A jornalista Marina Ovsyannikova, que protestou ao vivo contra a guerra na Ucrânia na TV estatal russa Channel One, está desaparecida desde segunda-feira (14).

Segundo o advogado de direitos humanos Pavel Chikov, a profissional foi vista pela última vez ao invadir o estúdio da emissora segurando um cartaz em manifestação contra a invasão da Rússia ao país vizinho.

“SEM GUERRA. Pare a guerra. Não acredite em propaganda. Eles estão mentindo para você aqui”, dizia a placa exibida por Marina, que também gritou palavras contra o conflito segundos antes da transmissão cortar para um VT gravado.

Jornalista russa está desaparecida há mais de 12 horas

Marina Ovsyannikova é produtora e editora do Channel One, canal de televisão estatal da Rússia, de acordo com informações do Washington Post.

No Twitter, Pavel Chikov alertou que, na manhã de terça-feira (15), completou mais de 12 horas que o paradeiro da jornalista era desconhecido.

“Marina Ovsyannikova ainda não foi encontrada. Ela está presa há mais de 12 horas”, disse ele. “A verificação pré-investigação não fornece motivos para detenção e prisão.”

O Kremlin descreveu o protesto de Ovsyannikova como “vandalismo” horas depois da prisão da jornalista.

“No que diz respeito a essa mulher, isso é vandalismo”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres, elogiando o Channel One pelo que chamou de “programação de qualidade, objetiva e oportuna.”

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reconheceu o ato de Ovsyannikova durante discurso ontem à noite.

“Sou grato aos russos que não param de tentar transmitir a verdade. Aos que combatem a desinformação e dizem a verdade, fatos reais a seus amigos e entes queridos”, disse Zelensky.

“E pessoalmente para a mulher que entrou no estúdio do Channel One com um pôster contra a guerra.”

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Com nova lei de Putin, jornalista russa pode ficar presa por 15 anos

O protesto de Marina Ovsyannikova aconteceu no 19º dia da invasão russa à Ucrânia, ao que o governo de Vladimir Putin classifica como “operação militar especial”.

Graças à uma nova lei de censura aprovada no parlamento russo no início do mês, jornalistas e profissionais de imprensa que descreverem o conflito como uma guerra ou divulgarem o que o Kremlin descreveu como informações “falsas” podem pegar até 15 anos de prisão.

A lei já obrigou diversos meios de comunicação a fecharem depois de cobrirem negativamente a guerra e muitos jornalistas foram forçados a fugir do país, incluindo estrangeiros e colaboradores de grandes veículos como CNN, New York Times e a agência espanhola EFE.

Ovsyannikova pode enfrentar acusações de acordo com a lei e entre três e 15 anos de prisão, segundo especialistas.

A TV estatal é a principal fonte de notícias para milhões de cidadãos na Rússia e segue a linha do discurso de Putin de que o país foi forçado a agir na Ucrânia.

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Manifestantes em frente ao consulado da Rússia na cidade de Nova York para protestar contra a guerra na Ucrânia (Foto: Tong Su/Unsplash)

Antes do protesto ao vivo, Marina Ovsyannikova gravou e postou um vídeo se identificando como funcionária do Channel One.

Ela disse ter vergonha de participar da divulgação da propaganda do Kremlin, acrescentando que seu pai era ucraniano.

“O que está acontecendo agora na Ucrânia é um crime, e a Rússia é o país agressor. A responsabilidade por essa agressão está na consciência de apenas um homem, e esse homem é Vladimir Putin”, disse a jornalista.

“Agora o mundo inteiro se afastou de nós e as próximas 10 gerações de nossos descendentes não lavarão a vergonha desta guerra fratricida”.

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