Londres – A organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) quer que o ditador derrubado da Síria, Bashar al-Assad, seja processado pelo assassinato de pelo menos 181 jornalistas durante seu governo, e está cobrando também responsabilização dos membros do HTS, que tomou o poder, por crimes contra profissionais de imprensa.
“Apelamos ao HTS para responsabilizar seus membros responsáveis e para libertar todos os jornalistas ainda detidos no país, incluindo aqueles feitos reféns. Os futuros líderes da Síria, sejam eles quem forem, devem garantir a segurança dos jornalistas e permitir que uma imprensa livre floresça”, disse a organização.
De acordo com a RSF, 161 jornalistas foram assasinados pelas forças do regime desde 2021 e outros 17 morreram em ataques aéreos russos.
No dia 9 de dezembro de 2024, no dia em que o regime caiu nas mãos do grupo militante Hayat Tahrir al-Sham (HTS), 23 profissionais de imprensa estavam atrás das grades e dez estavam desaparecidos.
Um deles é o jornalista americano Austin Tice, capturado há 12 anos quando fazia reportagens sobre a guerra civil na Síria.
As mortes mais recentes aconteceram poucos dias antes da queda do regime de Assad, quando as forças armadas sírias tentaram impedir o avanço dos rebeldes liderados pelo HTS, em direção à capital, Damasco.
Dois repórteres que cobriram os confrontos foram mortos pelas forças armadas sírias: Mustafa al-Kurdi, jornalista do meio de comunicação local Focus Aleppo e correspondente da emissora pública turca TRT, e Anas Alkharboutli, fotojornalista da agência de notícias alemã DPA.
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“O reinado brutal da ditadura de Assad acabou, e com ele vem a esperança de que também acabe a violenta repressão da imprensa. […] Bashar al-Assad fez da Síria um dos piores países do mundo para profissionais de mídia. […].
Exigimos que ele seja processado por seus crimes. A justiça, há muito atrasada, deve finalmente ser feita para todas as vítimas de seus abusos.
Desde o colapso do regime, os rebeldes começaram a abrir prisões.
A RSF confirmou a libertação de Hanin Gebran, uma jornalista da Syria Media Monitor detida desde junho de 2024, e da blogueira Tal al-Mallouhi, detida desde 2009 por seu trabalho antes da revolução.
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Seis jornalistas assassinados pelo HTS
Vários grupos rebeldes e facções armadas também contribuíram para a repressão de repórteres nas áreas que eles controlavam, aponta a Repórteres Sem Fronteiras.
Dos 283 jornalistas mortos na Síria desde 2011, o HTS é acusado de ter matado seis entre 2012 e 2019, nos registros da organização de liberdade de imprensa.
O líder do grupo, Abu Mohammed al-Joulani, seria ainda responsável pelo sequestro de oito jornalistas, segundo a RSF.
Dois deles foram feitos reféns em 2013 e 2015 pelo grupo jihadista al-Nusra, fundado por al-Joulani.
Em 2017, a al-Nusra se fundiu com outros grupos islâmicos para formar o HTS, que assumiu o controle da província de Idlib, onde sequestrou seis jornalistas sírios entre 2018 e 2021.
Vários repórteres curdos também foram mortos em ataques aéreos no norte da Síria, mais recentemente em agosto de 2024, em ataques atribuídos aos militares turcos pela mídia curda.
Enquanto isso, o Estado Islâmico assassinou 22 jornalistas na Síria entre 2013 e 2017, de acordo com dados da RSF. Até o momento, ainda é impossível identificar os responsáveis pelos assassinatos de 59 jornalistas, diz a entidade.
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