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Jornalismo sob pressão

Trump processa New York Times por difamação e pede US$ 15 bi: veja outras ações do presidente contra a mídia

Presidente dos EUA faz visita de 3 dias ao Reino Unido dias após o embaixador do país nos EUA ser demitido por envolvimento com Jeffrey Epstein

Donald Trump com bandeira dos EUA ao fundo ao anunciar aumento de tarifas de importação atingindo vários países, incluindo o Brasil

Donald Trump em poster do Libertation Day, dia em que os EUA impuseram tarifas de importação causando abalos nos mercados financeiros globais (divulgação @POTUS)



O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a abertura de um processo judicial de US$ 15 bilhões contra o jornal The New York Times, quatro de seus jornalistas e a editora Penguin Random House.

A ação, movida na Flórida, acusa os réus de difamação e calúnia, alegando que publicaram informações falsas e maliciosas sobre sua família, seus negócios e sua trajetória política.

O processo se soma a uma série de ações judiciais que Trump tem movido recentemente contra grandes empresas de mídia. Nos últimos meses, ele já processou o Wall Street Journal, a CBS/Paramount e a ABC News, em uma estratégia que seus aliados descrevem como uma “reconquista da verdade” e que críticos veem como uma tentativa de intimidar a imprensa.

Em sua rede social Truth Social, Trump justificou a ação com declarações inflamadas, dizendo (em letras maiúsculas) que tinha a “grande honra” de anunciar o processo contra o jornal.

“O New York Times teve permissão para mentir, difamar e caluniar livremente por muito tempo, e isso acaba, AGORA!”

Ele também acusou o jornal de ser um “porta-voz virtual do Partido Democrata da Esquerda Radical” e de ter publicado mentiras sobre os movimentos políticos que lidera, como America First e MAGA.

Segundo Trump, a cobertura editorial do jornal nas eleições de 2024 — especialmente o apoio à vice-presidente Kamala Harris — configuraria “a maior contribuição ilegal de campanha, SEMPRE”.

Procurado por agências como Reuters e CNN, o jornal preferiu não comentar.

Livro sobre Trump é um dos motivos do processo

Entre os elementos centrais da ação está o livro “Perdedor Sortudo: Como Donald Trump Desperdiçou a Fortuna do Pai e Criou a Ilusão de Sucesso”, publicado pela Penguin Random House e escrito por jornalistas do próprio New York Times.

Lançado antes das eleições de 2024, o livro traça um perfil crítico da trajetória empresarial de Trump e é citado como peça-chave da alegada difamação.

A escolha da Flórida como jurisdição para o processo também gerou debate. Embora Trump tenha fortes vínculos com Nova York — sede do New York Times — e com Washington, onde atua como presidente, ele optou por abrir a ação em um tribunal estadual da Flórida.

Analistas jurídicos apontam que o estado tem adotado reformas que facilitam ações por difamação, especialmente envolvendo figuras públicas.  Por outro lado, Trump já perdeu processos envolvendo a mídia em tribunais de Nova York.

Trump x Wall Street Journal

O processo contra o New York Times é apenas o mais recente em uma série de ofensivas judiciais de Trump contra veículos de imprensa.

Em julho, ele processou o Wall Street Journal, pedindo US$ 10 bilhões sob alegação de difamação após a publicação de uma notícia sobre uma mensagem de aniversário supostamente enviada por ele a Jeffrey Epstein.

A ação também incluiu os repórteres envolvidos e Rupert Murdoch, dono da News Corp. e da Fox News, emissora que sempre apoiou o atual presidente em campanhas e em seu primeiro mandato. O original da mensagem foi entregue na semana passada a uma comissão no Congresso pelos administradores do espólio do pedófilo.

Na visita de Estado ao Reino Unido prevista para começar nesta terça-feira (16), o caso Epstein está em plena ebulição. Na semana passada, o primeiro-ministro Keir Starmer foi obrigado a demitir o embaixador do país nos EUA, Peter Mandelson, depois de evidências constrangedoras de sua amizade com o pedófilo.

Acordos milionários com CBS e ABC

Em agosto, a CBS/Paramount concordou em pagar US$ 16 milhões em um acordo após ser processada por editar uma entrevista com Kamala Harris no programa 60 Minutes, o que Trump alegou ter favorecido a então candidata democrata.

O caso gerou um caos na emissora, com demissões e o fim do lendário programa noturno Late Show, estrelado por Stephen Colbert. O apresentador havia criticado o acordo feito com Trump.

Já a ABC News e o jornalista George Stephanopoulos também enfrentaram uma ação por uma entrevista considerada manipulada, que resultou em um acordo extrajudicial de US$ 15 milhões.

Esses processos refletem uma estratégia agressiva do presidente para confrontar o que ele chama de “mídia tradicional mentirosa”.

Nos 100 dias do presidente no cargo, a organização Repórteres Sem Fronteiras fez um alerta sobre o conjunto de movimentos contra a mídia, envolvendo processos judiciais que podem ser custosos e longos, e também agressões verbais e o corte de recursos para mídias de serviço público que operam nos EUA e o exterior, como a NPR e a Voice Of America. 

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