Londres – Com dois anos de pandemia e mais de 650 mil mortos pela covid-19, os brasileiros são os que menos acreditam em teorias da conspiração relacionadas à doença, como a de que o coronavírus não existe ou de ter sido criado por pessoas poderosas.  A conclusão é de uma pesquisa do instituto britânico YouGov em conjunto com o Cambridge Globalism Project.

O estudo ouviu mais de 25 mil pessoas para entender como as populações de 24 países, incluindo a do o Brasil, se relacionam com as 12 teorias da conspiração mais populares. O mito de que um grupo de pessoas secretamente governa o mundo é o que reúne mais adeptos nos países participantes do estudo.

Essa teoria é também a que os brasileiros mais acreditam. E na contramão do mundo, em especial da Europa, o Brasil divide com a Indonésia (26%) o segundo lugar entre os que pensam que o aquecimento global é uma farsa, atrás somente da Índia (32%).

Quem acredita na conspiração do coronavírus

Das 12 teorias de conspiração apresentadas no estudo, o mito sobre a origem e a existência do coronavírus é levado a sério somente por 13% dos brasileiros, com apenas 5% deles classificando a teoria como “definitivamente verdadeira”.

Os indianos são os que mais acreditam que o vírus é uma invenção, com 30% dizendo que tal afirmação era “definitivamente ou provavelmente verdade”. Japão (4%), Dinamarca (4%) e Grã-Bretanha (3%) cujas populações menos acreditam nesse mito.

No entanto, as pessoas de todos os países analisados se mostraram muito mais propensas a acreditar na teoria de que os efeitos  nocivos das vacinas estão sendo deliberadamente escondidos do público.

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No Brasil, o número dos que acreditam nos danos das vacinas (25%) é quase o dobro dos que acreditam nos mitos sobre o vírus (13%). Essa proporção alcança o seu ponto máximo no Quênia, onde a quantidade de negacionistas das vacinas (54%) é cinco vezes maior do que os negacionistas do vírus (11%).

Considerando o total da amostra, o mito dos danos causados pelas vacinas ocupa o terceiro lugar entre os de maior número de seguidores. A crença nessa teoria é maior no Quênia, Nigéria e África do Sul, com adeptos entre a metade da população (54%, 50% e 49%, respectivamente. Os que menos acreditam nos males das vacinas são Suécia, Grã-Bretanha e Dinamarca (15%, 13% e 10%, respectivamente).

 

Gráfico de pesquisa mostrar teorias de conspiração sobre coronavírus

Grupo que controla o mundo é a conspiração mais acreditada

A teoria de que um único grupo de pessoas secretamente controla eventos e governa o mundo, acima dos governos oficiais, teve os níveis médios mais altos de crença em todos os 24 países estudados.

No Brasil, 35% classificaram como verdadeira essa afirmação, colocando-a como a conspiração mais acreditada pelos brasileiros.

O apoio a essa teoria é mais significativo no Quênia, Nigéria e África do Sul, com 72%, 69% e 61% das respectivas populações dizendo que achava que era “definitivamente ou provavelmente verdade”.

Difundida principalmente por pessoas que acreditam na teoria de conspiração da Nova Ordem Mundial, o mito de que um grupo secreto governaria o mundo se relaciona diretamente com outro, que ganhou força na era Trump: o grupo de extrema-direita QAnon.

A crença de que “um grupo secreto de pedófilos adoradores de Satanás assumiu o controle de partes do governo dos EUA e da grande mídia norte-americana”, principal bandeira do QAnon, tem relativamente poucos adeptos no Brasil. Aparece no penúltimo lugar entre as 12 teorias mais acreditadas no país, com apenas 14% dos brasileiros considerando-a verdadeira.

No mundo, a teoria difundida pelo QAnon é mais acreditada no Quênia (37%), Índia (36%) e África do Sul (34%). Nos EUA, 17% dos pesquisados classificaram a afirmação como verdadeira, tornando-a a segunda teoria da conspiração em que os norte-americanos mais acreditam.

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O mito de que um grupo único governa o mundo só perde nos Estados Unidos para a teoria de que membros da equipe eleitoral do ex-presidente Donald Trump trabalharam conscientemente com o governo russo para ajudá-lo a vencer as eleições de 2016.

Esse suposto apoio da Rússia a Trump nas eleições de 2016 é a segunda conspiração mais levada a sério nos 24 países que participaram da pesquisa, com números particularmente altos no Quênia (onde 54% da população afirma que a afirmação é “definitivamente ou provavelmente verdadeira”).

O apelo dessa teoria se mostrou efetivo até entre as pessoas de países que são, em média, mais céticos sobre outras teorias da conspiração. Esse fenômeno foi percebido em países como Grã-Bretanha, Suécia, Alemanha e França, mas a Dinamarca em particular se destacou.

Enquanto a crença dos dinamarqueses em outras teorias da conspiração fica abaixo de 3%, a porcentagem de dinamarqueses dizendo que Donald Trump trabalhou com o governo russo salta para 39%.

Coronavírus e as outras 11 teorias de conspiração em que brasileiros mais acreditam 

Dois eventos ligados ao espaço, como a chega do homem à Lua e o contato com extraterrestres estão entre as teorias conspiratórias com mais adeptos no Brasil, logo depois da crença no grupo que governa o mundo, a colaboração da Rússia na vitória de Trump e na descrença nas mudanças climáticas e nas vacinas. Veja abaixo todas as teorias pesquisadas e a parcela de adeptos no Brasil:

35% – “Independentemente de quem está oficialmente no comando dos governos e outras organizações, há um único grupo de pessoas que secretamente controla os eventos e governa o mundo”

28% – “Membros da equipe eleitoral de Donald Trump trabalharam conscientemente com o governo russo para ajudá-lo a vencer as eleições presidenciais dos EUA em 2016”

26% – “A ideia do aquecimento global causado pelo homem é uma farsa que foi inventada para enganar as pessoas”

25% – “A verdade sobre os efeitos nocivos das vacinas está sendo deliberadamente escondida do público”

25% – “Os pousos na Lua de 1969 são falsos”

24% – “Humanos fizeram contato com alienígenas e esse fato foi deliberadamente escondido do público”

23% – “Nas eleições presidenciais dos EUA em 2020, a eleição foi roubada de Donald Trump por fraude eleitoral sistêmica que o impediu de vencer”

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21% – “O governo dos EUA conscientemente ajudou nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001”

20% – “O relato oficial do Holocausto nazista é uma mentira e o número de judeus mortos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial foi exagerado de propósito”

16% – “O vírus da AIDS foi criado e espalhado pelo mundo propositalmente por um grupo ou organização secreta”

14% – “Um grupo secreto de pedófilos adoradores de Satanás assumiu o controle de partes do governo dos EUA e da grande mídia norte-americana”

13% – “O coronavírus é um mito criado por algumas pessoas poderosas, e o vírus realmente não existe”

Índia é o país que mais acredita em teorias de conspiração

Em todos os 24 países pesquisados, a Índia teve a maior proporção média de pessoas respondendo “definitivamente ou provavelmente verdadeiro” às 12 teorias da conspiração.

Foto: Reprodução/YouGov

Na média, 36% dos indianos disseram que as 12 teorias apresentadas eram definitivamente ou provavelmente verdadeiras. O nível de apoio para cada teoria individual variou de um quarto (26%) entre os que pensam que os pousos na Lua de 1969 foram forjados até à metada (50%) que acredita que um único grupo de pessoas secretamente governa o mundo juntos.

África do Sul, Quênia e Nigéria tiveram um alto apoio para teorias da conspiração. Mas isso se deveu principalmente aos grandes níveis de crença numa teoria específica, a de que um grupo de pessoas secretamente governa o mundo.

Os dinamarqueses tiveram a menor proporção de pessoas respondendo “definitivamente ou provavelmente verdadeiro” às 12 teorias.

O Japão também teve níveis médios muito baixos de apoio às teorias da conspiração, embora isso não tenha se traduzido numa grande parcela negando-as. Foi o segundo país com o maior número de pessoas (45%) dizendo não saber responder, logo atrás da Indonésia.

O Brasil ficou entre os 10 países com maior adesão média (22%) às 12 teorias de conspiração apresentadas. Por outro lado, o percentual dos que as negaram foi quase o dobro (43%), posicionando o país entre os 12 que menos acreditaram nos mitos apresentados.

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