Londres – A Deutsche Welle (DW), emissora pública alemã, denunciou que um de seus editores foi caçado nesta quinta-feira (19/8) no Afeganistão pelas tropas do Taleban. Como o jornalista não foi encontrado por já estar na Alemanha, os radicais mataram um de seus parentes e deixaram outro gravemente ferido.

 A caçada a jornalistas é parte da repressão a opositores que ganhou força nos últimos dias no país, a despeito das promessas feitas pelo Taleban de que o trabalho da imprensa seria respeitado.

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A DW não revelou o nome do jornalista procurado e nem a localização da sua família, já que suas vidas ainda estão em risco. A organização é a emissora internacional da Alemanha, a décima maior do mundo e distribui conteúdo em 30 idiomas para uma audiência semanal de 250 milhões de pessoas. Abaixo, o tweet onde a DW denuncia o caso, afirmando que “o Taleban não se furta de cometer assassinatos seletivos de jornalistas e suas famílias“.

A emissora não especificou o motivo da caça ao jornalista, mas disse que os radicais o procuraram em diversas casas. Além dos parentes agredidos, outros conseguiram escapar e encontram-se em fuga. A DW disse que, até o momento, o Taleban já invadiu as casas de pelo menos três de seus jornalistas.

Ascensão do Taleban teve casos de jornalistas mortos e sequestrados

O caso acontece depois que o Taleban havia se comprometido a respeitar o trabalho da imprensa. Contudo, nas semanas anteriores à tomada do país pelo grupo foram registradas várias fatalidades. Toofan Omar, chefe da estação de rádio privada Paktia Ghag Radio, foi, segundo funcionários do governo, alvejado e morto a tiros por combatentes talebans.

O diretor do Centro de Mídia e Informações do Afeganistão, então um órgão da Presidência, Dawa Khan Menapal foi morto a tiros quando deixava uma mesquita em seu carro na capital afegã, em 2/8.

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Nematullah Hemat, da estação de televisão privada Ghargasht TV, teria sido sequestrado. Um colaborador do jornal alemão Die Zeit, o tradutor Amdadullah Hamdard, foi morto a tiros em Jalalabad no último dia 2.

o fotógrafo indiano Danish Siddiqui foi morto em Kandahar enquanto cobria um confronto entre combatentes do Taleban e as forças de segurança do governo, que acabaria sendo deposto. Siddiqui era reconhecido internacionalmente e já ganhara um Prêmio Pulitzer por seu trabalho. Abaixo, o tweet da Reuters registrando a morte do profissional.

Diretor da DW pede que governo alemão proteja jornalistas

O Diretor Geral da DW, Peter Limbourg, condenou o ataque à família de seu editor e pediu ao governo alemão que tome medidas para proteger os jornalistas.

“O Taleban está realizando buscas organizadas de jornalistas, tanto em Cabul quanto nas províncias. Esse assassinato de um parente de um de nossos editores mostra o perigo em que se encontram os jornalistas e suas famílias no Afeganistão.”

A Associação Alemã de Jornalistas (DJV) também está pedindo ao governo de Angela Merkel que tome uma atitude rápida para salvar os correspondentes locais afegãos que trabalhavam para a mídia ocidental e agora sofrem represálias, a exemplo das requisições feitas pelas imprensas americana e britânica.

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O presidente da DJV, Frank Überall, disse ser essencial que o governo salve esses jornalistas. Junto com outras organizações e veículos de comunicação como o Die Zeit, a Der Spiegel e a própria DW, a DJV encaminhou uma carta aberta pedindo que o governo estabeleça um programa de vistos de emergência e ofereça refúgio na Alemanha aos jornalistas perseguidos.

“A Alemanha não deve ficar parada enquanto nossos colegas são caçados e até assassinados.”

Repórteres Sem Fronteiras pede sessão especial da ONU

Em seu comunicado sobre a morte do parente de seu jornalista, a DW diz que o Taleban já demonstrou que nada valem as declarações de seu porta-voz Zabihullah Mujahid de que todos seriam perdoados.

Ela ressalta que a gravidade da situação fez com que a organização Repórteres Sem Fronteiras apelasse ao Conselho de Segurança da ONU para realizar uma sessão especial para abordar a situação perigosa dos jornalistas no Afeganistão.

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