Londres – A organização Repórteres Sem Fronteiras e a Federação Internacional de Jornalistas confirmaram nesta quarta-feira a morte do primeiro jornalista vítima da guerra da Ucrânia.

Trata-se do cinegrafista Evgeny Sakun, da Kiev Live TV. Ele foi atingido durante o bombardeio da torre de televisão de Kiev, nesta terça-feira (1/3).

As organizações também confirmaram que dois jornalistas dinamarqueses atingidos por tiros no último sábado (26/2) já não correm perigo de morte. Os dois foram transferidos da Ucrânia para a Dinamarca. 

“Visar jornalistas é crime de guerra”

Na sua conta no Twitter, a Repórteres Sem Fronteiras publicou o crachá do jornalista morto na guerra da Ucrânia.

Além de lamentar a perda do cinegrafista, o tuíte acusa os responsáveis por sua morte de terem praticado um crime de guerra.

Apesar de essa ter sido a primeira morte de um jornalista durante a atual guerra da Ucrânia, a Repórteres Sem Fronteiras ressalta que outros dez jornalistas foram mortos na região de Donbass no auge dos combates separatistas, no período de 2014 a 2016.

Jornalistas feridos na guerra da Ucrânia iam cobrir jardim de infância bombardeado

Os dois jornalistas dinamarqueses feridos a tiros são o repórter Stefan Weichert e o fotógrafo Emil Filtenborg Mikkelsen, do jornal Ekstra-Bladet. Eles estavam baseados na Ucrânia havia dois anos.

No sábado, os dois estavam a caminho de um jardim de infância bombardeado na cidade de Ohtyrka, no nordeste do país, quando tiros foram disparados contra seu carro. Embora trajassem coletes à prova de balas, eles ficaram gravemente feridos.

Apesar dos ferimentos, eles conseguiram fugir e aguardaram ao lado do carro a chegada de socorristas, que os levaram para um hospital na cidade de Poltava. Depois de terem sua condição estabilizada, iniciou-se a transferência para a Dinamarca.

Perigo aumenta para jornalistas na Ucrânia 

A chefe do escritório da Repórteres sem Fronteiras na Europa Oriental e Ásia Central, Jeanne Cavelier, cobrou respeito à segurança dos jornalistas durante a guerra da Ucrânia:

“Esses dois jornalistas dinamarqueses foram os primeiros gravemente feridos na cobertura da invasão da Ucrânia. Pedimos que todas as partes se comprometam a respeitar a segurança dos jornalistas, que têm um papel essencial para relatar a situação”.

A organização enfatiza que à medida que a escala dos combates na Ucrânia cresce, torna-se cada vez mais perigoso para os jornalistas cobrir a guerra.

Segundo fontes da RSF, por causa dos relatos que circulam sobre a presença de sabotadores russos nas ruas, a desconfiança em relação a estranhos, incluindo repórteres, está tornando o trabalho jornalístico mais vulnerável.

Imprensa russa também é vítima na guerra com Ucrânia 

A invasão da Ucrânia fez também recrudescer a perseguição à mídia independente russa. Uma nova lei pode punir com até 15 anos de prisão os jornalistas que transmitirem informações consideradas imprecisas sobre a guerra da Ucrânia.

A agência estatal de notícias Ria Novosti informou que a lei permitirá caracterizar como crime qualquer “notícia falsa” ligada às ações do Exército russo.

Nesta quarta-feira (2/3), a Repórteres Sem Fronteiras criticou os esforços do governo russo de tentar censurar as reportagens sobre o conflito e a decisão do órgão regulador do país de bloquear as atividades da TV Rain e da rádio Ekho Moskvy, dois expoentes da mídia independente.

A decisão acusa os veículos de “disseminarem extremismo, violência e dados falsos” sobre a guerra na Ucrânia.

https://youtu.be/4KWVIWkuEW8

Apesar da suspensão de sua frequência de rádio, a Ekho Moskvy ainda tentou continuar a transmitir ao vivo pelo YouTube, onde anunciava na apresentação de seu canal:

“O Roskomnadzor (o órgão regulador russo da comunicação) decidiu tirar do ar nossa estação de rádio. Não concordamos com esta decisão e continuaremos a trabalhar para você.”

No entanto, hoje desistiu e encerrou as operações, o que foi lamentado pela RSF como uma grande perda para o pluralismo no momento em que acesso a informação independente é vital. 

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