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Da 350.org

Lula defende justiça climática na ONU, mas petróleo na Amazônia ameaça liderança do Brasil rumo à COP30

Em Nova York, presidente Lula falou de justiça climática e conclamou líderes a assumirem compromissos com o planeta

Barco de pescadores com faixa contra exploração de petróleo na Amazônia

Foto: Mariana Abdalla / divulgação 350.org



A organização não-governamental 350.org publicou em 23 de setembro uma análise crítica sobre o discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, no qual ele defendeu justiça climática, redução de dívidas externas, taxação dos super-ricos e citou queda de 50% no desmatamento.

Lula em discurso durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York 2025

Mas a organização criticou a omissão do tema dos combustíveis fósseis, lembrando que o Brasil busca ampliar a exploração de petróleo na Amazônia, inclusive na foz do Rio Amazonas, o que ameaça ecossistemas, comunidades tradicionais e a liderança brasileira na COP30.


Leia aqui a íntegra do comunicado

A seis semanas da COP30 na Amazônia, a 350.org saúda o discurso do presidente Lula, que defendeu justiça climática global, cobrando que países historicamente mais emissores assumam sua responsabilidade, tornando a COP30 a “COP da verdade” e exigindo metas climáticas (NDCs) de todos os países, além de ouvir e respeitar as vozes do Sul Global.

Lula ressaltou a importância de tratar com cuidado a exploração de minerais críticos, destacou a relevância da Amazônia para o mundo, pediu alívio da dívida externa e taxação justa dos super-ricos, e enfatizou que chegou a hora de passar à implementação, citando também a redução de 50% do desmatamento no último ano.

No entanto, ignorou que o Brasil é hoje um dos maiores emissores de gases de efeito estufa e planeja se tornar o quarto maior produtor de petróleo do mundo, uma ambição defendida pelo presidente, e não mencionou a necessidade de acabar com os combustíveis fósseis nem de avançar numa transição energética justa.

Novos licenciamentos para exploração de petróleo e gás na Amazônia foram concedidos pelo governo brasileiro há apenas alguns meses, e Lula continua pressionando pela liberação de um projeto de exploração na foz do Rio Amazonas, que argumenta que trará desenvolvimento econômico e financiará a transição energética – uma completa contradição com a realidade e as palavras e a retórica do discurso de hoje.

“Para que a justiça climática e o Sul Global possam realmente prosperar, os combustíveis fósseis não podem ser a resposta”, afirmou Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina. “É simples: não há redução no desmatamento que irá superar as emissões de carbono do petróleo e do gás, e não se pode reivindicar liderança climática enquanto se expande a destruição da Amazônia.

Para começar a falar em transição energética justa, o Brasil precisa parar de apostar nos fósseis e apresentar um Plano Nacional de Transição Energética (PLANTE) com metas concretas e que coloque as comunidades indígenas e tradicionais e seus territórios no seu centro. Sem essa mudança, a credibilidade do governo será sempre questionada.”

Povos indígenas, comunidades tradicionais e organizações da sociedade civil defendem que uma transição energética justa deve priorizar áreas de alta biodiversidade e sensibilidade ambiental, como a Amazônia, e deve ser construída com um plano claro que não dependa da expansão de petróleo e gás nem do financiamento de combustíveis fósseis.

Manifestação de pescadores amazônicos

O discurso de Lula ocorre poucos dias após comunidades de pescadores amazônicos do Marajó enfrentarem as gigantes do petróleo, destacando os danos que seriam causados caso os projetos de exploração avançassem.

No domingo, 21 de setembro, os moradores de Jubim formaram uma linha simbólica de barcos na própria foz ameaçada, com uma faixa gigante exigindo: “COP30: AMAZÔNIA EM PÉ, PETRÓLEO NO CHÃO”.

O projeto de exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas ameaça diretamente os pescadores de Jubim, na Ilha do Marajó, ao colocar em risco os ecossistemas marinhos e os estoques de peixe dos quais dependem para sobreviver.

Um vazamento de óleo – ou mesmo a simples presença da indústria – pode comprometer a qualidade da água, afastar os peixes e destruir modos de vida tradicionais construídos ao longo de gerações.

Para quem vive da pesca, a abertura dessa nova fronteira de exploração representa não apenas uma crise ambiental, mas também uma ameaça existencial à segurança alimentar e econômica da comunidade.


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