Londres – O embaixador da Austrália em Pequim, Graham Fletcher, teve nesta quinta-feira (31) sua entrada proibida no tribunal para acompanhar o julgamento da jornalista australiana Cheng Li, presa há 19 meses sob acusação de “fornecer ilegalmente segredos de Estado no exterior” pelo governo da China. 

Embora não seja a única jornalista presa ou condenada no país o caso de Lei ganhou atenção global porque ela trabalhava na principal TV estatal chinesa e porque a prisão ocorreu em um momento de tensão política entre a Austrália e a China. Se condenada, pode pegar até prisão perpétua. 

“Isso é profundamente preocupante, insatisfatório e lamentável”, disse Fletcher. “Não podemos ter confiança na validade de um julgamento conduzido é conduzido em segredo.”

Jornalistas também impedidos de assistir o julgamento

Jornalistas e diplomatas estrangeiros também tiveram a entrada negada no julgamento. Do lado de fora do tribunal popular intermediário número 2 em Pequim na quinta-feira, policiais uniformizados e à paisana saíram da entrada e verificaram a identificação dos jornalistas antes de afastá-los, disseram repórteres no local.

O julgamento está sendo acompanhado pela imprensa de vários países. 

O embaixador informou que um funcionário do tribunal disse que ele não poderia ser admitido porque o caso envolvia “segredos de estado” da China, razão pela qual o julgamento da jornalista estaria sendo feito a portas fechadas.

Foto: reprodução Twitter

O sistema judicial da China tem uma taxa de condenação acima de 99%. Os julgamentos de segurança nacional são frequentemente conduzidos de forma rápida e secreta, com veredictos e sentenças anunciados de forma imprevisível – às vezes meses após o julgamento.

Jornalista pode pegar perpétua na China 

Chang Lei foi capturada em agosto de 2020. Apenas seis meses depois, em fevereiro, o governo da China confirmou a prisão da jornalista, mas só agora o julgamento foi marcado. 

O crime atribuído à jornalista tem pena prevista de cinco a dez anos, mas a sentença pode ser estendida até à prisão perpétua se o tribunal considerar a acusação grave. 

Além de jornalista, Lei tinha atuação destacada em eventos promovidos pela embaixada australiana  mais um fator a associá-la à tensão entre os dois países.

Ela vem sendo mantida em uma espécie de prisão domiciliar, um regime denominado pela China de “vigilância residencial em um local designado” (RSDL). Nesse sistema, os presos não têm acesso a advogados e familiares, e correm o risco de maus-tratos ou potencialmente tortura, de acordo com grupos de direitos humanos.