A beleza e os desafios da vida selvagem foram retratados em fotografias de natureza de vários países na 57ª edição do concurso Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano, organizado pelo Museu de História Natural de Londres.

O concurso mostra uma extraordinária diversidade e destaca a fragilidade da vida e da terra, e ainda como as pessoas devem pensar de forma diferente sobre sua relação com o meio ambiente.

Entre os finalistas estão imagens de uma leoa com a boca suja de sangue após abater uma caça, a pesca predatória na costa da Noruega, a destruição dos manguezais na Índia e também um jovem lince na Espanha.

Conheça algumas das fotos finalistas selecionadas pelo júri:


Categoria Foto de Animal
Momento cruel

Por Lara Jackson – Reino Unido

(Lara Jackson – Wildlife Photographer of the Year)

“O sangue vermelho brilhante escorria de seu focinho – sangue oxigenado, indicando que sua refeição de gnu ainda estava viva. Ela não comeu muito antes de deixar a matança para ir embora com o macho com quem ela estava deitada, aparentemente mais interessada em acasalar do que em se alimentar, mas com a pata ainda segurando o gnu, olhou para mim com um olhar intenso.

Deitada em um veículo especialmente adaptado, com as laterais dobradas para baixo, consegui enquadrar um close da leoa. Seu retrato captura a crueza do momento e a intensidade do seu olhar”.


Categoria Comportamento: Invertebrados
Bonito, mas mortal

Por Gil Wizen – Israel/Canadá

(Gil Wizen – Wildlife Photographer of the Year)

“A melhor maneira de fotografar uma fêmea de mosquito é deixá-la picar você”, diz o fotógrafo. E foi o que ele fez quando o mosquito Sabethes pousou em seu dedo.

“Fiquei imóvel enquanto o enquadrava. O mosquito, de cabeça erguida, se preparava para perfurar meu dedo. Consegui capturar, em simetria perfeita, destacando seu corpo como uma joia e asas irisdescentes contra o fundo neutro da minha roupa. Admito que sua mordida foi bastante dolorosa.”

Os mosquitos Sabethes, encontrados apenas na América Latina, têm 4 milímetros de comprimento e são ariscos. Só as fêmeas mordem — elas precisam de uma refeição de sangue para produzir ovos — e, com isso, podem atuar como vetores de doenças tropicais como a febre amarela e a dengue”.


Categoria Foto de Animal
Raposa Vermelha

Por Jonny Armstrong – EUA

(Jonny Armstrong – Wildlife Photographer of the Year)

“A raposa estava ocupada procurando na parte rasa por carcaças de salmão que morreram após a desova. Na beira da água eu estava deitado de bruços, mirando em um ângulo baixo e amplo. Ela era uma das duas únicas raposas vermelhas residentes na pequena ilha no Lago Karluk, na Ilha Kodiak, no Alasca, e era surpreendentemente ousada.

Por vários dias a segui e fiquei observando-a pegar amoras, atacar pássaros e mordiscar alegremente os calcanhares de um jovem urso marrom. Aproveitando que uma tempestade se aproximava, eu estava atrás de um retrato dramático.

Enquanto ela se aproximava, meu colega ergueu o flash difuso e isso foi o suficiente para despertar sua curiosidade, me dando a oportunidade de um retrato atmosférico – estilo estúdio – momentos antes da tempestade”.


Categoria Comportamento: Pássaros
Em Disputa

Por Jack Zhi – EUA

(Jack Zhi – Wildlife Photographer of the Year)

“Um gavião-peneira (White tale kite) jovem tenta agarrar um camundongo vivo das garras de seu pai. Mas esta jovem ave está voando há apenas dois dias e ainda tinha muito a aprender. Ela deve dominar a troca aérea de alimentos até que seja capaz de caçar por si mesma e mais tarde precisa realizar rituais de namoro aéreos.  

Para fazer a foto, tive que pegar a câmera e correr. O resultado foi o esforço de três anos de trabalho — a ação e as condições se encaixaram perfeitamente. Enquanto isso, a jovem ave errou, mas então circulou e agarrou o camundongo”.


Veja também 

As vencedoras do concurso Fotógrafo de Ciência do Ano

 

Categoria Comportamento: Mamíferos
O Grande Mergulho

Por Buddhilini de Soyza – Sri Lanka/Austrália

(Buddhilini de Soyza – Wildlife Photographer of the Year)

“Quando o bando de guepardos machos saltou no furioso rio Talek em Maasai Mara, Quênia, eu temi que não conseguissem. A chuva implacável e fora de época (possivelmente ligada à mudança climática) havia causado, em janeiro de 2020, a pior enchente de todos os tempos. As chitas são nadadoras fortes (se não afiadas) e, com a perspectiva de mais presas do outro lado do rio, elas estavam determinadas.

Esta união de cinco guepardos machos é uma das mais famosas da África. É chamada de ‘tano bora’ que significa os ‘cinco magníficos” em swahili, língua nacional do Quênia.

O líder entrou no rio algumas vezes, mas voltava. Trechos mais calmos — talvez com maior risco de crocodilos à espreita — foram rejeitados. De repente, o líder mergulhou e três os seguiram e, finalmente, o quinto. Eu os vi sendo arrastados pelas torrentes, os rostos fazendo caretas. Contra as minhas expectativas e para o meu alívio, todos os cinco conseguiram chegar na outra margem e logo começaram a caçar”.


Categoria Comportamento: Anfíbios e Répteis
O Final Emocionante

Por Wei Fu –  Tailândia

(Wei Fu – Wildlife Photographer of the Year)

“Preso nas espirais de uma cobra-dourada-da-árvore (Golden tree snake), uma lagartixa-de pintas-vermelhas (Red spotted tokay) permanece presa na cabeça de seu agressor em uma última tentativa de defesa.

Estava fotografando pássaros em um parque perto de casa em Bangcoc, quando minha atenção foi atraída pelo grasnado alto e os avisos sibilantes da lagartixa. Observei enquanto eles lutavam, mas em poucos minutos a cobra desalojou a lagartixa, enrolou-se firmemente em torno dela e a espremeu até a morte. Ainda pendurada no laço da cauda, ​​a delgada cobra começou o processo de engolir a lagartixa inteira.

As lagartixas tokay são grandes — até 40 centímetros de comprimento — vigorosas e têm mandíbulas poderosas. Mas também são as presas favoritas dessa espécie de cobra”.


Categoria Plantas e Fungos
Cogumelo Mágico

Por Juergen Freund – Alemanha/Austrália

(Juergen Freund – Wildlife Photographer ot The Year)

“Foi em uma noite de verão, na Lua cheia, após a chuva de monções, que encontrei o fungo fantasma, em uma árvore morta na floresta perto de casa em Queensland, Austrália. Eu precisava de uma tocha para ver a trilha, mas a cada poucos metros a desligava para procurar no escuro por um brilho fantasmagórico.

Poucas espécies de fungos são conhecidas por produzir luz dessa maneira, por meio de uma reação química: a oxidação da luciferina em contato com a enzima luciferase. Mas por que o fungo fantasma brilha é um mistério. Nenhum inseto parece ser atraído pela luz, que é produzida constantemente e pode ser apenas um subproduto do metabolismo do fungo”.


Categoria Oceanos
Perda Líquida

Por Audun Rikardsen – Noruega

(Audun Rikardsen – Wildlife Photographer of the Year)

“No rastro de um barco de pesca, uma mancha de arenques mortos e moribundos cobre a superfície do mar ao largo da costa da Noruega. O barco havia pescado muitos peixes e, quando a parede em volta da rede de cerco foi fechada e içada, ela quebrou, liberando toneladas de animais esmagados e sufocados.

Eu estava a bordo de um navio da guarda costeira norueguesa, em um projeto para identificar orcas por satélite. Para a guarda costeira — responsável pela vigilância da frota pesqueira — o espetáculo da carnificina e do desperdício foi efetivamente uma cena de crime.

Minhas fotos se tornaram a evidência visual em um processo judicial que resultou em uma condenação e multa para o proprietário do barco. A sobrepesca é uma das maiores ameaças aos ecossistemas oceânicos e, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 60 por cento das pescarias hoje estão em colapso, e quase 30 por cento estão no seu limite (pesca excessiva).

O arenque do Atlântico esteve perto da extinção, demorou 20 anos e quase se proibiu a pesca para que as populações se recuperassem, embora ainda seja considerado vulnerável à sobrepesca”.


Categoria Subaquática
Longas Antenas

Por Laurent Ballesta – França

(Laurent Ballesta – Wildlife Photographer of the Year)

“Em águas profundas, 78 m abaixo do nível do mar, na costa mediterrânea francesa, entre corais negros de água fria, encontrei uma visão surreal — uma comunidade vibrante de milhares de camarões Narwhal.

Suas pernas não se tocavam, mas suas antenas externas excepcionalmente longas e altamente móveis, sim. Parecia que cada camarão estava em contato com seus vizinhos e que, potencialmente, os sinais estavam sendo enviados por uma rede de longo alcance. Esse contato é fundamental para o comportamento social dos camarões, no acasalamento e na competição.

Contra o azul profundo do mar aberto, flutuando entre o coral negro emplumado (branco quando vivo), os camarões translúcidos pareciam excepcionalmente bonitos, com suas listras vermelhas e brancas, longas pernas laranja e antenas extensas. 

Quando a pesca do camarão envolve a pesca de arrasto de fundo em locais de águas profundas, ela destrói as florestas de corais de crescimento lento, bem como suas comunidades”.


Categoria Vida Selvagem Urbana
Emancipação

Por Sergio Marijuán – Espanha

(Sérgio Marijuan – Wildlife Photographer of the Year)

“Um jovem lince ibérico para na porta de um palheiro abandonado onde foi criado, em uma fazenda no leste de Sierra Morena, Espanha. Ele logo estará deixando o território materno.

Na Península Ibérica havia em 2002 menos de 100 linces na Espanha e nenhum em Portugal. Seu declínio foi impulsionado pela caça, matança por fazendeiros, perda de habitat e perda de presas (eles comem principalmente coelhos).

Graças aos esforços de conservação em curso — reintrodução, reflorestamento, reforço de presas e criação de corredores e túneis naturais — o lince ibérico escapou à extinção e, embora ainda esteja em perigo, está totalmente protegido. Apenas recentemente, com o aumento do número, eles começaram a tirar vantagem dos ambientes humanos.

Ele é um dos últimos em uma linhagem familiar a emergir do antigo palheiro. Depois de meses de espera, a armadilha fotográfica cuidadosamente montada finalmente me deu a foto que eu queria”.


Categoria Fotojornalismo
Uma Mão Carinhosa

Por Douglas Gimesy – Austrália

(Douglas Gimesy – Wildlife Photographer of the Year)

“Depois de se alimentar com leite em pó especial, um filhote de raposa voadora órfã deita, e é embalado na mão de um cuidador da vida selvagem. Ele tinha três semanas quando foi encontrado no chão em Melbourne, Austrália, e levado para um abrigo.

As raposas voadoras de cabeça cinzenta (Grey headed flying fox), endêmicas do leste da Austrália, são ameaçadas por eventos de estresse térmico e destruição de seu habitat florestal — onde desempenham um papel fundamental na dispersão de sementes e polinização.

Elas também entram em conflito com as pessoas, são apanhados por redes e arame farpado e eletrocutados por linhas de energia. Com oito semanas, o filhote será desmamado para a fruta, depois para o eucalipto em flor.

Depois de alguns meses ele vai se ‘matricular’ em uma creche e desenvolver sua aptidão para o voo, antes de ser transferido para perto da colônia de morcegos Yarra Bend de Melbourne, para eventual liberação”.


Categoria A Grande Imagem
Terras Úmidas

Por Rakesh Pulapa – Índia

(Rakesh Pulapa – Wildlife Photographer of the Year)

“Casas nos limites da cidade de Kakinada alcançam o estuário, protegida do mar pelos restos de um manguezal. O desenvolvimento já destruiu 90 por cento dos manguezais ao longo desta área costeira oriental de Andhra Pradesh, na Índia.

Mas os manguezais são agora reconhecidos como vitais para a vida costeira, humana e não humana. Suas raízes prendem matéria orgânica, fornecendo armazenamento de carbono, retardando as marés, protegendo as comunidades contra tempestades e criando viveiros para numerosos peixes e outras espécies das quais as comunidades pesqueiras dependem.

Voando com meu drone sobre a área, pude ver o impacto das atividades humanas — poluição, resíduos de plástico e eliminação de manguezais — mas esta imagem parecia resumir a cintura protetora e nutritiva que os manguezais fornecem para essas comunidades tropicais propensas a tempestades”.


Categoria 10 Anos ou Menos
Filhotes Confinados

Por Gagana Mendis Wickramasinghe – Sri Lanka

(Gagana Mendis Wickramasinghe – Wildlife Photofrapher of the Year)

“Três filhotes de periquito-anelado (Rose ringed parakeet chicks) colocam suas cabeças para fora do ninho quando seu pai retorna com a comida.

Quando tirei esta foto, ambos os pais estavam alimentando os filhotes. Só quando eles fugiram é que percebi que haviam cinco filhotes no ninho.

Também conhecidos como periquitos de pescoço anelado, esses papagaios de tamanho médio são nativos do Sri Lanka, Índia e Paquistão, bem como de uma faixa da África subsaariana, mas populações selvagens agora são encontradas em muitos países, incluindo o Reino Unido. Eles são frequentemente vistos em ambientes urbanos, onde às vezes até se reproduzem em buracos em paredes de tijolos”.


Categoria 11-14 Anos
Apollo Pousando

Por Emelin Dupieux – França

(Emelin Dupieux – Wildlife Photorapher of the Year)

“Quando o crepúsculo começa a cair, uma borboleta Apollo pousa em uma margarida. Há muito eu sonhava em fotografar o Apollo, uma grande borboleta da montanha com cerca de 90 milímetros de comprimento e agora uma das borboletas ameaçadas da Europa, em risco com o aquecimento do clima e eventos climáticos extremos.

No verão, de férias no Parque Natural Regional Haut-Jura, na fronteira com a Suíça, me vi cercada por prados alpinos cheios de borboletas, incluindo Apollo. Embora voassem lentos, os Apollos estavam em constante movimento. A solução foi esse poleiro de margaridas, em uma clareira na floresta, onde as borboletas se acomodavam.

Depois de vários ajustes de configurações e foco, finalmente consegui esta imagem. Os brancos se destacando em contraste absoluto e apenas manchas de cor – os corações amarelos das margaridas e os olhos vermelhos de Apollo”.


Categoria Arte Natural
Projeto Tóxico

Por Gherghe Popa – Romênia

(Gheorghe Popa – Wildlife Photographer of the Year)

“Este detalhe atraente de um pequeno rio no Vale Geamana, nas montanhas Apuseni da Romênia, me pegou de surpresa, nunca tinha me deparado com uma combinação tão impressionante de cores e formas.

Mas esses desenhos — talvez tornados mais nítidos pela chuva forte recente — são o resultado de uma verdade nua e crua. No final da década de 1970, mais de 400 famílias que viviam em Geamana foram forçadas a deixar o caminho para o lixo que fluía da mina próxima de Rosia Poieni — uma mina que explora um dos maiores depósitos de minério de cobre e ouro da Europa.

O pitoresco vale se tornou uma “lagoa de rejeitos” preenchida com um coquetel ácido, contendo pirita (conhecido como “ouro de tolo”), ferro e outros metais pesados, misturados com cianeto. Esses materiais tóxicos se infiltraram nas águas subterrâneas e ameaçam os cursos d’água.

Minha imagem — para chamar a atenção para o desastre ecológico — captura as cores elementares dos metais pesados ​​no rio e as margens radiantes desta paisagem chocantemente tóxica”.


Categoria Vida Selvagem Urbana
Magnetismo Natural

Por Jaime Culebras – Espanha

(Jaime Culebras – Wildlife Photographer of the Year)

“Quando avistei este marimbondo-caçador arrastando uma tarântula pelo chão de minha cozinha, em Quito, Equador, corri para pegar a câmera. Quando voltei, a vespa gigante — com quase 4 centímetros de comprimento – estava içando sua vítima pela lateral da geladeira. Esperei que ela se nivelasse com os ímãs, e então enquadrei.

Dizem que esse inseto têm uma das picadas mais dolorosas do planeta, mortal quando usada em uma aranha. Na verdade, eles se alimentam de néctar e pólen, mas as fêmeas também caçam tarântulas como alimento para suas larvas carnívoras.

A vespa injeta veneno em sua vítima por meio de um ferrão afiado e curvo, e a arrasta — paralisada, mas ainda viva — para seu ninho, onde deposita um único ovo em seu corpo. Quando o ovo choca, a larva penetra no corpo da aranha e a come viva, eventualmente emergindo como adulta”.


Inscrições para o próximo concurso começam em outubro

As inscrições para o 58º. concurso Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano começam no dia 18 de outubro e terminam dia 9 de dezembro. Podem participar fotógrafos de todas as idades e nacionalidades. Veja mais informações aqui.


*As imagens foram reproduzidas mediante autorização do Natural History Museum .

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