Ao ilustrar a capa da Vogue britânica de julho, que chega às bancas nesta sexta-feira (4/6), a ativista Malala Yousafzai mostrou mais uma vez porque se tornou uma das figuras mais influentes da atualidade, mantendo-se longe de controvérsias e correspondendo às altas expectativas nela depositadas quando desafiou a repressão paquistanesa pelo direito de estudar.

As imagens foram feitas por Nick Knight, premiado fotógrafo de moda que já produziu campanhas e ensaios para revistas de marcas como Burberry, Chanel, Fendi, Christian Dior, Lancôme, Swarovski, Tom Ford, Calvin Klein e Yves Saint Laurent. 

Elas exploram a beleza do hijab, o véu usado por Malala, um posicionamento importante em um país onde o uso da vestimenta muçulmana chegou a ser ironizado pelo então Secretário do Exterior e atual primeiro-ministro, Boris Johnson. Em 2018, ele comparou mulheres de burca a “ladrões de banco” ou “caixas de correio”. Desculpou-se no ano seguinte, mas ficou marcado pela declaração.

 

 

 

 

 

 

Na chamada de capa, a Vogue não deixa dúvidas sobre o que a jovem de 23 anos representa. Além do óbvio “ativista”, usou as palavras “sobrevivente” e “lenda”, que não é exagero pelo que ela já conquistou – incluindo um Prêmio Nobel da Paz aos 17 anos. 

Nas redes sociais, Malala fez jus ao espaço recebido da Vogue, falando da força que cada menina carrega e que espera inspirar as que vejam a capa a saber que podem mudar o mundo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Do Paquistão para o mundo 

A vida de Malala tinha tudo para ser uma desgraça, como a de tantas outras meninas de sua idade vítimas de violência e radicalismo. Aos 15 anos, em 2012, levou um tiro de membros do Talibã em seu país natal, o Paquistão, em resposta a campanhas que fazia desde os 11 anos para permitir o estudo de mulheres. 

Virou símbolo da causa da educação das meninas, muitas proibidas de estudar por movimentos conservadores. 

O hijab fez parte da conversa com a Vogue. Ela explicou que para ela, o véu usado pelas muçulmanas representa mais do que sua fé religiosa. E que seu uso não significa apenas submissão.

“É um símbolo cultural para nós, pashtuns, por isso representa de onde venho. Meninas muçulmanas ou meninas pashtun ou meninas paquistanesas, quando usam roupas tradicionais, são vistas como oprimidas, ou sem voz, ou vivendo sob o patriarcado. Quero dizer a todos que é possível ter sua própria voz em sua cultura e igualdade em sua cultura.”

A entrevista é humana, mostrando incertezas e inseguranças típicas de quem desperta tanta atenção a cada movimento. Um movimento errado pode colocar muito a perder. 

A Vogue apresenta Malala como uma pessoa que apesar de toda a fama, tenta ser normal. Ela revelou ter se sentido solitária quando chegou ao Reino Unido e começou a estudar em uma escola de Birmingham, depois de ter virado celebridade. Ficava incomodada com perguntas dos colegas sobre seus encontros com famosos. 

Mas confessou o encantamento pela beleza de Brad Pitt, igualando-se a tantas outras meninas igualmente encantadas pelo astro de Hollywood.

Contou que antes de entrar para Oxford, em  2017, o diretor da faculdade em que foi estudar, o ex- editor do jornal Guardian Alan Rusbridger, se ofereceu para enviar e-mails aos alunos pedindo-lhes que respeitassem sua privacidade. Malala recusou, dizendo que não queria ser vista como a personagem de TV, e sim como qualquer outro aluno.

E disse não ter mencionado o Prêmio Nobel na declaração a Oxford pedindo a vaga, porque ficou “envergonhada”. 

Malala e a mídia 

Malala falou à Vogue sobre sua vida nas redes sociais. Revelou ter tido uma conta secreta no Twitter por um ano, com uns 4 mil seguidores. Hoje são mais de 1,8 milhões. 

Também sob pseudônimo – Gul Makai -, escreveu um blog para a BBC, contando como era viver sob o domínio do Talibã. Mas foi com a Apple TV que a jovem fechou um contrato, em março passado, para realizar programas que estão em fase de planejamento.

Na entrevista à Vogue ela antecipou que planeja um estilo divertido, “o tipo de coisa que assistiria”. Ao lado de documentários sobre questões sérias, como educação de meninas e direitos das mulheres, ela quer fazer comédias. 

Malala disse que também espera dar uma plataforma para talentos de todo o mundo. “Eu venho de uma origem diferente”.

E agora? 

Apenas 13 anos depois de começar a fazer campanhas pela educação das meninas no Paquistão, ela foi muito mais longe do que qualquer um poderia prever. E deve causar arrependimento aos que praticaram o atentado contra ela. Acabaram dando projeção global à causa da educação das meninas. 

Seu livro Eu Sou Malala virou best-seller.  A jovem discursou nos fóruns globais mais importantes e foi recebida por presidentes como Barack Obama. Mas contou à Vogue que joga videogames em seu quarto e adora o McDonald’s, como tantas meninas da sua idade. 

Recém-formada, disse não saber se continuará morando com os pais, se ficará no Reino Unido ou voltará para o Paquistão. Não sabe ainda se fará um mestrado.

Também disse não saber se vai se casar, e colocou em questão a necessidade de papéis para formalizar uma união. Contou que recebe propostas de casamento de pretendentes do país. 

São as incertezas típicas de quem acabou de sair da faculdade, com peso gigantesco de uma celebridade que demonstra conhecer o tamanho de sua responsabilidade. 

Perguntada pela Vogue sobre onde se vê daqui a 10 anos, respondeu que se questiona toda noite. E que que fica acordada pensando “o que vou fazer a seguir”? Boa pergunta. Mas a julgar pelos últimos anos, deve vir coisa boa. 

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