens em Kamloops, confirmando relatos de histórias reais.
“A história colonial não é uma história antiga […], é uma história viva, com a qual os sobreviventes ainda estão lutando. Se queremos falar sobre reconciliação ou cura, precisamos realmente manter e honrar o coração que ainda existe lá.”
Melhor Reportagem Fotográfica do Ano: Salvando florestas com fogo, por Matthew Abbott, para a National Geographic
Na série de fotografias que venceu o prêmio na categoria Reportagem Fotográfica, o australiano Matthew Abbott, reconhecido por documentar temas sociais, culturais e políticos de seu país, conta uma história pouco conhecida.
Saving Forests with Fire registra o trabalho da população nativa Nawarddeken, proprietária tradicional de uma área de mais de 1,39 milhão de hectares em West Arnhem Land, no norte da Austrália. Eles provocam incêndios controlados para evitar grandes queimadas na temporada seca.
O fotógrafo acompanhou os habitantes da reserva para registrar a prática conhecida como queima fria, pela qual os incêndios se movem lentamente, queimam apenas a vegetação rasteira e removem o acúmulo de material combustível que alimenta as chamas maiores.
Ele contou que conheceu o trabalho em 2008, quando morou e trabalhaou em Arnhem Land e foi convidado para uma caminhada na mata com o povo Nawarddeken.
Mais de 10 anos depois voltou, desta vez pela National Geographic, para trabalhar em uma reportagem mostrando como os Nawarddeken queimam estrategicamente suas terras para evitar incêndios florestais destrutivos e como esse processo ajuda a salvar o meio ambiente.
“Ancião Nawarddeke, Conrad Maralngurra, queima a vegetação rasteira para proteger a comunidade de Mamadawerre de incêndios florestais no final da temporada. O fogo vai morrer naturalmente à noite, uma vez que a temperatura cai e os níveis de umidade aumentam”.
“Fumaça de uma queimada fria cobre o Vale Dajalama, em West Arnhem, no início da estação seca no Norte da Austrália”.
“Em Stacy Lee, a casca das árvores é incinerada e produz uma fonte de luz natural para ajudar a caçar cobras (Acrochordus arafurae), em Djulkar, Arnhem Land, Austrália”.
“A figura de um canguru entre dezenas de outras pinturas de arte rupestre no telhado de uma caverna em Arnhem. A cada ano, os sítios arqueológicose são limpos dos detritos que podem queimar e destruir as pinturas antigas“.
“Um tipo de falcão preto voa sobre uma queimada feita por caçadores em Mamadawerre. A ave, também conhecida como falcão do fogo, é nativa do norte e leste da Austrália e caça perto de incêndios, capturando grandes insetos, pequenos mamíferos e répteis que fogem das chamas”.
“Um helicóptero solta bolas de fogo do tamanho de bolas de pingue-pongue para criar pequenos incêndios, numa queima controlada em Capari”.
“Durante cinco dias de caminhada em várias propriedades do clã no início da estação seca, uma família segue uma fogueira acesa para outros membros do clã, para ajudar a orientá-los em sua viagem e para limpar a terra, prevenindo incêndios destrutivos”.
Melhor Projeto de Longo Prazo: Distopia Amazônia, por Lalo de Almeida, para Folha de São Paulo/Panos Pictures
O fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida conquistou o primeiro lugar na categoria Projetos de Longo Prazo do World Press Photo Contest.
Em Distopia Amazônica, que havia sido premiada na etapa regional do concurso, Almeida documentou ao longo de 12 anos os efeitos sociais, políticos e ambientais do desmatamento, mineração e exploração de recursos na Amazônia brasileira, como ele conta no vídeo.
O fotógrafo é um veterano premiado no World Press Photo Awards. Em 2021, ganhou na categoria Série Meio Ambiente com uma foto dos incêndios no Pantanal e em 2017 na categoria Questões Contemporâneas.
Ao anunciar os vencedores, a organização do World Press Photo destacou a crise que afeta a Amazônia como justificativa para a escolha do trabalho do fotojornalista brasileiro.
“Desde 2019, a devastação da Amazônia brasileira vem ocorrendo em seu ritmo mais rápido.
A exploração não só tem efeitos devastadores no ecossistema da Amazônia, com sua extraordinária biodiversidade, mas também gera uma série de impactos sociais, particularmente nas comunidades indígenas forçadas a lidar com a degradação significativa de seu meio ambiente, bem como com de seu modo de vida.”
Lalo de Almeida acredita que não se pode separar as questões ambientais e sociais .
“A maioria das cidades com altos níveis de desmatamento também apresentam altos níveis de pobreza.
São elementos completamente conectados: pobreza, violência, degradação ambiental e desmatamento.”
Veja algumas das fotos da série e o relato de Lalo de Almeida sobre as cenas
“Mulheres e crianças da comunidade Pirahã, ao lado de seu acampamento às margens do rio Maici, observam os motoristas que passam na rodovia Transamazônica esperando receber lanches ou refrigerantes.”
Humaitá, Amazonas, Brasil, em 21 de setembro de 2016.
“Vista aérea da construção da Barragem de Belo Monte no Rio Xingu. Mais de 80% da água do rio foi desviada de seu curso natural para construir o projeto hidrelétrico.
A redução drástica no fluxo de água tem um impacto adverso tanto sobre meio ambiente quanto nos meios de subsistência das comunidades tradicionais.”
Altamira, Pará, Brasil, em 3 de setembro de 2013.
“Membros da comunidade Munduruku fazem fila para embarcar em avião no Aeroporto de Altamira. Após protestar no local da construção da barragem de Belo Monte, no Rio Xingu, eles viajaram para Brasília a fim de apresentar suas demandas ao governo.
A comunidade Munduruku habita as margens de outro afluente do Amazonas, o rio Tapajós, a várias centenas de quilômetros de distância, onde o governo tem planos de construir mais projetos hidrelétricos.
Apesar da pressão de indígenas, ambientalistsas e organizações não governamentais, o projeto de Belo Monte foi construído e concluído em 2019″.
Pará, Brasil, em 14 de junho de 2013.
“Menino descansa em tronco de árvore morta no Rio Xingu em Paratizão, comunidade localizada próxima à hidrelétrica de Belo Monte. Ele está cercado por restos de árvores mortas, formadas após a inundação do reservatório”.
Pará, Brasil, em 28 de agosto de 2018.
“Vira-latas observam carne pendurada em um açougue na Vila da Ressaca, uma área anteriormente explorada por ouro, mas agora quase completamente abandonada, em Altamira”.
Pará, Brasil, em 2 de setembro de 2013.
“Um outdoor com uma mensagem de apoio ao presidente Bolsonaro ao lado da Rodovia Transamazônica. Foi financiado por agricultores locais”.
Altamira, Pará, Brasil, em 20 de julho de 2020.
“O desmatamento maciço é evidente em Apuí, município ao longo da Rodovia Transamazônica, sul da Amazônia. O local é um dos municípios mais desmatados da região.”
Amazônia, Brasil, em 24 de agosto de 2020.
“Um integrante de uma comunidade afro-brasileira composta por negros, alguns dos quais descendentes de povos escravizados do continente africano – está desmaiado bêbado em um banco, em Pedras Negras, São Francisco do Guaporé.
O processo de concessão de títulos de terra para comunidades iniciado por ex-escravizados já era lento antes da eleição de Jair Bolsonaro. Agora parou completamente, como resultado da decisão do presidente de não demarcar mais terras para essas comunidades quilombolas na Amazônia. “
Rondônia, Brasil, em 29 de janeiro de 2021.
Melhor fotografia em Formato Aberto: Sangue é uma semente, por Isadora Romero Equador
A vencedora do prêmio World Press Photo 2022 na categoria Formato Aberto foi a equatoriana Isadora Romero, com um vídeo formado por uma sequência de fotografias intitulado La Sangre Es Una Semilla (O sangue é uma semente).
Partindo da história familiar pessoal da própria artista, o projeto questiona o desaparecimento de sementes, a migração forçada, o racismo, a colonização e a perda de conhecimento ancestral.
O vídeo reconhecido no prêmio é composto por fotografias digitais e cinematográficas, algumas tiradas em filme 35mm vencido e posteriormente desenhadas pelo pai da fotógrafa.
Durante o século 20, 75% da diversidade genética de plantas agrícolas foi perdida globalmente. A principal força motriz do declínio da agrobiodiversidade é o impulso para o cultivo de monoculturas de variedades modificadas e muitas vezes não nativas, para obter culturas de maior rendimento.
Em uma viagem à sua aldeia ancestral de Une, Cundimamarca, Colômbia, a fotógrafa explorou memórias esquecidas da terra e das colheiras e aprendeu sobre seu avô e bisavô que eram ‘guardiões de sementes’ e cultivavam várias variedades de batata, apenas duas das quais ainda existem.
Assista ao vídeo vencedor.
“Perder diversidade e variedades de sementes não está apenas nos afetando como comunidade porque estamos perdendo nutrientes e provavelmente algumas espécies desaparecerão completamente.
A memória cultural também está se perdendo. Esse conhecimento foi passado de geração em geração, e geralmente não é validado pela comunidade científica ocidental.
Acho muito importante entender como estamos perdendo essa memória.”, diz a fotógrafa.
As fotos foram divulgadas pelo prêmio de fotografia World Press Photo