A ByteDance, empresa chinesa dona do aplicativo de vídeos TikTok, revelou em um comunicado interno para funcionários que sua receita subiu 111% em 2020 em comparação ao ano anterior, atingindo US$ 34,3 bilhões. A informação foi confirmada por fontes da empresa a várias agências internacionais, como Bloomberg e Reuters, embora não tenha sido divulgada oficialmente.

A alta no faturamento ocorre ao mesmo tempo em que movimentações da companhia alimentam notícias de uma abertura de capital, com um provável IPO na Bolsa de Hong Kong.

O lucro bruto aumentou 93%, para US$ 19 bilhões, mas foi registrado um prejuízo líquido de US$ 45 bilhões no mesmo período, que a empresa atribui a perdas não operacionais. No total, juntando todos os produtos, a ByteDance contabilizava em dezembro 1,9 bilhão de usuários mensais. O YouTube tem mais de 2 bilhões de usuários ativos.

Os vídeos curtos do TikTok, criado em 2016, tornaram-se uma febre mundial no ano em que a pandemia deixou boa parte do mundo confinada em suas casas. Além do aplicativo de vídeo – que na China se chama Douyin -, a Bytedance lançou vários outros aplicativos, incluindo a plataforma de agregação de notícias Jinri Toutiao, o aplicativo de informações sobre carros Dongchedi e a plataforma de educação online Dali, conhecida como Feishu na China.

Foto:Stefan Coders /Pixabay
Chegada de ex-executivo da Xiaomi sinaliza abertura de capital

As informações sobre os resultados positivos chegam no momento em que a empresa estaria preparando a abertura de capital. Evitando os mercados financeiros dos EUA em meio às contínuas tensões políticas com a China, a ByteDance teria optado por realizar sua oferta pública inicial na Bolsa de Valores de Hong Kong no segundo trimestre, segundo o portal de notícias financeiras chinês Caixin. 

A ByteDance optou por não se listar nos Estados Unidos porque os acionistas estatais da ByteDance podem fazer com que ela entre em conflito com o ambiente regulatório americano, disseram as fontes.

Em março, a ByteDance nomeou Chew Shou Zi, ex-presidente de negócios internacionais da gigante dos smartphones Xiaomi, como seu diretor financeiro. Chew comandou o IPO da Xiaomi como seu diretor financeiro em 2018. Sua nomeação alimentou especulações sobre os planos da ByteDance de abrir o capital.

Segundo o Caixin, os produtos da empresa ocupam uma fatia cada vez maior do tempo online do usuário médio chinês de internet móvel – cerca de 16%, perdendo apenas para a participação de 36% da Tencent Holdings no final de 2020. A Tencent possui o aplicativo multifuncional de mensagens e pagamentos WeChat.

No ano passado, o ByteDance se tornou a maior plataforma de publicidade da China, com receita de 150 bilhões de yuans (US$ 23 bilhões), em comparação com os menos de 100 bilhões de yuans gerados pela Tencent.

Caso o valor de mercado da empresa seja confirmado em US$ 300 bilhões, a ByteDance se tornaria a terceira mais valiosa empresa listada em Hong Kong, depois da Tencent Holdings e da Alibaba Group Holding. 

ByteDance na mira do governo chinês

No entanto, a ByteDance parece enfrentar dificuldades internas. O órgão regulador chinês tem escrutinado as atividades da empresa, como fez anteriormente com a gigante de comércio eletrônico Alibaba. 

Em abril, os reguladores chineses abordaram 13 plataformas online, incluindo a ByteDance, com regulamentações mais rígidas em suas divisões financeiras. O movimento é parte de um esforço mais amplo para controlar os gigantes da tecnologia do país.

As autoridades disseram que o objetivo é evitar o comportamento monopolista e a “expansão desordenada do capital”. A ação mostra uma mudança de comportamento, pois por muitos anos, Pequim encorajava o crescimento da indústria de tecnologia no exterior. 

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No mês passado, o fundador e até então CEO da ByteDance, Zhang Yiming, anunciou que iria abandonar a liderança da companhia, o que surpreendeu os empregados e o mercado.  Com 38 anos, Yiming disse que “não tinha as competências sociais necessárias para liderar a empresa”.

“Estou mais interessado na análise da organização e princípios de mercado e em utilizar estas teorias para reduzir os trabalhos de gestão em vez de gerir pessoas”, disse ele em um memorando enviado à equipe. “Ao mesmo tempo, não sou muito sociável, preferindo atividades mais solitárias como estar online, ler, ouvir música ou contemplar outras possibilidades.”

Ascensão do TikTok chamou a atenção do mercado

O crescimento rápido do aplicativo foi recebido pelo mercado como um sinal de que a tendência de vídeos curtos deixou de ser restrita a crianças e jovens postando conteúdo divertido para se estender a outras faixas etárias, com utilização em campanhas, notícias e serviço.  

Em novembro de 2017, o ByteDance adquiriu o popular (também com base na China) aplicativo rival, Musical.ly, por cerca de US$ 1 bilhão. O TikTok foi fundido com o Musical.ly em agosto de 2018, com as contas dos usuários do aplicativo migradas para suas contas do TikTok. 

Isso foi visto como uma forma de o aplicativo chinês entrar no mercado americano, onde o Musical.ly já era popular. A GlobalWebIndex estimou a penetração global doTikTok em 18% dos usuários globais da Internet com idade entre 16 e 64 anos.

A empresa chinesa registrou, no entanto, um prejuízo líquido de US$ 2,1 bilhões, o equivalente a 1,76 bilhões de euros. Em 2019, a dona do TikTok havia registrado lucro líquido de US$ 684 milhões, mas informou que não foram perdas relacionadas à operação. 

TikTok foi pivô de batalha jurídica de Trump contra a China

Fora de seu país de origem, a ByteDance também enfrenta questionamentos. Em 2020 o TikTok esteve no centro de uma batalha geopolítica entre os Estados Unidos e a China, com o ex-presidente Donald Trump ameaçando banir o aplicativo do país, alegando que seria um instrumento para espionagem de seus usuários, o que a empresa negou.

A proibição teve sua legalidade questionada e nunca entrou em vigor, embora tenha servido como bandeira política na campanha eleitoral americana. 

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos disse apenas que analisaria os aplicativos projetados e desenvolvidos por aqueles que estão “sob a jurisdição de um adversário estrangeiro”, como a China.

O atual ocupante da Casa Branca, Joe Biden, revogou a ordem executiva direcionada ao TikTok e também ao WeChat, mas manteve o escrutínio a aplicações e serviços que possam representar algum risco à segurança do país.

O TikTok já enfrentou suspensões em vários países, como Índia, Indonésia e Paquistão.

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