Veículos de imprensa que cobrem o Pentágono, o Departamento de Guerra dos Estados Unido (antigo Departamento de Defesa), se recusaram a assinar a nova política de cobertura imposta pelo governo de Donald Trump e os jornalistas credenciados deixaram nesta quarta-feira (16) o prédio da instituição em bloco, dia em que o prazo de assinatura chegou ao fim.
Apenas um veículo, o One America News, assinou. Pelo menos outros 37 veículos de imprensa decidiram não formalizar fazer o mesmo.
A lista inclui até mesmo a Fox News, canal conhecido por apoiar o presidente e do qual o atual Secretário de Guerra, Pete Hegseth era comentarista.
O Pentágono havia informado que a não assinatura do documento implicaria na suspensão dos crachás de acesso dos repórteres.
Por volta de 16h, eles devolveram os crachás e iniciaram a saída em conjunto, levando caixas e bolsas com objetos pessoais que mantinham nas salas reservadas aos correspondentes.
Today the Pentagon Press Corps handed over our badges and walked out in unison in defense of the First Amendment. It’s an unprecedented attack on the public’s right to know and the end of one of the most professional press relationships in DC. pic.twitter.com/vAxRInhEfN
— Tara Copp (@TaraCopp) October 15, 2025
Por que os jornalistas não assinaram o documento
Na segunda-feira (13), diversos veículos publicaram pronunciamentos afirmando que não assinariam o documento porque ele fere os direitos garantidos pela primeira emenda da Constituição, que trata de liberdade de expressão e de imprensa.
Na ocasião, Pete Hegseth compartilhou o post no X da revista The Atlantic, do The New York Times e do Washington Post com um emoji de uma mão dando tchau.
— Pete Hegseth (@PeteHegseth) October 13, 2025
A Associação de Imprensa do Pentágono (Pentagon Press Association, no original em inglês) condenou as novas regras impostas pelo Pentágono assim que foram publicadas.
Por meio de nota, a entidade afirmou cobrir jornalisticamente assuntos da área de Defesa é um direito garantido pela primeira emenda da Constituição americana, e tentou negociar sobre as regras, sem sucesso.
De acordo com a organização, “as políticas parecem ter sido concebidas para sufocar a liberdade de imprensa”. Eles também afirmam que as normas têm o potencial de levar a processos judiciais contra os profissionais “por simplesmente fazerem seu trabalho”.
“A política transmite uma mensagem de intimidação sem precedentes a todos dentro do Departamento de Defesa, alertando contra quaisquer interações não aprovadas com a imprensa e até mesmo sugerindo que é criminoso falar sem permissão expressa – o que claramente não é.”
O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, afirmou na segunda-feira (13) que a assinatura do documento não significa que os veículos concordam com a nova política, apenas que a entendem.
Ele também criticou a postura dos profissionais de imprensa, dizendo que se vitimizaram online.
O que mudou nas regras de cobertura
No fim de setembro, o Pentágono já havia anunciado mudanças nas regras de cobertura da instituição. Na ocasião, foi informado que o Departamento de Defesa precisaria aprovar a publicação de qualquer material jornalístico, contendo informações privilegiadas ou não.
Segundo as normas divulgadas em setembro, as credenciais de todos os jornalistas seriam substituídas por novas e o jornalista que não assinasse um documento concordando com as novas regras estaria sob o risco de perder acesso ao Pentágono.
Na semana passada, um novo documento com orientações foi divulgado.
Desta vez, o órgão voltou atrás sobre a necessidade de concordar com as regras, mas ainda exige que os profissionais assinem um documento dizendo que “entendem” as normas.
Além disso, o novo documento do governo informa que a área de imprensa dentro do Pentágono será transferida.
Os jornalistas da Associação de Imprensa do Pentágono afirmaram terem sido pegos de surpresa por essa alteração e argumentam que a mudança vai deixá-los isolados.
Antes, em maio, o governo Trump restringiu o trabalho e a circulação de jornalistas no Pentágono. Naquele momento, as regras incluiam a limitação de circulação em áreas comuns e impunham escoltas obrigatórias.
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Justificativa e contra-argumentos
A justificativa usada pelo Departamento de Defesa para a mudança é a de proteção de informações secretas. Na visão do governo, o acesso de jornalistas poderia causar uma crise de segurança nacional.
A Associação de Imprensa do Pentágono rebate o argumento afirmando que os repórteres sempre usaram credenciais de identificação e nunca circularam por áreas restritas.
“A ideia de que repórteres estão rondando escritórios onde não são permitidos é simplesmente absurda”, diz comunicado divulgado pela organização na última semana.
One of the most striking things to me is that for decades, even amid the height of GWOT, Pentagon leaders saw the value and need of a standing press corps.
But now @SecWar is making multiple untrue claims about us and our work as part of his efforts to roll back that presence. https://t.co/yQyVz24lW3
— Konstantin Toropin (@KToropin) October 8, 2025
“Todos os governos desde Eisenhower [nos anos 1950] – incluindo o primeiro governo Trump – permitiu o mesmo nível de acesso”, relembram os jornalistas. “Este acesso da imprensa nunca causou o tipo de crise de segurança nacional temida pela atual liderança do departamento”.