Pressionado por uma onda de críticas sobre a postura do governo em relação a manifestações de cunho nacionalista nas partidas da Eurocopa e sobre a falta de apoio ao ato dos jogadores de se ajoelharem em protesto contra o racismo no início dos jogos, o primeiro-ministro britânico Boris Jonhson anunciou na terça-feira que iria se encontrar com executivos do Twitter e do Facebook. 

O objetivo é cobrar mais ação das plataformas diante dos pesados ataques racistas dirigidos a três jogadores negros da seleção inglesa, Marcus Rashford, Jadon Sancho e Buyako Sako — que perderam pênaltis na final da Eurocopa contra a Itália, no último de domingo. 

Um porta-voz antecipou que Johnson instaria as empresas de mídia social a fazerem “tudo o que puderem” para identificar os responsáveis ​​pelo abuso racista de jogadores de futebol da Inglaterra, e que usará a reunião “há muito planejada” para reiterar a necessidade urgente de ação para lidar com discurso de ódio em suas plataformas antes da entrada em vigor da Lei de Danos Online, em tramitação no Parlamento. A reunião havia sido anunciada para a noite de terça-feira mas o governo não divulgou se ocorreu ou não, nem se alguma medida concreta foi negociada. 

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O primeiro-ministro foi uma das autoridades que tuitou conta os abusos na manhã seguinte à final, que decepcionou os ingleses. Mas sua manifestação acabou se voltando contra ele e contra Priti Patel, Secretária do Home Office, ministério que cuida de justiça e segurança pública. A reunião desta terça-feira é uma tentativa de reverter uma onda negativa que se agiganta a cada dia. 

Opiniões de ontem no Twitter têm efeito negativo hoje

Durante a Eurocopa, Boris Jonhson havia admitido que vaiar o hino dos adversários nos estádios era aceitável. E Patel se disse contrária aos jogadores se ajoelharem no início das partidas. 

O jogador Tyrone Mings está entre os que atacaram diretamente a secretária, acusando-a de não ter assumido posição no início do torneio, ao classificar o ato de se ajoelhar como um “gesto político”.

O prefeito da cidade de Manchester, Andy Burnhan, um dos políticos mais influentes do Partido Trabalhista britânico, de oposição, atribuiu os abusos ao incentivo do governo a uma guerra nacionalista, que se acentuou no país devido ao Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. 

Herói nacional 

Um dos jogadores atacados, Marcus Rashford, joga no Manchester United. Ele virou herói nacional em 2020 ao desafiar o governo em uma campanha para que as crianças continuassem recebendo alimentação mesmo com as escolas fechadas. O painel em homenagem a ele foi vandalizado, mas já foi recuperado. 

Nas redes sociais, só cresce o movimento de apoio aos três jogadores atacados, com a hashtag #RashfordSanchoSaka. Na outra ponta, posts relembrando frases ou atitudes racistas do primeiro-ministro se tornaram comuns nos últimos dois dias. 

Príncipe William se manifesta publicamente contra o racismo

A FA (Football Association), principal representante do futebol profissional no Reino Unido, tem sido dura com as plataformas de mídia social, recriminando a falta de atitude sobre os casos de racismo, que se repetem. Em abril, a entidade convocou um boicote às redes que envolveu os jogadores e os times, e acabou se espalhando para outras modalidades esportivas, como rúgbi e críquete. 

No dia seguinte à final da Eurocopa, a FA, que é presidida pelo príncipe William, voltou a pressionar as gigantes digitais a colaborarem com as autoridades identificando os autores de abusos, e removendo conteúdo ofensivo mais rapidamente. 

O príncipe William também se manifestou. 

A reunião de Boris Johnson com as plataformas pode não resultar em medidas práticas, mas será mais uma carga sobre as empresas que dizem estar removendo os posts abusivos, mas não na velocidade suficiente para evitar os danos causados aos atletas. 

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