O boicote do futebol britânico às redes sociais, que começou com o time galês Swansea na última quarta-feira (7/4) ganhou mais força com a adesão de dois times: o Glasgow Rangers e o Birminghan City. A expansão da campanha eleva as pressões sobre as redes sociais em torno do racismo online. 

Até a Premier League, a principal liga de futebol do país, engajou-se oficialmente no movimento #NoRoomForRacism, pedindo um “basta”. E destacou a entrevista do jogador brasileiro Willian, do Arsenal e da seleção brasileira, que tem sido uma das vozes mais eloquentes a denunciar os abusos racistas na internet. 

Uma semana fora das redes

Ao anunicar o boicote, o Swansea disse que todos os funcionários e jogadores das equipes masculina, feminina e juvenil passariam uma semana sem postar no Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn, Snapchat, YouTube e TikTok. 

Outra adesão importante foi a de Jordan Henderson, capitão do Liverpool. Ele entregou o controle de suas contas de mídia social à Cybersmile Foundation, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o impacto do abuso online sobre as vítimas.

Ele chegou a considerar sair das redes, mas optou por um protesto diferente: 

“Quero usar minhas plataformas para tentar impulsionar uma mudança positiva.”

Há duas semanas, o astro do futebol francês Thierry Henry havia anunciado o fechamento de todas as suas contas em redes sociais, em protesto contra a falta de ação das plataformas digitais em relação ao racismo online. O Arsenal foi um dos primeiros a se manifestar, e a partir dali entrou mais diretamente na campanha. 

Henry virou um símbolo da luta contra o bullying e os ataques de cunho racial nas redes. Ele criticou o anonimato dos que fazem os ataques e cobrou das empresas de mídia digital o mesmo rigor aplicado aos que infringem direitos autorais. 

Adesão do Arsenal

O Arsenal optou igualmente por não fazer um boicote. Na semana em que o francês Henry saiu das redes, o clube anunciou que passaria a dedicar espaço em suas mídias sociais ao protesto contra o racismo nas redes, destacando imagens enviadas pelos fãs 

O protesto de Willian

Na quinta-feira (8/4) o jornal britânico The Times foi um dos que publicou uma longa entrevista do brasiliero Willian, que joga no Arsenal. A entrevista do atleta está também no site oficial do clube.

Ele disse que os trolls racistas precisam ser punidos severamente. E revelou que os abusos que ele e sua família sofreram o deixaram com medo de acompanhar suas contas de mídia social. 

O brasileiro disse que é hora de as autoridades do futebol e as empresas de tecnologia reforçarem seu discurso com uma ação mais forte. Willian acha que as empresas devem tornar obrigatório para os usuários o upload de um passaporte ou carteira de identidade para torná-los facilmente responsáveis ​​por suas ações.

 “Essas pessoas têm que pagar por isso”, disse Willian. “Se eles querem me criticar, eu aceito. Mas quando eles vêm atacar sua família com aquelas palavras que não posso dizer aqui, isso dói.

Ele desabafou, afirmando ficar abalado quando falam sobre sua família. 

“Foi muito difícil para mim porque tenho muitos amigos nas minhas redes, e passei a ver palavras horríveis contra minha família. 

Depois disso, basta. Você tem que tentar algo para agir contra o racismo e o abuso online. 

Precisamos que as autoridades ajam. A Premier League, a Uefa e a Fifa têm que nos apoiar.”

Na França, o problema é o assédio a mulheres

O documentário “Não sou uma vadia, sou uma jornalista!”, veiculado pela TV francesa, caiu como uma bomba contra os abusos sexuais no jornalismo esportivo na França. A autora é Marie Portolano, que resolveu denunciar o assédio que ela própria sofreu, perpetrado por um dos mais renomados comentaristas esportivos do país, Pierre Ménès.

 

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Os abusos recentes 

Vários jogadores do Swansea, que iniciou o protesto de forma coletiva, sofreram abusos raciais recentemente. Um deles foi Jamal Lowe, alvo de abusos no último fim de semana. O clube tem mais de um milhão de seguidores no Twitter.

Julian Winter, o presidente-executivo do Swansea, disse ter pedido mais vigilância e punições mais rígidas em cartas ao CDO do Twitter, Jack Dorsey, e ao fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

Na quarta-feira, o Liverpool classificou de abominável o abuso racial sofrido pelos jogadores Trent Alexander-Arnold, Naby Keita e Sadio Mané nas redes sociais. O time condenou os responsáveis pelo ato, cometido após a derrota na Liga dos Campeões para o Real Madrid. 

No Rangers, a vítima foi Glen Kamara. Ele revelou ter sido atacado diariamente desde que denunciou o abuso racista contra Ondrej Kudela. Esse caso ocorreu  durante uma partida da Liga Europa no mês passado.
Em entrevista ao The Times, Sam Allardyce, técnico do West Bromwich Albion, revelou que seu atacante Callum Robinson recebeu mais de 70 mensagens de natureza discriminatória nas redes sociais depois de marcar dois gols contra o Chelsea no fim de semana. Robinson relatou uma resposta racista a uma de suas mensagens no Instagram. O clube relatou o incidente à polícia, que está investigando.

O técnico Allardyce cobrou ação:

“A solução só pode ser alcançada pelo governo e pelas pessoas que administram esses sites, que estão claramente negligenciando sua responsabilidade de eliminar essas formas de discriminação e comentários racistas ”.

Stewart Robertson, diretor do Rangers, disse que a diretoria e o clube apoiaram totalmente o protesto. Ele também defendeu que os usuários das mídias sociais sejam obrigados a confirmar a identidade como parte do processo de inscrição, para que haja mais responsabilidade.

“Tenho falado com uma ampla gama de clubes em todo o Reino Unido. Sabemos que essas preocupações são compartilhadas por cada clube e é justo dizer que todos estão perdendo a paciência com a falta de ação das empresas de mídia social”, disse ele ao The Times. 

Um porta-voz do Facebook disse à imprensa britânica que a empresa excluiu muitos posts e contas por quebrar suas regras. Ele tornou a repetir as promessas anteriores de que medidas mais fortes estão sendo implementadas.