Londres – Jane Goodall, conservacionista britânica que ficou célebre por ter se especializado no estudo do comportamento de chimpanzés na África, está completando 90 anos de idade com uma homenagem feita por fotógrafas de todo o mundo: 90 fotos de natureza foram reunidas em uma coletânea pelo projeto Vital Impacts, criado por Ami Vitale, da National Geographic.
Entre as imagens estão algumas feitas pela própria Jane, que em 1960, aos 26 anos, deixou Londres com a mãe rumo à Tanzânia, onde iniciou a jornada que revelou ao mundo fatos inéditos sobre o comportamento dos chimpanzés – como a de que eles não eram vegetarianos como se presumia até então.
As imagens da homenagem “The Nature of Hope” serão vendidas durante 90 dias, com 60% da renda revertida para o Instituto Jane Goodall, que apoia comunidades locais em diversos países com o objetivo de proteger os primatas estudados por ela – e também retratados em fotos memoráveis pela conservacionista.
Jane Goodall, por ela própria
Muito anos das selfies, Jane Goodall, nascida em 3 de abril de 1934, registrou a si própria em 1962 observando a floresta em Gombe com sua luneta, uma das imagens que faz parte da coletânea.
Hoje parece fácil fazer uma foto assim, mas na época foi quase uma aventura, como ela conta.
“Eu estava sozinha, bem no alto das colinas.[…]. Encontrei um lugar com uma árvore adequada para equilibrar a câmera. Tive que montar o tripé e posicioná-lo até que a imagem imaginada comigo na cena estivesse enquadrada corretamente. Isso foi antes do digital, então tive que esperar muito tempo antes de ver a foto impressa pela National Geographic. Eu amo esta imagem!.”
Outras imagens registradas por Jane Goodall em seus estudos sobre o comportamento dos primatas foram selecionadas pelo projeto Vital Impacts na comemoração dos 90 anos da ambientalista, que faz parte do grupo de Embaixadores da Paz da ONU.
Uma delas é “Kiss”, o beijo carinhoso da mamãe chimpanzé e seu filhote, uma das fotos mais famosas da conservacionista.
Veja outras fotos de natureza selecionadas em homenagem a Jane Goodall
As imagens à venda no Vital Impacts custam a partir de 95 euros (R$ 520 reais), mas algumas chegam a valores bem mais altos, em edições limitadas e com valor no mercado de fotografia de arte.
Ami Vitale, uma das mais premiadas fotógrafas de natureza do mundo e autora da iniciativa, é uma das representadas na coletânea de fotos que vai arrecadar recursos para o Instituto Jane Goodall.
Ela passou três anos registrando o declínio da população de pandas gigantes na China e os esforços de conservação da espécie, trabalho que virou um livro.
A foto retrata Hua Yan (Menina bonita), uma fêmea de dois anos, libertada na natureza depois de nascer em cativeiro na Reserva Natural de Wolong, administrada pelo Centro de Conservação e Pesquisa da China para o Panda Gigante, na província de Sichuan.
Assim como Jane Goodall, a fotógrafa de natureza espanhola Marina Cano é apaixonada pelo continente africano e colabora com diversas associações que protegem espécies ameaçadas. A foto escolhida para a coletânea retrata o carinho entre duas girafas.
Já a inglesa Beth Moon é fascinada por aves de rapina. A imagem de uma coruja-das-torres que voou em sua direção integra a série Barn Owl Studies.
Outra imagem da África mostra em destaque um pequeno guepardo que brincava com outros filhotes no galhos de uma árvore, quase completamente camuflado pelas folhas ao seu redor.
A autora é Beverly Joubert, da National Geographic, especializada em fotografia africana há quase 35 anos, com trabalhos publicados em revistas e em 12 livros.
Jody MacDonald registrou Rajan, um elefante asiatico que na imagem tinha 66 anos e se tornou uma celebridade global, com notícias de sua morte publicadas em todo o mundo.
Ele fazia parte de um grupo de 10 elefantes levados para as Ilhas Andaman, no Oceano Índico, na década de 50. Os animais foram forçados a aprender a nadar no oceano para levar as árvores cortadas para os barcos próximos.
Quando a exploração madeireira foi proibida em 2002, Rajan ficou “desempregado”, e viveu até 2016 em harmonia entre as árvores gigantes que costumava transportar e nadando apenas para se divertir. Foi o último sobrevivente do grupo.
Esta foto mostra Barney, um Urso de Kermode, que aproveitou a maré baixa e desceu de uma montanha íngreme para comer as cracas da costa rochosa no Canadá.
“Ele estava tão interessado em nós quanto nós nele”, relata a fotógrafa canadense Michelle Valberg, com 38 anos de trabalho em fotografia de natureza e de espécies selvagens. Ela foi premiada com a Ordem do Canadá em 2022.
Daisy Gilardini é uma fotógrafa de conservação especializada nas regiões polares, com ênfase na vida selvagem da Antártida e nos ursos norte-americanos.
A imagem intitulada “O Abraço” também foi feita no Canadá. O local, Hudson Bay, é a maior concentração de ursos-polares do mundo, onde jovens e adultos passam o tempo brigando ou brincando durante a migraçao anual da terra para o mar.
“Os cientistas têm várias explicações para este comportamento: reforça relacionamentos, ajuda a estabelecer uma hierarquia, prepara-os para futuras brigas reais por parceiros em potencial e os ajuda a entrar em forma para a próxima temporada de caça às focas”, explica a autora da imagem.
As focas, apelidadas localmente de “labradores do mar”, são as estrelas da imagem registrada pela fotógrafa australiana Krystle Wright na costa da Ilha Montague, uma das maiores colônias do país.
Outra fotógrafa de natureza australiana, Michaela Skovranova, que também é cineasta, capturou o momento em que um amistoso filhote de baleia jubarte surgiu a poucos metros de onde mergulhava, na ilha de Tonga.
“A força da água nos empurrou e nos cobriu com milhares de pequenas bolhas – foi especial vivenciar a natureza dessa forma.”
A imagem feita pela fotógrafa de natureza finlandesa Tiina Itkonen, que documenta a Groenlândia e seus habitantes há 30 anos, faz parte da série Piniartoq, uma colaboração com a cientista polar Kristin Laidre e com a escritora científica Susan McGrath.
Os caçadores inuítes no noroeste da Groenlândia ainda viajam em trenós puxados por cães no inverno. A caça de focas, morsas e outros animais do Ártico ainda é uma parte vital da vida na região, e a principal fonte de alimento para muitas famílias.
Do outro lado do mundo e com clima mais ameno, a fotógrafa belga Tui De Roy, radicada em Galápagos há mais de 50 anos, registrou uma das espécies mais famosas da região: o Booby de patas azuis, com direito a um bebê que ainda não está tão colorido como os mais velhos.
Este vídeo mostra a história da conservacionista Jane Goodall, homenageada na coletânea de fotógrafas mulheres, quando ela completou 80 anos.
As fotos foram publicadas com autorização do Vital Impacts e não podem ser reproduzidas sem autorização dos detentores dos direitos autorais.
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