Londres – O apresentador e ambientalista britânico David Attenborough, de 95 anos, não é um líder mundial com poderes para tomar decisões capazes de controlar os efeitos das mudanças climáticas, mas está tendo papel de destaque na conferência global do clima COP26.

Em um vídeo lançado pela organização não-governamental The Wildlife Trusts para coincidir com o início da cúpula, ele havia destacado o papel da vida selvagem na solução da emergência climática. 

E na cerimônia de abertura, que aconteceu às 12h desta segunda-feira (1/10), usou a voz grave que o tornou conhecido globalmente em documentários sobre a natureza produzidos pela BBC para alertar sobre a gravidade da crise, cobrando ação dos líderes mundiais. 

Em tom emocionado e com imagens impressionantes ao fundo, ele destacou como a queima de combustíveis fósseis e a destruição da natureza estão elevando a temperatura do planeta.

Disse que a estabilidade de que dependemos está se rompendo. E que é também uma questão de desigualdade, em que os que menos fizeram para construir a crise são os que mais sentirão seus efeitos, alguns inevitáveis. 

Attemborough observou que o homem, que sempre criou soluções, agora entende o problema e deve agir.   

“Uma nova revolução industrial apoiada por novas tecnolgias é possível”. 

Ele cobrou dos líderes globais o uso da oportunidade da COP26 para criar um mundo mais igual, não por medo, mas com esperança.

E reafirmou que a natureza é uma grande aliada na solução da crise das mudanças climáticas.  

Não é só reduzir as emissões

No vídeo gravado para a The Wildlife Trusts, Attenborough havia lançado um apelo semelhante, lembrando que o problema não se resolverá apenas com a redução das emissões de carbono, foco principal dos debates. 

“A natureza tem poderes extraordinários para bloquear o dióxido de carbono, fornecer ar e água limpos, ajudar a nos proteger de inundações e de condições meteorológicas extremas e nos dar o alimento que nos sustenta.”

Attenborough tem legitimidade para cobrar ação. Mais jovem, ele fazia expedições a lugares remotos do planeta, tornando-se conhecido mundialmente e respeitado entre cientistas e ativistas ambientais.

No vídeo, ele lamenta o declínio da vida selvagem, dizendo que a natureza atingiu o “ponto de ruptura”. 

“A natureza está ao nosso lado quando mais precisamos. Ainda assim, permitimos que nosso mundo natural e clima atingissem o ponto de ruptura, com quase metade da vida selvagem do Reino Unido em declínio e algumas de nossas espécies mais amadas em risco de extinção.”

Ele defende o reflorestamento de áreas devastadas, uma posição que pode criar constrangimento para seus amigos na famíia real britânica, incluindo a própria rainha Elizabeth II, de quem recebeu o título de Sir por sua contribuição ao meio ambiente. 

Um movimento endossado por cientistas e celebridades quer que a realeza deixe suas terras recuperarem o aspecto nativo. Eles são os maiores proprietários de terras do país, e boa parte das áreas foi degradada para cultivo ou atividades como caça. 

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Na COP26

No início deste mês, ele disse em uma entrevista à BBC que a COP26 trazia  “alguma esperança”, já que pessoas em todo o mundo vão ouvir (algumas pela primeira vez) sobre o que se deve fazer, bem como avaliações dos problemas e soluções.

O ativista acredita que os países ocidentais mais ricos, como o Reino Unido, têm a obrigação moral de ajudar os refugiados deslocados pela mudança climática.

 “Nós causamos isso – nosso tipo de industrialização é um dos principais contribuintes para a mudança climática. Como resultado, temos uma responsabilidade moral”.

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Ele diz que à  medida em que a emergência climática se intensifica, a ameaça à vida na Terra se torna cada vez maior. E que a sociedade pode escolher um futuro melhor e mais nativo, um futuro onde a vida selvagem prospere ao lado das pessoas, “um futuro onde a natureza ajude na luta contra as mudanças climáticas. ”  

Mas destacou que tais objetivos não podem ser alcançados sozinhos. 

“Precisamos de ações ousadas de apoio às comunidades locais e proprietários de terras para criar lugares selvagens prósperos e conectados em terra e no mar”.

Nos oceanos, os efeitos da ação do homem sobre a natureza

E é no mar que muito da devastação acontece, nem sempre visível para quem está na superfície. A edição de 2021 do concurso Ocean Photography Award, que tem como uma das categorias a conservação do mar, reuniu entre os trabalhos finalistas exemplos do impacto dos seres humanos sobre a vida marinha. 

O brasileiro Rodrigo Thome foi um dos finalistas, com esta imagem de um peixe morto em uma rede de pesca abandonada, capturada na Ilha Redonda, em Santa Catarina.

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