Antes da cúpula do G7 da próxima semana sobre a situação no Afeganistão, anunciada pelo presidente dos EUA Joe Biden, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu neste sábado (21/8) um plano especial para evacuar jornalistas afegãos e defensores dos direitos humanos ameaçados no país. 

O comunicado emitido pela entidade critica os EUA pela sua “aparente prioridade única no Afeganistão: a evacuação de seus próprios cidadãos e ex-funcionários.”

Segundo a RSF, os planos de evacuação elaborados por outros países, inclusive europeus, estão sendo prejudicados pela forma como o acesso às aeronaves está sendo administrado. “Isso está bloqueando a evacuação das pessoas nas listas (fornecidas por ONGs como a RSF) de pessoas sensíveis que estão em perigo”, diz a entidade. 

Segundo a agência de notícas Reuters, o co-fundador do Taleban Mullah Baradar chegou a Cabul no sábado para conversas com outros líderes do grupo. E a embaixada dos EUA aconselhou os americanos no Afeganistão a evitarem viajar para Cabul aeroporto no sábado.

Os relatos de entidades e profissionais atuando no país são dramáticos, como mostra a reportagem da correspondente da emissora americana PBS, destacada pelo Comitê de Proteção a Jornalistas. Jane Fergurson classificou a situação como heartbreaking (de cortar o coração). 

A CPJ registrou o “pânico em massa” entre os profissionais de mídia afegãos, sobretudo as mulheres. Uma delas disse que não sabia se estaria viva quando a ajuda chegasse. 

No comunicado emitido neste sábado, a RSF pede o adiamento do fim das operações militares dos EUA no Afeganistão para além da data atualmente prevista. 

“Será materialmente impossível completar a evacuação de todas as pessoas em perigo, incluindo jornalistas afegãos, até 31 de agosto.”

Um dos objetivos do plano solicitado pela RSF é a criação de facilidades de acesso e identificação para jornalistas e defensores de direitos humanos que estão nas listas de diferentes países e organizações. Um corredor humanitário e um perímetro especial devem ser considerados, defende a organização. 

“A imagem dos Estados Unidos como país defensor da liberdade de imprensa e dos direitos humanos está em jogo”, disse o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. 

“Desde a eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos, sinais muito positivos foram enviados e iniciativas foram adotadas em muitos países. 

Esperamos agora que as disposições para a segurança de jornalistas afegãos em perigo correspondam a esses compromissos e aspirações. 

Estamos recebendo dezenas de pedidos de evacuação. Nosso problema hoje não é conseguir vistos nem vagas nos aviões. É  possibilitar o acesso dessas pessoas aos aviões ”.

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