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IA e direitos autorais

Em protesto contra nova lei britânica de IA, Paul McCartney grava música ‘silenciosa’

Projeto de lei colocou artistas contra o governo por defesa de direitos autorais, que seriam ameaçados com a regulamentação

Paul McCartney no palco durante turnê nos EUA

Paul McCartney está em turnê nos EUA (foto: divulgação Instagram)



Paul McCartney gravou uma faixa silenciosa para o álbum Is This What We Want?, protesto coletivo contra a proposta britânica de regulamentação da IA criticado por artistas que alertam para o risco de um futuro em que a música humana seja reduzida ao silêncio se os artistas não forem remunerados pelo seu trabalho.


Conhecido pelas melodias e letras que marcaram gerações, Paul McCartney surpreendeu ao gravar uma música silenciosa, em um protesto coletivo de celebridades musicais contra a nova legislação de inteligência artificial do Reino Unido.

A faixa, primeira do artista em cinco anos, tem 2 minutos e 45 segundos, compostas por longos silêncios intercalados por ruídos difíceis de identificar e que nem de longe lembram os clássicos do artista.

Ela integra a versão em vinil do álbum coletivo Is This What We Want? (Isso é o que nós queremos?) lançado em fevereiro por mais de mil artistas britânicos como forma de protesto contra mudanças propostas na legislação de direitos autorais.

A mensagem é  que, sem proteção desses direitos, o futuro da música pode ser o silêncio, ou as canções feitas apenas pela IA, que têm tomado conta das plataformas de streaming como a Deezer.

Música de Paul McCartney é a faixa bônus do protesto contra a lei de IA

A versão em vinil do álbum foi lançada em pré-venda e chega ao mercado no fim deste mês, por £ 28, destacando a criação de Paul como faixa-bônus.

Além do artista de 83 anos, que está em turnê pelos EUA, participam da iniciativa estrelas como Kate Bush, Damon Albarn, Annie Lennox, Sam Fender e Hans Zimmer.

Composto por doze faixas de silêncio absoluto, gravadas em estúdios e salas de concerto vazias, o disco traz títulos que, lidos em sequência, formam uma frase contundente:

“The British Government must not legalise music theft to benefit AI companies (O governo britânico não pode legalizar roubo de música para beneficiar companhias de IA)”

Todos os lucros do álbum, que está nas plataformas de streaming, têm sido destinados à ONG Help Musicians, que apoia profissionais da área em dificuldades.

O álbum alcançou o 38º lugar entre os mais baixados no país.

Para Ed Newton-Rex, compositor, ativista da justiça dos direitos autorais e um dos líderes da iniciativa, disse:

“Estou muito preocupado que o governo esteja prestando mais atenção aos interesses das empresas de tecnologia dos EUA do que aos interesses dos criativos britânicos”.

Por que os artistas estão protestando

O projeto de lei do governo britânico, que tem o objetivo de atrair investimentos de tecnologia para o país, foi recebido com revolta pelo setor cultural.

Se aprovado na forma original, ele alteraria a lei de direitos autorais para permitir que empresas de inteligência artificial utilizem obras protegidas — músicas, textos e imagens — de forma automática e autorizada.

Pela nova regra, o uso seria presumido como legal, e caberia aos autores que não desejassem participar ou que quisessem negociar preços procurar diretamente as empresas de tecnologia.

Muitos artistas consideram esse modelo inviável: os custos legais para contestar o uso seriam altíssimos e, na prática, seria impossível processar todas as companhias que recorrem a catálogos artísticos para treinar seus algoritmos.

O resultado, alertam, seria um cenário em que apenas os grandes nomes, com poder econômico e jurídico, teriam condições de defender suas criações, enquanto os menores ficariam sem meios de proteger sua obra.

Elton John contra a lei britânica de IA

Entre os artistas que têm se manifestado com mais veemência está Elton John, que chegou a ameaçar processar o governo caso a proposta avance.

Para ele, permitir que empresas de tecnologia usem obras sem autorização é um ataque direto à dignidade dos criadores e à própria sobrevivência da música como arte.

Sua postura firme tem dado ainda mais visibilidade ao movimento, mostrando que a resistência não se limita às novas gerações, mas envolve também ícones consagrados da cultura britânica, incluindo agora Paul McCartney e sua música silenciosa.

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