Londres – O jornalista sueco  Joakim Medin, conhecido por seu trabalho investigativo no jornal Dagens ETC, foi condenado nesta quarta-feira (10) por um tribunal da Turquia a 11 meses e 20 dias de prisão, suspensa, pela acusação de “insultar o presidente” Recep Tayyip Erdogan.

A decisão, no entanto, não resultou em sua libertação imediata.

Mesmo com a sentença permitindo a liberdade condicional, o jornalista sueco permanece detido na prisão de segurança máxima de Mármara, em Istambul, desde que foi preso em 27 de março ao desembarcar na cidade, enfrentando outras acusações que podem levá-lo a cumprir até 27 anos de cadeia.

Acusações de terrorismo complicam situação do jornalista sueco condenado na Turquia

Além da acusação por insulto ao presidente, Joakim Medin está sendo processado por “pertencer a uma organização terrorista” e “divulgar propaganda terrorista”.

As autoridades turcas relacionam essas acusações à cobertura jornalística de um comício pró-PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), realizado em Estocolmo, em 2023.

Durante esse evento, um boneco representando Erdogan foi pendurado de cabeça para baixo em frente à Câmara Municipal da capital sueca.

O governo da Turquia alega que Medin esteve envolvido na organização do protesto e em “viagens suspeitas” às regiões curdas, o que ele nega veementemente.

Joakim Medin defende liberdade de expressão em julgamento na Turquia

Durante o julgamento em Ancara, conforme noticiado pela rede pública sueca SVT, o jornalista sueco defendeu-se dizendo que sua intenção jamais foi insultar o presidente.

Medin afirmou que Erdogan é uma figura pública que está no poder há duas décadas e que expressar opiniões a respeito do governo deve ser interpretado como exercício legítimo da liberdade de expressão — um direito garantido internacionalmente e fundamental ao jornalismo.

Organizações denunciam perseguição ao jornalista sueco condenado na Turquia

O caso ganhou repercussão internacional e gerou fortes reações de entidades de defesa da liberdade de imprensa.

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condenou a prisão de Medin, argumentando que o artigo usado para criminalizar o “insulto ao Presidente” é uma ferramenta recorrente do governo turco para reprimir jornalistas críticos.

Segundo Erol Onderoglu, representante da RSF na Turquia, a legislação utilizada viola padrões internacionais de direitos humanos e evidencia a perseguição política a profissionais da mídia.

A RSF pediu publicamente a libertação imediata de Joakim Medin e de outros jornalistas presos injustamente no país.

Em março, um correspondente da BBC foi expulso da Turquia, onde estava cobrindo a onda recente de protestos contra o governo Erdogan. 

Histórico profissional reforça relevância do jornalista sueco 

O jornalista sueco condenado na Turquia não é um novato no cenário internacional.

Correspondente especial do jornal Dagens ETC, Medin iniciou sua trajetória jornalística de maneira inesperada em 2009, quando presenciou um golpe militar em Honduras durante uma viagem à América Latina.

Na ocasião, ele abandonou sua carreira de professor de história e educação cívica e passou a atuar como fotógrafo para um jornalista americano, descobrindo ali sua verdadeira vocação.

Desde então, consolidou sua carreira com diversas publicações e reconhecimento por sua dedicação em campo, sendo descrito por colegas como um repórter incansável, comprometido com a apuração rigorosa e com a missão de dar voz aos silenciados.

Ao longo de 15 anos de carreira, Joakim Medin publicou livros que tratam de temas sensíveis como a autonomia curda na Síria, o autoritarismo na Hungria e até o turismo sexual praticado por cidadãos suecos na Tailândia. 

 O caso do jornalista sueco condenado na Turquia reacende o alerta sobre os limites cada vez mais estreitos da liberdade de imprensa na Turquia, onde dezenas de jornalistas seguem encarcerados por desempenharem suas funções.