Familiares de estrelas já falecidas como o ator Robin Williams e de personalidades históricas como os ativistas Malcom X e Martin Luther King estão entre os que se revoltaram contra o aplicativo Sora2, a mais recente novidade da empresa de inteligência artificial OpenAI, dona do ChatGPT.
O Sora 2 permite criar vídeos realistas de inteligência artificial a partir de texto. A ferramenta consegue recriar ambientes, objetos e até pessoas reais com muita fidelidade, o que desencadeou o uso massivo.
Lançado em 30 de setembro, o recurso viralizou e ocupou rapidamente o topo do ranking de mais baixados. No entanto, ele está no centro de uma crise que tem de um lado a empresa de tecnologia e de outro familiares de artistas e estúdios de audiovisual.
Por que tanta gente está contra o Sora2 da OpenAI?
A polêmica está no fato de que o aplicativo vem sendo usado para criar vídeos envolvendo pessoas famosas que já morreram, sem consentimento de familiares ou de seus representantes legais, que detém direitos de imagem sobre as suas obras e zelam pela memória deles.
Alguns dos casos com maior repercussão envolvem Malcom X, Robin Williams, Amy Winehouse, Elvis Presley, Michael Jackson e Whitney Houston.
Além do simples uso da imagem, estas pessoas vem sendo colocadas em situações desrespeitosas.
Entre as criações feitas com o Sora2 destacam-se negativamente um vídeo que Whitney Houston parecendo estar sob efeito de drogas e outro faz Martin Luther King Jr. emitir sons de macaco durante seu famoso discurso “I have a dream”.
Filha de Robin Williams protestou contra o Sora2
Zelda Williams, filha do ator Robin Williams, publicou uma mensagem no seu Instagram pedindo para que as pessoas parassem de enviar a ela vídeos de seu pai criados com a ferramenta. “Não é o que ele gostaria”, disse.
Por sua vez, a filha do líder do movimento em defesa de direitos civis Malcom X, Ilyasah Shabazz, afirmou em entrevista ao jornal americano The Washington Post que vídeos são desrespeitosos.
“É profundamente desrespeitoso e doloroso ver a imagem do meu pai ser usada de maneira tão insensível, quando ele dedicou sua vida à verdade.”
O que diz a OpenAI
Inicialmente, a OpenAI afirmou que pessoas reais só poderiam ser retratadas com seu consentimento, à exceção de figuras históricas.
Com as críticas pelo uso da imagem de pessoas históricas de forma inadequada e sem consentimento, a OpenAI emitiu um pronunciamento ambíguo.
“Embora haja fortes interesses de liberdade de expressão na representação de figuras históricas, acreditamos que figuras públicas e suas famílias devem, em última instância, ter controle sobre como sua imagem é usada.
Para figuras públicas recentemente falecidas, representantes autorizados ou proprietários de seus bens podem solicitar que sua imagem não seja usada em participações especiais de Sora.”
No entanto, a empresa não especificou o que seria considerado recente e deixou aberta a possibilidade de interpretação de que apoia o uso de imagens de pessoas que morreram há bastante tempo.
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Sora fere direitos autorais?
Além dos vídeos com celebridades, outra questão controversa é o fato de que a ferramenta também cria vídeos que ferem direitos autorais, como com imagens de desenhos famosos, por exemplo.
O uso de materiais protegidos por direitos autorais para treinar inteligência artificial já era questionado, mas profissionais do meio afirmam que o Sora 2 escalou o problema.
A Universal Studios denunciou a plataforma publicamente, a Disney afirmou que nunca autorizou a Open AI a usar sua propriedade intelectual. Charles Rivkin, presidente da Motion Pictures Association descreveu o que é feito com o Sora como “roubo flagrante de direitos autorais”.
Ele argumentou que a responsabilidade de impedir as violações cabe à OpenAI, e não aos detentores dos direitos. Isso porque o Sora opera de maneira que para que conteúdos não sejam reproduzidos, os detentores de direitos precisam excluir seus conteúdos.
Empresas de gerenciamento de artistas também fizeram coro às críticas à plataforma. A Creative Artists Agency (CAA) e a United Talent Agency afirmaram que o Sora 2 coloca seus clientes em riscos sem precedentes.
O CEO da OpenAI, Sam Altman reconheceu os temores e fez promessas vagas sobre reformas no sistema. Ele afirmou que a empresa permitirá um controle mais preciso aos detentores de direitos e que criará mecanismos para compensar os criadores.
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