A Reuters News anunciou nesta quinta-feira (27/5) a decisão de adiar a adoção do paywall (pagamento por conteúdo) em seu site de notícias, que começaria no dia 1º de junho. O motivo é uma disputa com o provedor de dados financeiros Refinitiv em torno do contrato de fornecimento de notícias entre as duas empresas.

No dia 13 de maio, o London Exchange Group, dono do Refinitiv, enviou uma carta à direção da agência de notícias argumentando  que a cobrança de conteúdo “não era permitida” nos termos do acordo de venda. E que isso “causaria perdas significativas e materiais irreparáveis”.

Em uma reunião na quinta-feira (27/5)  a nova editora-chefe da Reuters, Alessandra Galloni, confirmou que a agência pausou o lançamento do site pago, bem como a introdução de uma nova seção de notícias jurídicas no site, enquanto conversa com o Refinitiv para resolver a situação.

Em um comunicado, um porta-voz da Reuters disse:

“Ainda estamos trabalhando em nossos planos para o relançamento do Reuter.com como um serviço de assinatura. As discussões com o Refinitiv são “sobre nossa abordagem de negócios e produtos, e como podemos melhorar nossa oferta para todos os clientes”.

O London Stock Exchange Group confirmou que as discussões estão em andamento. “A base de nossa parceria é forte e continuaremos a trabalhar juntos para atender a todos os nossos clientes”, disse em um comunicado.

Refinitiv responde por metade da receita da Reuters

O Refinitiv fazia parte da Thomson Reuters até 2018, quando uma participação majoritária foi comprada pela empresa de private equity Blackstone, em uma operação de US$ 20 bilhões. 

A transação incluiu um acordo de US$ 325 milhões por ano até 2048 para a Reuters fornecer notícias aos maiores clientes de serviços financeiros do Refinitiv, como JPMorgan, Wells Fargo, Bank of America e Goldman Sachs. O contrato estabelece cláusulas de não concorrência.

Em 2019, o Refinitiv foi comprado pelo grupo London Exchange.

Esse acordo representa mais da metade da receita da Reuters. O provedor apresenta a agência  como “o centro” de seus serviços de notícias, destacando ser “distribuidor exclusivo do conteúdo da agência de notícias para clientes de serviços financeiros”, afirmou em nota à imprensa.

Os planos da Reuters

Em abril, a Reuters tinha reformulado seu site, que atrai 41 milhões de visitantes únicos por mês, em uma tentativa de atrair um público profissional para suas notícias de negócios, financeiras e gerais.

Em seguida, anunciou o paywall. O valor da assinatura havia sido estabelecido em US $ 34,99 por mês, o mesmo que a assinatura digital da Bloomberg. 

A oferta, disponível em pacotes mensais ou anuais e individuais ou em grupo, também incluiria transmissões ao vivo de eventos da Reuters para assinantes e boletim informativo exclusivo.

Outros que adotam paywall

Ao justificar a adoção do paywall, a agência de notícias fez questão de lembrar que não está sozinha. Ressaltou que estava se igualando a outras empresas jornalísticas que á cobram pelo conteúdo. E citou os preços de alguns concorrentes no nicho do noticiário de negócios.

Além da Bloomberg, o Wall Street Journal, que em 1996 se tornou o primeiro a lançar um acesso pago, cobra US$ 38,99.

Há uma semana, a Bloomberg anunciou uma operação conjunta com o conglomerado de varejo Falic Media para criar um novo serviço de notícias, o Bloomberg Línea, também com paywall, voltado para a América Latina e Caribe. O Falic é um dos maiores varejistas da região, operando lojas Duty-free nos principais aeroportos americanos.

Entre os grandes jornais globais, a maioria cobra pelo conteúdo, como New York Times, Washington Post e Financial Times.

Geralmente, o acesso é livre para algumas matérias por mês. E têm sido oferecidos cada vez mais pacotes de assinatura promocionais, sobretudo depois da pandemia.

O líder mundial é o New York Times. O jornal ganhou 2,3 milhões de assinantes digitais em 2020, mais do que em qualquer ano anterior. E ultrapassou 7,5 milhões de assinaturas para seus produtos digitais e jornais impressos. 

“Maior transformação digital da Reuters em uma década”

O impasse com o Refinitiv é um baque para a agência de notícias. Seu diretor de marketing havia classificado o paywall como “a maior transformação digital da Reuters em uma década”. Ele disse:

 “Os profissionais precisam de acesso direto ao conhecimento da indústria, dados e percepções de fontes especializadas. A Reuters vai oferecer cobertura confiável, imparcial e precisa por meio de uma oferta premium.”

Paywall pode afastar leitores?

A cobrança por conteúdo não é unanimidade, embora venha sendo a solução adotada por grandes organizações em todo o mundo como caminho para a sustentabilidade. Diversos estudos mostram os riscos de perda de audiência, tanto pela limitação de recursos do público quanto pelo hábito de não pagar por notícias. 

Em pesquisa que ouviu cerca de 600 pessoas nos Estados Unidos e no Reino Unido para a edição do ano passado de seu relatório sobre Digital News, o Instituto Reuters concluiu que a principal motivação que leva um usuário a fazer uma assinatura é a convicção de que receberá informações com qualidade melhor do que as obtidas pelas fontes gratuitas.

Porém, o caminho é árduo. Outra pesquisa para o mesmo relatório, desta vez ouvindo mais de 8 mil pessoas nos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega, mostrou que metade dos respondentes ingleses e 40% dos norte-americanos disseram que nenhum argumento os convenceria a pagar por conteúdo.

 

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