Londres – O Ministério das Relações Exteriores da França expressou forte condenação e alertou sobre possíveis retaliações à Rússia após a revogação do credenciamento vista como ‘expulsão disfarçada’ do jornalista Benjamin Quénelle, correspondente do renomado jornal francês Le Monde em Moscou.

A medida, considerada “injustificada e arbitrária” pelo governo francês, marca a primeira vez desde 1957 que o Le Monde é impedido de ter um correspondente baseado na Rússia.

O caso ganhou destaque após o Le Monde denunciar o que chamou de “expulsão disfarçada” de Quénelle, pois na prática ele não poderá continuar fazendo seu trabalho no país. O jornalista teve seu credenciamento de imprensa suspenso em 16 de outubro de 2024, sendo oficialmente notificado do cancelamento em 30 de janeiro de 2025.

O governo russo justificou a decisão como uma resposta à recusa da França em emitir vistos de imprensa para supostos jornalistas do tabloide pró-Kremlin Komsomolskaya Pravda.

Segundo Paris, os indivíduos apresentados por Moscou não eram jornalistas, mas sim agentes dos serviços de inteligência russos.

A França, por sua vez, rejeitou o argumento russo de retaliação, afirmando estar sempre disposta a considerar pedidos de jornalistas russos legítimos.

Para França, decisão sobre jornalista do Le Monde é ‘inadmissível’

O Ministério das Relações Exteriores francês enfatizou em nota publicada nesta quinta-feira (6) que a decisão de Moscou é “inadmissível” e exigiu uma reconsideração imediata, alertando sobre uma possível resposta caso a medida não seja revogada. 

 A Federação Internacional de Jornalistas também se manifestou, criticando a ação russa como mais um caso em que a imprensa é feita refém por autoridades políticas.

Para o Le Monde , essa decisão arbitrária é um obstáculo à liberdade de informação, especialmente em um país onde jornalistas russos independentes enfrentam condições de trabalho cada vez mais difíceis.

Importância histórica

O caso é especialmente notável por marcar um hiato na história do Le Monde.

Desde 1957, o jornal manteve uma presença contínua em Moscou, mesmo durante os momentos mais tensos da Guerra Fria, realizando investigações e reportagens para informar seus leitores sobre a realidade russa.

O diretor do Le Monde, Jérôme Fenoglio, condenou a “expulsão disfarçada” de um jornalista que passou mais de 20 anos na Rússia.

O Le Monde assegurou a seus leitores que, apesar dessa revogação, continuará a cobrir as notícias políticas, econômicas e sociais da Rússia com informações confiáveis e independentes, trabalhando com Benjamin Quénelle e toda a equipe internacional.