Os 50 anos de Julian Assange, neste sábado (3/7), foram marcados por protestos em várias cidades do mundo pedindo que sejam retiradas as acusações contra ele. O australiano que revelou segredos de Estado dos americanos para a imprensa mundial está há quase uma década longe dos holofotes, tendo passado sete anos refugiado na embaixada do Equador em Londres.

Desde 2019 encontra-se em uma prisão de segurança máxima no Reino Unido, seriamente doente segundo familiares e advogados. 

Enquanto ele aguarda o julgamento de recursos na sua batalha com os Estados Unidos, que pedem a sua extradição para julgá-lo em solo americano, do lado de fora e nas redes sociais as manifestações aconteceram. Sua companheira, a advogada Stella Morris, criou uma ‘Semana Assange”, incentivando ativistas e entidades a promoverem atividades para chamar a atenção para o caso em várias cidades do mundo. 

Em Londres, onde se concentram muitos apoiadores do fundador do Wikileaks devido ao tempo em que passou na Embaixada, foi organizado um piquenique nos jardins em frente ao Parlamento, na área central da cidade. 

Os organizadores levaram um bolo de aniversário, e a estilista Vivienne Westwood esfregou pedaços no rosto para protestar conta o que chamou de “um mundo doente”.  Stella Morris estava presente com os dois filhos que teve com Julian Assange enquanto ele estava asilado na embaixada equatoriana. 

Em Frankfurt, houve um protesto diante do consulado americano, com ativistas pedindo que as acusações contra Assange sejam retiradas. 

Em Berlim, a manifestação aconteceu diante do Portão de Brandenburgo, área central da cidade, com defensores da liberdade de Assange usando máscaras com o seu rosto. 

Na Itália, um grupo de parlamentares fez um ato na sessão do dia 30/6 clamando pela libertação. Uma manifestação foi convocada para o dia do aniversário em Roma. 

Assange responde a 17 processos movidos pelo governo americano envolvendo acesso e vazamento de documentos confidenciais sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. No dia 4 de janeiro, a Justiça britânica negou o pedido de extradição, mas não concedeu a libertação mediante fiança. 

Se condenado, ele pode ser sentenciado a até 175 anos de prisão. Na Austrália, uma coalizão de parlamentares têm feito pressão para que o Governo aceite Julian Assange de volta ao país.  

Segundo sua companheira, ele está com a saúde debilitada, mantido sob forte segurança, quase sem acesso a visitantes. No dia 29 de junho, um grupo de parlamentares britânicos, com a participação do ex-líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, entregou uma carta na prisão de Belmarsh pedindo acesso a ele por videochamadas.

Na tarde deste sábado, Corbyn usou o Twitter para se manifestar sobre o ativista. Ele afirmou que a prisão de um jornalista pelo Reino Unido e os esforços dos Estados Unidos para extraditá-lo mostram que os dois governos estão determinados a “suprimir verdades inconvenientes”.   

Em abril, no segundo aniversário da prisão de Assange, houve manifestações em várias cidades do mundo, como parte da campanha para impedir a extradição do fundador do Wikileaks para os Estados Unidos e conseguir sua libertação. Um dos protestos aconteceu diante da embaixada do Equador na capital britânica, onde ele permaneceu asilado entre 2012 e 2018.

Entidades criticam o que seria intimidação ao jornalismo

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) emitiu comunicado na sexta-feira (2/7) pedindo a soltura do ativista acusado de espionagem, citando uma “detenção prolongada e motivada politicamente”.

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“Condenar Assange abriria um precedente que prejudicaria seriamente a liberdade de expressão e o direito à informação”, afirma o secretário-geral da IFJ, Anthony Bellanger.

Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Human Rights Watch, Anistia Internacional e Comitê para a Proteção dos Jornalistas alertaram para o risco de uma condenação virar parâmetro para processos contra jornalistas, empresas de notícias e fontes que revelem segredos oficiais. Isso inibiria o jornalismo investigativo, ameaçado pelo peso de sentenças judiciais.

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Testemunha questionada 

No mais recente desdobramento do caso de Julian Assange, o jornal finlandês Studin revelou no dia 26 de junho que uma importante testemunha no caso do Departamento de Justiça dos Estados Unidos admitiu ter inventado acusações contra o fundador do Wikileaks. 

Segundo o jornal, Sigurdur Ingi Thordarson, que tem histórico de sociopatia e acumula condenações por abuso sexual de menores e fraude financeira, confirmou em entrevista ter sido recrutado pelas autoridades dos Estados Unidos para construir evidências contra Assange depois de induzi-los a acreditar que ele próximo a ele.  

Essa impressão foi transmitida porque Thordarson chegou a se envolver com o Wikileaks, só que para se aproveitar e não para colaborar. 

Em 2010, ele se ofereceu voluntariamente para arrecadar dinheiro para a organização, mas descobriu-se depois que usou essa oportunidade para desviar mais de US$ 50 mil. Ele também viajou apresentando-se como representante do Wikileaks de forma fraudulenta. 

O Stundin afirma que Thordarson agora admite que Assange nunca lhe pediu para hackear ou acessar gravações telefônicas de parlamentares, como disse às autoridades americanas. 

Sua nova versão para a história é a de que recebeu alguns arquivos de uma pessoa que alegou ter gravado conversas de parlamentares. E que se ofereceu para compartilhá-los com Assange.

O jornal diz que a testemunha sustenta que nunca verificou o conteúdo dos arquivos ou mesmo se eles continham gravações de áudio, como sua fonte sugeriu. E que a informação dada às autoridades americanas de que Assange o instruiu ou pediu para acessar computadores a fim de encontrar as gravações é falsa.

Julian Assange esteve na Islândia no mesmo período em que os fatos relatados por Thordarson às autoridades americanas ocorreram, devido ao seu trabalho com a mídia islandesa e membros do parlamento na preparação da Icelandic Modern Media Initiative, um projeto de liberdade de imprensa que produziu uma resolução parlamentar apoiando denunciantes e jornalismo investigativo. 

Segundo a matéria do Stundin, o Departamento de Estado Americano teria usado a revelação de Thordarson  para reforçar a acusação de conspiração contra Assange em relação às suas interações com Chelsea Manning. 

“Como os fatos ocorreram quando ele estava na Islândia, os autores da acusação sentiram que poderiam fortalecer seu caso alegando que ele também estava envolvido em atividades ilegais lá”, afirma o jornal. 

O site Intercept amplificou a denúncia do Studin, o que provocou nova onda de protestos nas redes sociais em favor da libertação de Assange.

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