O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, baseado na Universidade do Texas, oferece um curso online gratuito destinado a ajudar mulheres jornalistas ou que utilizam as mídias sociais a se defenderem de riscos como assédio online e violência.  

Segundo relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgado no Dia Internacional da Mulher em 2021, 40 nações entre 112 analisadas são consideradas “perigosas” ou “muito perigosas” para mulheres jornalistas.O Brasil foi classificado como “perigoso”.

O treinamento foi criado e apresentado pela pela fotógrafa e especialista em segurança Alison Baskerville, consultora da International Women’s Media Foundation (IWMF), uma das apoiadoras da iniciativa. Embora concebido para jornalistas, as dicas são úteis para qualquer pessoa interessada prevenir riscos online e offline. 

Curso para mulheres jornalistas agora é autodirigido

Originalmente oferecido como um Massive Open Online Course (MOOC) em maio de 2021, o programa atraiu 1.235 alunos de 121 países.

Depois foi transformado em um curso autodirigido, que pode ser feito nos dias e horários de melhor conveniência dos participantes. 

São quatro módulos, incluindo videoaulas, leituras, exercícios e entrevistas de Baskerville com especialistas em saúde e segurança.

As aulas são em inglês, mas há transcrição de todo o conteúdo, que pode ser convertida para português com ferramentas de tradução online. 

O primeiro estágio é uma  introdução ao planejamento de segurança das jornalistas. O segundo aborda conceitos como consciência situacional e segurança pessoal.

O terceiro trata de  assédio e violência de gênero. O último módulo ensina sobre cuidados pessoais e bem-estar emocional.  

O treinamento está disponível na plataforma de cursos do Knight Center. 

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Alison Baskerville tem histórico na fotografia e na militância por diversidade

Alison Baskerville é uma fotógrafa de documentários e instrutora de segurança pessoal que vive em Birmingham, Reino Unido. 

Ex-soldado que se tornou fotógrafa, ela combinou a experiência militar com a carreira documentado conflitos para desenvolver treinamentos voltados para a comunidade jornalística.  

Baskerville lidera o Programa de Treinamento de Segurança da Próxima Geração da International Women’s Media Foundation (IWMF).

Seu trabalho como fotógrafa reflete sobre questões contemporâneas como desigualdade social, ocupação militar, identidade de gênero e segurança, bem como as consequências a longo prazo de traumas emocionais provocados pelos conflitos.

Ela fundou a ROAAAR – uma organização de treinamento de segurança inclusiva,  e cofundou o Powering the Matriarchy Together  (PMT), festival pioneiro de Birmingham, na Inglaterra, que celebra mulheres e pessoas não binárias. 

Patrícia Campos Mello sofreu ataques após reportagem nas eleições 2018

Um dos maiores exemplos da violência contra mulheres jornalistas no Brasil é Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo.

Ela publicou uma reportagem sobre disparos em massa via WhatsApp contendo informações falsas durante as eleições presidenciais de 2018, que teriam favorecido a candidatura de Jair Bolsonaro.

Depois disso, passou a receber ataques – grande parte deles misóginos e sexistas – de apoiadores do governo, incluindo do próprio presidente e de seus filhos.

Patrícia teve que passar a circular por São Paulo protegida por um segurança – um cuidado que os veículos para os quais trabalhou nunca haviam julgado necessário, nem quando cobriu conflitos da Líbia, Síria, Iraque e Afeganistão.

A jornalista fez uma conferência no Instituto Reuters de Estudos do Jornalismo e falou sobre ser jornalista no Brasil, que, segundo ela, significa “ser alvo de uma máquina de ódio, que atinge com mais força as mulheres”.

“Eu não estou sozinha. Muitas jornalistas respeitadas no Brasil, como Míriam Leitão, Vera Magalhães, Talita Fernandes, Constança Rezende, Juliana Dal Piva e Daniela Lima também foram alvo de ataques misóginos.

E em todo o mundo, grandes jornalistas como Maria Ressa, nas Filipinas, e Neha Dixit, na Índia, estão sendo atacadas com calúnias e ameaças sexistas apenas porque estão fazendo seu trabalho”.

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