Londres – Um exemplo dos riscos a que jornalistas estão expostos na Ucrânia foi exibido em um vídeo chocante pela emissora britânica Sky News nesta sexta-feira (4): o carro em que uma equipe de reportagem da rede viajava foi alvo de uma emboscada e dois profissionais ficaram feridos, incluindo um dos principais nomes do jornalismo da rede, Stuart Ramsay. 

O correspondente-chefe da Sky foi alvejado por uma bala na região lombar durante a chuva de tiros que atingiu o veículo que ia para a cidade de Bucha, a 30 quilômetros de Kiev.  

O operador de câmera Richie Mockler também foi atingido com dois tiros em seu colete antes que a equipe conseguisse escapar e se proteger no galpão de uma fábrica, até ser resgatada pela polícia ucraniana. 

Jornalista atingido na Ucrânia é veterano de guerra 

O caso aconteceu na segunda-feira mas só foi revelado quatro dias depois. Ramsey é uma das mais conhecidas figuras da TV britânica, já tendo feito reportagens em várias guerras e conflitos, como a tomada do Afeganistão pelo grupo Talibã. 

Os outros três integrantes da equipe, Dominque van Heerden e Martin Vowles da Sky News e o produtor local Andrii Lytvynenko, não sofreram ferimentos. 

Mesmo atingido, o cinegrafista Mockler filmou todo o ataque, em um vídeo chocante em que o pânico é mostrado sem cortes. Os gritos dos profissionais avisando que eram jornalistas foram ignorados pelos agressores. 

Na noite de sexta-feira, a Sky anunciou que iria exibir o vídeo como forma de chamar a atenção para os riscos para jornalistas na Ucrânia. Os atingidos já voltaram para o Reino Unido, com exceção do produtor local. 

Depois da exibição, o video foi compartilhado e comentado nas redes sociais. 

Vídeo mostra jornalistas em pânico 

Stuart Ramsey fez um relato do episódio. Ele contou que a equipe seguia para Bucha a fim de documentar a destruição de um comboio russo pelo exército ucraniano no dia anterior. 

Apesar de o destino estar a apenas 30 quilômetros do centro de Kiev, o jornalista disse que a viagem levou horas, com a tripulação retida por fechamento de estradas e redirecionamentos.

Foi sugerido no último posto de controle ucraniano que eles não deveriam prosseguir. A equipe decidiu voltar para o centro da cidade e tentar chegar ao local do comboio destruído utilizando um caminho alternativo para evitar rotas perigosas. 

Leia também 

Rússia “sequestrou” seções de leitores na mídia para manipular opinião pública até no Brasil, diz estudo

Homem lendo jornal propaganda russa

Depois de obter o sinal verde de um policial para pegar uma estrada, Ramsay disse “do nada”, houve uma “pequena explosão”. 

“Um pneu estourou, o carro parou e nosso mundo virou de cabeça para baixo. A primeira série de tiros quebrou o pára-brisas. 

O câmera Richie Mockler se escondeu na área dos pés do passageiro da frente. Estávamos sob ataque total”.

O correspondente relatou que balas caíram “em cascata por todo o carro”, enquanto partes do carro e dos equipamentos  se desintegravam. 

“Nós não sabíamos disso na época, mas mais tarde fomos informados pelos ucranianos que fomos emboscados por um esquadrão de reconhecimento russo sabotador. 

Foi profissional, os tiros continuaram batendo no carro – eles não erraram.”

O jornalista disse que a equipe achava que um posto de controle do exército ucraniano poderia estar por trás do tiroteio, mas suas tentativas em pânico de explicar que eram jornalistas não serviram para deter os agressores. 

“Eu me lembro de me perguntar se minha morte seria dolorosa”, recordou o jornalista.

“A questão é que tivemos muita sorte”, disse Ramsay. “Mas milhares de ucranianos estão morrendo, e famílias estão sendo alvo de esquadrões de ataque russos, assim como nós. Esta guerra fica pior a cada dia.”

Leia também 

Nova lei pode punir jornalistas com até 15 anos de cadeia por chamar guerra com a Ucrânia de ‘guerra’