Londres – A Unesco entrou na briga pela identificação e punição dos responsáveis pelo assassinato do jornalista Givanildo Oliveira, morto em 7 de fevereiro a tiros em Fortaleza

A diretora-geral da organização, Audrey Azoulay, emitiu uma nota oficial cobrando das autoridades a investigação sobre o crime, classificado por ela como um ataque à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa.

Oliveira é um dos 10 jornalistas assassinados no mundo somente este ano. Outros cinco crimes aconteceram no México, dois no Haiti, um no Paquistão e um em Mianmar. 

Jornalista assassinado tinha recebido ameaças 

Conhecido como Gigi, ele trabalhava no site Pirambu News, do qual foi um dos fundadores.

O site publica regularmente informações sobre atividades criminosas na região.

O profissional já havia recebido ameaças de morte de criminosos em Fortaleza, e foi alvejado a tiros perto da casa onde vivia. Uma câmera de segurança mostrou o momento do assassinato.

Oliveira é visto caminhando pela rua e é atacado por um homem, que atira pelo menos três vezes contra a cabeça e o peito da vítima, fugindo em seguida.  

Em nota, a diretora-geral da Unesco condenou o atentado. E disse que as autoridades brasileiras devem se empenhar para elucidar o crime e levar os responsáveis à justiça.

Audrey Azoulay disse que as autoridades brasileiras devem se empenhar com todos os esforços para elucidar o crime e levar os responsáveis à justiça
Foto: divulgação Unesco/Christelle ALIX
Desde 1993, pelo menos 1,5 mil jornalistas foram assassinados no mundo, segundo a Unesco.
Um levantamento da organização divulgado em novembro de 2021 apontou que mais de 80% dos crimes ficaram impunes. 

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CPJ e Artigo 19 também pedem apuração do assassinato do jornalista 

O Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ), afirmou que um jornalista em serviço não pode estar sob tamanho risco apenas por informar e publicar notícias de suas comunidades.

 O CPJ diz que é preciso saber se o crime está relacionado ao trabalho do jornalista e se o assassinato foi uma forma de retaliação, que deve ser punida pela justiça.

Segundo a organização de defesa da liberdade de imprensa Artigo 19, os indícios apontam para a relação entre a matéria publicada sobre um homem acusado de homicídios e o assassinato do comunicador, que já ele havia sido ameaçado para que não publicasse conteúdos sobre o caso.

A Artigo 19 destacou a atuação do Pirambu News, direcionada para conteúdos de interesse da zona oeste de Fortaleza, com uma política de dar espaço a conteúdos produzidos por jovens comunicadores e estudantes de jornalismo da periferia da cidade.

A investigação do assassinato de Givanildo corre na 8º Delegacia da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa do Ceará.

Assassinato de jornalista, crime cada vez mais comum 

Segundo dados da Unesco, a América Latina é uma das regiões mais perigosas para o exercício do jornalismo.

Dos nove jornalistas assassinados no mundo em janeiro, sete perderam a vida na região, dos quais quatro no México. Nos primeiros dias de fevereiro, mais um profissional de imprensa foi vítima de crime no país. 

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A forma como profissionais de imprensa têm perdido a vida por causa de seu trabalho mudou no mundo, e também na região.

No passado, eram mais comuns fatalidades de repórteres de guerra, atingidos em bombardeios ou vítimas de fogo-cruzado durante cobertura de conflitos. 

Recentemente a situação mudou. Mais jornalistas passaram a ser assassinados, por terem se tornado incômodos para o crime organizado ou para pessoas denunciadas por atos de corrupção. 

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