Dúvidas sobre as circunstâncias do assassinato do repórter investigativo e apresentador de TV Peter de Vries, morto a tiros no centro de Amsterdã em julho, ainda pairam sobre a investigação, e geram também incômodo na emissora onde o jornalista holandês trabalhava, a RTL.

Após a manifestação pública de advogados do caso Marengo, uma investigação sobre crime organizado que teve colaboração de De Vries, a Câmara dos Representantes, espaço nobre do Parlamento holandês, que mantém ainda Câmara e Senado, decidiu parar as investigações e debater a condução dos trabalhos, tirando poder do ministro da Justiça, Ferdinand Grapperhaus.

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No caso Marengo, De Vries assessorou Nabil B., um ex-integrante da quadrilha do narcotraficante Ridouan Taghi que se tornou informante da polícia nos processos. O irmão e o advogado de Nabil foram mortos, e para os advogados do caso, esta trama deve ser considerada na investigação sobre a morte de De Vries.

No mês passado, eles pediram um “comitê independente” para apurar o atentado ao repórter e apresentador, jogando suspeição sobre o presidente da equipe investigativa, Tjibbe Joustra, ex-coordenador nacional antiterrorismo. Nesta semana, Grapperhaus já havia cedido e levado a investigação para o Conselho de Segurança Holandês (OVV).

O repórter e apresentador Peter de Vries, morto quando saía da estação de TV no centro de Amsterdã. (Reprodução)

“Vencemos a primeira batalha contra o Grapperhaus”, afirmou a equipe de defesa de Nabil no Twitter.

“Grapperhaus nunca teve dúvidas sobre a idoneidade e independência do sr. Joustra e dos membros de seu comitê”, disse um comunicado do ministério.

Programa do qual De Vries participava muda de endereço após ameaças à emissora

O programa Boulevard, da emissora, RTL, no qual De Vries era frequentador assíduo, tem sido gravado em outro local, fora das instalações na região de Leidseplein. O jornalista foi morto logo após deixar a emissora, no centro da capital holandesa.

As transmissões do RTL Boulevard são feitas desde 12/7 no Media Park, em Hilversum. A decisão de se mudar foi tomada depois que algumas transmissões foram canceladas devido a ameaças recebidas pela emissora.

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O município de Hilversum anunciou que vai prorrogar a designação do Mediapark e das ruas circundantes como uma área de risco de segurança por mais um mês. Essas medidas serão estendidas porque “a ameaça ainda não foi reduzida”.

O programa usa uma nova decoração, na qual parte do estúdio da Leidseplein foi incorporada. Telas também são usadas com imagens da cidade ao fundo, simulando a paisagem do boulevard que inspira o nome da atração.

Popular pela TV, De Vries foi estrela do jornalismo investigativo na Holanda

Peter R. de Vries, de 64 anos, era amplamente conhecido na Holanda por suas reportagens investigativas sobre crime organizado, e lutou mais de uma semana pela vida em um hospital depois de levar cinco tiros quando deixava o prédio da RTL, em 6/7.

A polícia prendeu suspeitos logo após o crime. No dia 8/7, um rapper de Roterdã foi acusado de ter disparado contra o jornalista.

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Delano Geerman, 21, que se apresenta como “Demper” ou “Slick” tem antecedentes criminais e participa de um canal no YouTube chamado 101Barz, acusado de glorificar a violência. 

O jornal De Telegraaf apontou ligações dele com um dos principais criminosos do país, Ridouan Taghi, alvo de investigações feitas por De Vries. Outro homem preso, o polonês Kamiel Egiert, de 35 anos, tem um mandado de prisão europeu pendente por furto e assaltos, emitido pela Polônia.

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