Em meio à crescente batalha das big techs contra a regulação, cinco associações de imprensa da Europa se uniram para pressionar o Google a parar um teste que elas classificam como um risco ao jornalismo do continente.

Sob o pretexto de “medir a contribuição da mídia para a atratividade da marca”, o Google está ocultando conteúdo jornalístico nos resultados de suas buscas na Europa por tempo indeterminado. A medida, segundo as associações, é de “má-fé” contra todo o setor e consumidores.

Editores e jornalistas europeus acusam a empresa dos EUA de ameaçar o acesso à informação e, com isso, colocar em risco as democracias dos países onde vivem 2,6 milhões de pessoas.

Google compra briga com governos e mídia ao desafiar leis na Europa

Seja com Elon Musk no Brasil ou com a Meta nos EUA, big techs têm desafiado cada vez mais autoridades governamentais e não seria diferente na Europa, escolhida como campo de batalha pelo Google.

Há apenas sete anos, a norte-americana foi uma das empresas a endossar o Código de Conduta sobre Desinformação da UE, documento que reúne compromissos voluntários adotados por empresas de tecnologia e de fact-checking.

O código é anterior à atual Lei de Serviços Digitais, que regula as big techs no bloco, mas tem sido considerado como base para um novo conjunto de regras oficiais.

Em matéria exclusiva desta quinta (10), o Axios revelou que o Google já informou aos legisladores europeus que não irá adotar a checagem de fatos para moderação de seu conteúdo, abrangendo resultados de pesquisa e vídeos do YouTube – uma das medidas aceitas de forma voluntária anteriormente.

A posição da gigante da tecnologia só reforça os temores das associações de imprensa da Europa, que denunciam uma “séria ameaça” ao jornalismo profissional e à democracia europeia.

O manifesto é assinado pelas European Magazine Media Association (EMMA), European Newspaper Publishers’ Association (ENPA), Federação Europeia de Jornalistas (EFJ), News Media Europe (NME) e pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

As associações se dizem “profundamente” preocupadas com o teste em andamento do Google:

“O objetivo declarado é remover conteúdo de imprensa de seus serviços em vários países europeus por um período indeterminado para cerca de 2,6 milhões de cidadãos europeus”.

No texto, os representantes da imprensa europeia apontam que “qualquer ação que reduza o alcance da imprensa aos leitores prejudica a capacidade das empresas de mídia de financiarem suas equipes editoriais.

“Além disso, restringir o acesso dos cidadãos à informação afeta diretamente a qualidade do debate democrático em toda a Europa.

Com base em nossa vasta experiência em negociações com o Google, acreditamos que esse ‘teste’.”

As associações ainda afirmam que o Google não tem sido transparente, pois se recusa a compartilhar dados e resultados sobre o teste.

“Ao definir seus próprios parâmetros de pesquisa e avaliar seu próprio desempenho, o Google corre o risco de manipular o resultado para desvalorizar o papel econômico da imprensa e sua real contribuição para o sucesso do Google.”

Teste acontece durante briga do Google contra remuneração

Os signatários do texto também destacam uma curiosa coincidência: o teste que oculta conteúdo jornalístico do Google acontece no mesmo momento em que a companhia briga com a UE para não pagar empresas de mídia pelo uso de seus conteúdos.

“Um claro ato de intimidação”, resumem as associações. Na França, o Sindicato dos Editores de Revista (SEPM, na sigla em francês) identificou esse risco e garantiu a suspensão temporária do teste no país – dando fôlego à luta do restante do continente:

Editores de imprensa e jornalistas por toda a Europa apoiam totalmente a iniciativa do SEPM.

Acompanharemos de perto os procedimentos judiciais na França, com a esperança de que o resultado afirme a soberania da Europa sobre seu ecossistema de informações.”

Leia o texto na íntegra.