A esperada reviravolta na compra do Chicago Tribune, prometida a um fundo de hedge e atrapalhada na última hora pela entrada em cena de um bilionário altruísta cuja motivação era “‘não ver outro jornal que tenha a chance de aumentar a quantidade de verdade sendo dita ao povo americano indo pelo ralo”, acabou não se concretizando. Hansjörg Wyss, de 85 anos, que havia mudado os rumos da negociação já avançada ao entrar no negócio em março, desistiu.

E na última segunda-feira o grupo foi mesmo para as mãos do Alden Global Capital, que já detinha 32% da empresa e conclui a aquisição por US$ 633 milhões.

Com a operação, tornou-se o segundo maior dono de jornais nos Estados Unidos, atrás apenas do Gannett, que controla o USA Today. Entre os veículos já controlados pelo Alden estão o Baltimore Sun e o Orlando Sentinel.

E as mudanças vieram rápido. Logo após a compra, o fundo de hedge aumentou a dívida do grupo em US $ 278 milhões, removeu o CEO Terry Jimenez e instalou seu próprio presidente, Heath Freeman, de 40 anos, para liderar a empresa.

Demissão voluntária 

E confirmando os temores da equipe de funcionários, que eram contra o Alden – e a Freeman – devido à reputação de cortes severos feitos em outras empresas jornalísticas adquiridas anteriormente, dois dias depois foi anunciado um plano de demissão voluntária.

O plano foi enviado na quarta-feira (26/5)  para funcionários não sindicalizados do Chicago Tribune e de outros jornais da Tribune Publishing. 

Segundo o próprio jornal noticiou, a oferta inclui 12 semanas de pagamento para funcionários qualificados com três ou mais anos de serviço contínuo, mais uma semana adicional de pagamento para cada ano com a empresa. Funcionários elegíveis com menos de três anos de serviço receberiam oito semanas de pagamento, de acordo com o plano.

A Tribune Publishing é obrigada a negociar um plano para os funcionários da redação sindicalizados diretamente com as guildas locais que os representam, de acordo com Jon Schleuss, presidente da NewsGuild-Communication Workers of America, cujos títulos locais representam o Chicago Tribune e outras redações da Tribune Publishing.

No ano passado, a Tribune Publishing já tinha reduzido sua força de trabalho em 30%, passando de 4.114 funcionários no final de 2019 para 2.865 funcionários no final de 2020, de acordo com os relatórios anuais da empresa. Esses cortes foram feitos ao longo do ano depois que o Alden havia comprado 32% do controle do grupo, implantando um programa para reduzir funcionários e despesas.

“Capitalistas  abutres”

A compra do Tribune pelo fundo Alden segue uma tendência dos últimos anos no país, com vários grupos de mídia americanos adquiridos por fundo de hedge e de private equity. E pode resolver o problema do desaparecimento de jornais regionais nos Estados Unidos.

O Alden não tem boa reputação. Segundo o New York Times, funcionários das publicações administradas pelo Alden por meio de seu braço jornalístico MediaNews Group descreveram o grupo como “capitalistas abutres”.

Eles afirmam que o modelo adotado pela empresa é o de fazer cortes severos para aumentar os lucros, usando como exemplos os casos do The Denver Post e do The San Jose Mercury News. O Alden contesta, afirmando que sem cortes os jornais fechariam. 

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Quando se tornou pública a possibilidade de o fundo comprar o Tribune, em 2020, o sindicado de funcionários do jornal chegou a fazer uma campanha para impedir a operação, conclamando empresários a assumirem a empresa.

Hansjörg Wyss, o bilionário suíço que tinha entrado na disputa, disse ao New York Times ter sido inspirado por um artigo publicado no jornal ano passado, assinado pelos repórteres do Chicago Tribune, David Jackson e Gary Marx. Eles afirmaram que a compra do Tribune pelo Alden levaria a “uma versão fantasma do The Chicago Tribune – um jornal que não consegue mais cumprir sua missão essencial de vigilância ”. Os dois deixaram o jornal.

Até políticos tinham entrado na briga. O democrata Chuck Schumer, líder da maioria no Senado americano, manifestou-se dizendo que a gestão de jornais regionais por fundos de hedge está tendo um impacto negativo na democracia americana. 

Mas desde o início a possibilidade de que o Tribune fosse para as mãos do grupo formado por Wyss e pelo empresário Stewart Baiman, dono da rede de hotéis Choice, era pequena. O Conselho do grupo recomendou que os acionistas votassem na oferta da Alden, o que acabou acontecendo na última segunda-feira. 

 

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