Londres – Pela legislação sanitária britânica, animais com diagnóstico de tuberculose bovina devem ser sacrificados. Mas quando o animal não é um membro anônimo de um rebanho e deu a sorte de viver em uma era em que as mídias sociais ampliam o alcance do ativismo, a sentença de morte da alpaca Geronimo virou uma batalha que começou nas redes e saltou para o mundo real, com um protesto na tarde desta segunda-feira (9/8) em Londres. 

Geronimo, de oito anos, nasceu na Nova Zelândia e vive como animal de estimação da enfermeira e criadora de alpacas Helen Macdonald. Mora numa fazenda em Gloucestershire, sudoeste da Inglaterra. Em 2017, foi condenado depois de dois testes positivos para tuberculose bovina (BTB).

No entanto, a proprietária afirma que os testes foram falhos porque ele tinha recebido a vacina tuberculina, que teria produzido um falso positivo. O argumento não foi aceito pelas autoridades, e ela partiu para a Justiça, iniciando uma batalha que já lhe custou mais de £ 50 mil (R$ 350 mil).

E nas redes sociais iniciou-se o movimento “Salvem Geronimo!”. A simpática alpaca ganhou uma conta no Twitter, por meio da qual ativistas clamam pela sua vida. 

Até a manhã de 9 de agosto, mais de 97 mil pessoas haviam assinado uma petição pedindo ao primeiro-ministro Boris Johnson que impeça a morte do animal. 

Nada disso adiantou. Na quinta-feira passada (5/8), depois de uma decisão na Suprema Corte, foi expedido um mandado obrigando o sacrifício, que era para ter acontecido no domingo, mas que acabou sendo adiado. O  departamento de saúde animal tem 30 dias para cumprir a sentença.

Inconformados, defensores do animal convocaram um protesto para a tarde desta segunda-feira no centro de Londres, com a promessa de levar um grupo de alpacas treinadas para não se assustarem com multidões.

O ato foi organizado por membros da Born Free Foundation, da Alpaca Society e por um especialista em política de tuberculose bovina e veterinária,  Iain McGil. Os manifestantes se reuniram em frente à sede do Defra (departamento responsável por meio ambiente, alimentação e assuntos rurais).

Mas a chuva pode ter atrapalhado os planos. Apesar do barulho nas redes sociais e do interesse da imprensa, não havia muita gente. As prometidas alpacas não apareceram — apenas alguns cachorros se juntaram aos humanos no protesto. Geronimo foi outra ausência sentida. 

Caso vira constrangimento político 

O caso é comovente e colocou o governo perante uma escolha de Sofia – ou melhor, de Geronimo: aceitar o clamor da sociedade e descumprir a lei? Ou seguir o que determina a legislação e ser tachado de insensível? 

A veterinária-chefe do Defra, Christine Middlemiss, disse em entrevista à BBC que o órgão precisa seguir as diretrizes científicas, abatendo animais com resultado positivo para minimizar a propagação da “maior ameaça à saúde animal neste país”.

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Ela garante que os testes usados em Geronimo foram desenvolvidos para alpacas e que a chance de falso positivo é menor do que um por cento. 

O Ministro do Meio Ambiente, George Eustice, declarou-se a favor do sacrifício na semana passada e foi recriminado nas mídias sociais. Também pelas redes,  ativistas apelam para a interferência de Carrie, mulher do primeiro-ministro Boris Johnson e ativista ambiental, e ao próprio Johnson. 

Geronimo nas redes 

O debate sobre o destino de Geronimo nas redes sociais é intenso, com muita gente usando hashtags cono #Geronimo  e #savegeronimo para manifestar apoio  e pedir que a decisão seja revista. 

A campanha tem o engajamento não só de pessoas comuns, mas também de celebridades, como o apresentador Chris Packham e a atriz Joanna Lumley (do seriado Absolutely Fabulous).

Packham, que apresenta programas de meio ambiente, alertou para o risco de que o caso vire um desastre político e de relações públicas, caso a necropsia depois do sacrifício de Geronimo venha a revelar que no final das contas não tinha tuberculose bovina.

Seja qual for o desfecho, a julgar pelos comentários nas redes sociais, já virou. 

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