Londres – Uma nova forma de manipulação de informações para influenciar o mercado financeiro criou uma grande confusão para a rede varejista Walmart nesta segunda-feira (13/9)

Golpistas criaram e distribuíram um comunicado falso em nome da empresa contendo até citações do CEO, que de tão perfeito levou grandes veículos de imprensa e agências de informações financeiras a noticiarem que ela passaria a aceitar a criptomoeda Litecoin. 

Não era verdade. A GlobeNewswire, utilizada para fazer a notícia chegar à mídia e a serviços de informações para profissionais de finanças, removeu o comunicado de sua plataforma e emitiu uma correção, depois de alertada pela rede americana CNN. 

Mas já era tarde. A novidade (tuitada de uma conta verificada para o link da GlobeNewswire) havia sido publicada em vários países. 

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Informações falsas alteraram o mercado financeiro

Só que enquanto a farsa durou, o preço do Litecoin subiu de US$ 242 para US$ 299, voltando ao patamar anterior depois do desmentido. O Bitcoin também subiu e caiu. E quem vendeu neste período ganhou dinheiro. 

O esquema tem toda a aparência de ser uma operação de “pump and dump”, que acontece em mercados financeiros menos regulamentados, com o objetivo de valorizar um determinado ativo temporariamente e lucrar com as informações falsas. 

E virou uma enorme dor de cabeça para a WalMart, que teve que sair correndo para negar a informação. E para a agência que distribuiu a informação. 

Um porta-voz da Intrado, empresa controladora do GlobeNewswire, afirmou que uma “conta de usuário fraudulenta” foi criada para emitir o comunicado. 

O serviço disse que iria intensificar suas medidas de autenticação e prometeu uma investigação completa sobre como os sistemas foram invadidos. 

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A culpa é da mídia?

Embora muitos casos de “barrigas” (jargão jornalístico para notícia falsa) históricas tenham sido resultado de afobação para não perder um furo, nesse caso para a imprensa tudo parecia perfeito. 

A GlobeNewswire é uma empresa séria, que emite comunicados para mais de 90 países em 35 idiomas. A prática de as corporações distribuírem comunicados por meio desses serviços é comum. 

Para quem acompanha os passos do Walmart no mercado, as informações faziam sentido, pois há um mês a varejista anunciou uma vaga para o time de desenvolvimento focado em moedas digitais.

Na descrição do cargo, a empresa dizia que o novo funcionário irá auxiliar na “criação ambiciosa” do desenvolvimento em criptografia da empresa, ajudando a tornar a história do acordo com a Litecoin verossímil. 

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No entanto, havia alguns sinais, que olhados retrospectivamente, podem servir de alerta para situações semelhantes no futuro. 

Apesar de o tweet ter saído de uma conta verificada, o comunicado continha um falso site “walmart-corp.com”. Foi o primeiro e único comunicado de imprensa que o Walmart emitiu pelo GlobeNewswire, o que poderia ter sido observado pelos que cobrem a empresa. 

E a escolha do Litecoin também poderia ter despertado desconfiança, pelo menos para os mais familiarizados com o mercado de criptomoeadas. Embora esteja entre as moedas digitais mais antigas do mercado financeiro, ela não integra a lista das 10 principais, e normalmente não está entre as mais negociadas. 

Isso mudou nesta segunda-feira, com bilhões de dólares em Litecoin mudando de mãos, de acordo com a plataforma de negociação online Coinbase.

Veja aqui o falso comunicado completo 

Principal companhia do setor varejista nos Estados Unidos, o Walmart anunciou em comunicado nesta segunda-feira, 13, uma parceria com a criptomoeda litecoin, que abrirá a possibilidade de clientes da empresa realizarem pagamentos com o ativo na sua plataforma de comércio digital a partir de 1º de outubro.

De acordo com a varejista, a decisão de escolher o litecoin para iniciar sua integração com criptomoedas se dá pelo fato do ativo estar entre os mais antigos do mercado de moedas digitais, além da sua rapidez e custo baixo em comparação com o bitcoin.

“O litecoin foi projetado para ser usado em transações mais baratas e ser mais eficiente no uso diário”, afirmou a companhia.

“As taxas extremamente baixas do litecoin e os tempos de transação rápidos são perfeitos para uma loja líder de comércio eletrônico como o Walmart. Estamos entusiasmados que nossa criptomoeda agora seja suportada pelo Walmart, abrindo mais oportunidades para qualquer comerciante aceitar pagamentos via litecoin no futuro”, comentou o criador da criptomoeda, Charlie Lee.

CEO do Walmart, Doug McMillon disse a parceria com o litecoin permite aos clientes uma “experiência muito ágil de compra, com confirmação de transação praticamente instantânea e taxas próximas de zero”.

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