Londres – Profissionais e amadores que se dedicam à fotografia do céu investem tempo, equipamentos sofisticados e muita paciência para imortalizar luzes e movimentos de fenômenos atmosféricos que assustam e encantam. 

Em 2021, diversos concursos internacionais premiaram imagens que mostram a beleza e a força da natureza sobre as nossas cabeças.

Elas retratam a fúria de tempestades, raios, ciclones e furacões. E  também a paz das nuvens, o brilho das estrelas e a magia do arco-íris, que para os mais sortudos pode aparecer em dose dupla. 

Névoa e neblina 

O fotógrafo italiano Giulio Montini capturou uma imagem de um dia de outono em Airuno, Itália, revelando em meio ao nevoeiro um pouco do curso sinuoso do rio Adda iluminado pelas primeiras luzes do dia. 

Montini foi o fotógrafo de Meteorologia do Ano do concurso da Royal Meteorological Society de Londres, que tem uma categoria dedicada exclusivamente a imagens de névoa e neblina, tão comuns no Reino Unido. Mas a cena italiana bateu as concorrentes locais. 

(Morning Fog – Giulio Montini/Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

Os feixes de luz são chamados de raios crepusculares. Eles se tornam visíveis pela dispersão da luz solar por partículas suspensas na atmosfera, como pequenas gotículas de água, poeira ou fumaça.

Normalmente os raios crepusculares irradiam por frestas nas nuvens. Mas nesta foto, as árvores tomam o lugar das nuvens, lançando sombras na paisagem. E a névoa espalha a luz do sol.


Andrew Bailey ficou entre os finalistas da categoria Névoa e Neblina com a fotografia que mais parece uma pintura.

 Na imagem, a geada está depositada na vegetação em primeiro plano. A névoa não tem grande profundidade, pois o sol nascente já pode ser visto. A visibilidade observada nesta direção seria a distância do observador até o moinho de vento.

E para quem acha que as duas coisas são iguais, o concurso explicou a diferença: a visibilidade.  Se for inferior a 10km, é névoa. Se for inferior a 1 km vira neblina. 

Névoas e neblinas – Andrew Bailey – Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021 – Finalistas

Christopher de Castro Comeso produziu a foto do Qasr Al Hosn, um dos marcos mais antigos de Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, em dezembro de 2020, em um dia de baixa temperatura. 

Ele estava voltando para casa quando viu a névoa se formando. Imediatamente, sacou a única câmera que tinha – seu telefone – e  garantiu a imagem vencedora na categoria celular, classificada por uma das juradas do concurso Fotógrafo de Meteorologia do Ano como “cena quase sobrenatural”. 

Foggy Morning – Christopher de Castro Cameso – Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021 – Vencedor Telefonia móvel

 


A foto de Carl Smorenburg faz parte do projeto “The Drakensberg”, que participou do concurso Natural Landscape Awards, retratando as montanhas Drakensberg, na África do Sul.

A imagem foi feita em um lugar muito remoto e isolado do mundo real, e mostra a beleza e a tranquilidade que podem ser encontradas nesses locais.

Natural Landscape Photo Awards – Carl Smarenburg

Momentos de fúria 

Phoenix Blue capturou a fotografia de uma supercélula se aproximando em Kansas, EUA. Uma supercélula é uma tempestade com uma corrente ascendente em rotação profunda, chamada de mesociclone.

É uma tempestade poderosa, provocando tornados, queda de granizo, rajadas de vento e chuvas torrenciais. Elas acontecem entre abril e junho sobre as Grandes Planícies do centro dos Estados Unidos.

O autor foi eleito Jovem Fotógrafo de Meteorologia do Ano no concurso do Royal Meteorological Society.

(Kansas Storm – Phoenix Blue/Weather Photographer ot the Year 2021)

Vastas pradarias, uma boa rede de estradas e céu aberto são os ingredientes perfeitos para quem se dedica à fotografia do céu e gosta de perseguir tempestades no Estados Unidos, como Craig Bohem, autor da imagem. Maio é o mês que reúne as condições ideais.

Nesta época, distúrbios na corrente de jato – a rápida faixa de ar várias milhas acima do solo – interagem com o ar quente e úmido vindo do norte do Golfo do México e o ar instável e frio das montanhas a oeste.

Boehm participou do concurso da Royal Meteorological Society de Londres com essa foto que mostra um coquetel de massas de ar que resulta em algumas das tempestades mais violentas do planeta.

(Craig Boehm / Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

As supercélulas geralmente exibem uma aparência visual impressionante, devido à forte dinâmica dentro da tempestade.

A aparência suave de algumas das nuvens mais baixas mostra onde o ar que não é flutuante está sendo “sugado” para a tempestade pela poderosa corrente ascendente rotativa acima.

Parte dessa elevação também se deve ao ar mais frio que sai da tempestade, criado pela precipitação que cai da tempestade.


O fotógrafo Serge Zaka capturou raios de uma tempestade isolada na báia de Cannes, França. Ele foi eleito como o fotógrafo favorito do público no concurso da Royal Meteorological Society.

(Lightning from an isolated storm over Cannes bay – Serge Zaka/Weather Photographer of the Year 2021)

As tempestades sobre a água produzem imagens bonitas como a da foto feita por Zaka. Ele estava a uma distância perfeita desta tempestade para capturar três coisas cruciais para uma composição fotográfica vencedora: o céu, a tempestade e a água.


Johannes Lochner,  da África do Sul, conquistou o 2º lugar na categoria Natureza do concurso de fotografia SIPA 2021 com a cena de uma tempestade de areia que tingiu o céu de vários tons de cinza. 

Nesse caso a chuva foi bem-vinda, pois colocou fim a uma temporada de seca, trazendo alívio aos animais que vivem no Parque Nacional de Chobe, na África do Sul.  As hienas aproveitaram as lagoas para se refrescar.

SIPA 2021 – Nature – Sandstorm – Johannes Lochaner

Sandro Puncet participou do concurso da Royal Meteorological Society de Londres com a imagem de uma tromba d’água em dose tripla. Elas se formam sob as nuvens cumulonimbus, quando há uma uma convecção vigorosa e o ar sobe rapidamente.

(Sandro Puncet /Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

Ao subir, o ar começa a girar e cria uma área localizada de pressão muito baixa. Isso faz com que resfrie e condense, formando uma coluna ou funil visível que se estende para baixo da nuvem. A água do mar é finalmente puxada para este funil. fazendo nascer uma tromba d’água (ou três, como na foto).


 Tori Jane Osberg registrou a fúria do tornado, fenômeno que atrai destemidos fotógrafos do céu. A foto ficou entre as finalistas do concurso de fotografia da Royal Meteorological Society na categoria “Perseguindo Tempestades”.

Os “caçadores” tentam permanecer à frente do funil para obter a melhor visão. Alguns dirigem mais para dentro da tempestade, mas muitos preferem manter uma visão clara da área de onde o ar está subindo para a tempestade – base da ‘correnteza’.

 A coluna giratória de ar se estende da base da nuvem em direção ao sol. Vira um tornado se tocar a terra, ou um jato de água se encostar na água.

(Tori Jane Osberg – Royal Meteorologicla Society Weather Photographer of the Year 2021)

Fotografias do céu ao amanhecer e entardecer 

A magia do nascer do sol assume um significado extra durante o solstício de verão (que ocorre entre 20 e 22 de junho no Hemisfério Norte). Esta data marca o início do verão astronômico, e é celebrada desde os tempos antigos por ser o dia mais longo do ano.

A foto de Mark Hume mostra o nascer do sol do solstício de verão no monumento pré-histórico de Stonehenge, na Inglaterra. Ele participou do concurso da Royal Meteorological Society de Londres e foi um dos finalistas da competição.

(Mark Hume / Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021 )

Em Somerset, no Reino Unido, Ben Pulletz retratou um urubu em uma árvore perfeitamente enquadrado na luz do sol poente. Pulletz conseguiu usar o pôr do sol para fazer da ave o protagonista absoluto da imagem.

A imagem venceu o concurso SIPA 2021 na categoria para fotógrafos abaixo de 20 anos. 

SIPA 2021 – Under 20 – Buzzard at dusk – Ben Pulletz

Um ditado britânico diz:  “Céu vermelho à noite, felicidade do  pastor. Céu vermelho de manhã, alerta ao pastor” (Red sky at night, shepherd’s delight. Red sky in morning, shepherd’s warning”).

Anushree, responsável pela fotografia do céu multicolorido, diz que ao contrário de outras tradições meteorológicas, esse ditado geralmente é verdadeiro no Reino Unido, já que os sistemas climáticos normalmente se movem de oeste para leste.

Um céu vermelho aparece quando a poeira e outras pequenas partículas ficam presas na atmosfera por alta pressão, espalhando a maior parte da luz azul. Ao pôr do sol, isso significa que a alta pressão está se movendo do oeste, prometendo que o dia seguinte será seco e agradável.

Ao nascer do sol, o tom avermelhado sinaliza que o sistema de alta pressão já se moveu para o leste. O tempo bom foi embora, e  provavelmente um sistema de baixa pressão úmido e com ventos está a caminho.

(Anushre / Royal Meteorological Society Weahter Photographer of the Year 2021)

Momentos da lua 

O fotógrafo Göran Strand retratou um halo lunar brilhante de 22 ° em Östersund, Suécia. Ele participou do concurso de astrofotografia do Observatório Real de Greenwich, em Londres

Lunar Halo – @Göran-Strand

Quando tirei esta foto, a temperatura era de -16 ° C e o ar estava cheio de pequenos cristais de gelo que tornaram esse halo possível. Este halo regular de 22 ° é mais comum de se ver ao redor o Sol. Para que um halo lunar seja visível, o luar precisa ser bastante forte, por isso é mais comum em dias de lua cheia”.


Kim-pan Dennis Wong, Hong Kong, recebeu uma menção honrosa no TNC Photo Contest 2021 ao retratar o nascer da lua cheia em Hung Hom.

Menção honrosa – Paisagem – Nascer da lua – © Kim-pan Dennis Wong / TNC Photo Contest 2021

Aurora Boreal, sonho dos amantes da fotografia do céu

Ben Maze registrou uma combinação fenômenos astronômicos que proporcionam as melhores condições astrofotográficas que se podem testemunhar na Austrália: o cenário do núcleo galáctico da Via Láctea, a luz zodiacal e a Aurora Australis. Para completar, uma exibição cintilante de bioluminescência oceânica adornava as ondas. 

As cores que nossas câmeras captaram foram incríveis. Em vez do verde clássico, a tela variava de amarelo e laranja a rosa e roxo”.


Daniel Kordan atravessou o Mar de Barents e caminhou até a “extremidade do mundo”, no Ártico. A aventura foi cheia de tempestades e nevascas, mas também encontros preciosos com a ‘Lady Aurora’, como muitos fotógrafos chamam o fenômeno. 

Daniel Kordan – Murmansk, Rússia

Um panorama de 250º da Aurora Boreal, na Islândia, registrado por Larryn Rae em uma noite gelada de inverno. Foi uma das finalistas do concurso anual do Observatório de Greenwich. 

Esta é uma das imagens de aurora mais incríveis que já capturei, pois é totalmente única. Para mim, resume toda a minha viagem na Islândia no inverno – inspiradora e maravilhosa. Fiquei feliz por ter este momento só para mim“.

Iceland Vortex – @Larryn -Rae

Flagrantes da Via Láctea 

Os tons de cores e as linhas são incríveis na foto de Stefan Liebermann retratando a Via Láctea sobre os campos de lavanda em Valensole, França.

A foto foi uma das selecionadas no concurso de astrofografia do Observatório Real de Greenwich.

Harmony – @Stefan-Lierbermann

Na imagem feita por Marcin Zajac, uma torre de rocha sobrenatural (também conhecida como hoodoo) surge das terras áridas formando um primeiro plano perfeito para a Via Láctea que se ergue acima dela. A paisagem faz parte das terras Ah-Shi-Sle-Pah, na Bacia de San Juan, no noroeste do Novo México. 

O fotógrafo também participou do mesmo concurso.

                                              Alien Throne – @in-ZajacMasc


Fotografia do céu retrata poesia e cores nas nuvens 

Nuvens colorem o céu formando padrões causados ​​pelo vento. Elas dão forma às ondulações da atmosfera, que estão sempre presentes mas nem sempre são vistas. São 48 tipos, classificados pelo “Cloud Atlas” da Organização Meteorológica Mundial.

Iain Afshar registrou nuvens lenticulares, também chamadas de “nuvens de onda”, que não se movem. A imagem foi selecionada no concurso da Royal Meteorological Society de Londres.

Essas nuvens mudam de configuração à medida que o ar passa por elas. São o resultado do ar subindo até seu ponto de condensação acima de um objeto, normalmente uma montanha, embora também possam resultar de ondas geradas na própria atmosfera.

(Iain Afshar /Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

As nuvens Mammatus (Mamma cumuloninbus) têm aparência bulbosa e podem aparecer de várias formas. As mais impressionantes são as que surgem em tempestades, normalmente na parte traseira da “nuvem bigorna”, depois que o tempo melhorou.

A foto de Boris Jordan  também fez parte da seleção da Royal Meteological Society de Londres.

(Boris Jordan / Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

Existem fenômenos ópticos que ocorrem acima da troposfera (camada mais baixa da atmosfera terrestre). Um deles é o das nuvens nacaradas, fotografadas por Alan Tough. Na troposfera há também auroras, nuvens noctilucentes (que brilham à noite) e várias trilhas de foguetes de naves espaciais.

(Alan Tough – Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

A magia do arco-íris

O arco-íris se forma devido à refração (curvatura) e ao reflexo da luz do sol ao passar pelas gotas de chuva. A faixa colorida no arco externo secundário está na direção oposta ao arco primário, o que acontece quando a luz é refletida duas vezes na parte de trás das gotas de chuva.

O “primo” do arco-íris é o arco de névoa. Ele acontece quando as gotas minúsculas refletem luz, como no que arco-íris. Mas seu tamanho impede que apresente cores. Geralmente vistos sobre a neve, nas montanhas e acima da névoa fria do mar, são raros de encontrar.

O fotógrafo Scott Robertson, que capturou o fenômeno, foi finalista do concurso da Royal Meteorogical Society de Londres. 

(Scott Robertson / Royal Meteorological Society Weather Photographer of the Year 2021)

Mas coube à fotógrafa Susan Kyne Andrews um dos cliques mais impressionantes do ano: um arco-íris duplo e mais um terceiro arco, invisível para a câmera, que ela encontrou durante uma caminhada em South Beach, Greystone, na Irlanda.

A imagem ficou em segundo lugar no concurso da Royal Meteorogical Society na categoria fotos com o celular. 

Um momento único que mostrou a sorte de estar no lugar certo, na hora certa. 

(Between Showers – Susan Kyne Andrews /Weather Photographer of the Year 2021)

Veja também 

https://mediatalks.uol.com.br/2021/12/31/veja-as-melhores-fotos-da-covid-premiadas-em-concursos-de-fotografia-internacionais-este-ano/