O presidente da BBC, Amir Shan, enviou nesta segunda-feira (10) um um pedido de desculpas oficial ao Parlamento britânico pela edição considerada tendenciosa de um discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitindo o que foi apontado em um relatório sobre imparcialidade da rede.
Mas isso pode não ser suficiente para evitar consequências maiores. A equipe de Trump enviou uma carta à BBC na qual ameaça tomar medidas legais contra a empresa.
E o presidente atacou a rede britânica em um post na rede Truth Social, agradecendo ao jornal Daily Telegraph por ter “exposto esses jornalistas corruptos”. Ele afirma que o chefe da BBC, Tim Davie, saiu ou foi demitido por ser flagrado alterando seu discurso “perfeito”.
Na carta enviada ao Comitê de Cultura, Mídia e Esporte do Parlamento, Shan chamou a edição do discurso reproduzido em um programa antes das eleições de 2024, que eliminou uma parte da fala em que Trump pedia que os protestos fossem pacíficos, de “erro de julgamento”.
“Aceitamos que a forma como o discurso foi editado deu a impressão de um apelo direto à ação violenta. A BBC gostaria de pedir desculpas por esse erro de julgamento.”
Neste domingo (9), o diretor-geral da rede, Tim Davie, e a diretora-geral de jornalismo, Debora Turness, renunciaram. No entanto, eles não deixarão seus cargos imediatamente e seguem nas funções até que novos nomes sejam escolhidos e aprovados.
Os pedidos de demissão aconteceram após o jornal Daily Telegraph publicar um relatório interno da BBC a que teve acesso. O documento aponta falhas de imparcialidade editorial, incluindo na edição do discurso de Trump.
A acusação de corrupção foi rebatida pelo premiê britânico, Keir Starmer. O governo manifestou apoio à BBC, descrevendo-a como uma instituição “reconhecida internacionalmente”, rejeitando alegações de que a rede é “institucionalmente tendenciosa”.
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Reação de Trump
Logo após a publicação da carta, o presidente da BBC deu uma entrevista na qual comentou a posição do próprio Donald Trump. Shah disse que não sabe se o presidente dos Estados Unidos vai processar a empresa britânica de mídia.
“Ele é litigioso. Portanto, devemos estar preparados para todas as possibilidades”
Na entrevista, Shah foi perguntado se a BBC se desculparia diretamente a Donald Trump, ao que ele respondeu que a empresa recebeu comunicações diretas vindas da equipe de Trump e que está considerando responder.
Segundo a BBC News, a comunicação vinda de Trump incluiu uma ameaça de ação legal. O presidente americano já processou outras empresas de mídia em casos de difamação e acabou fazendo acordos para encerrar os processos.
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O que diz a carta do presidente da BBC
Em sua carta ao Comitê do Parlamento, o presidente da BBC relatou que a empresa recebeu mais de 500 reclamações desde a publicação do dossiê interno pelo Daily Telegraph. Segundo ele, a BBC está lidando com as reclamações “da maneira normal”.
Shah reconheceu que a empresa de mídia falhou no caso da edição do presidente Donald Trump, mas negou que a empresa não esteja agindo para resolver problemas de falta de imparcialidade. “Isso simplesmente não é verdade”, escreveu.
Entre as medidas adotadas pela BBC, o presidente destacou a publicação de correções, alterações em diretrizes, mudanças na liderança quando havia problemas estruturais e a adoção de medidas disciplinares formais.
Shah também explicou quais são os padrões e as diretrizes de publicação da BBC e como a questão do discurso do Trump foi analisado internamente. “Em retrospectiva, teria sido melhor tomar medidas mais formais”, escreveu.
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