Diante dos ataques às plataformas digitais pela proliferação de fake news sobre o aquecimento global, o Pinterest resolveu reagir, anunciando uma nova política destinada a banir inteiramente a desinformação climática.

As mudanças foram descritas pela rede de compartilhamento de fotos de forma ambiciosa: o Pinterest apresenta-se como a primeira grande plataforma digital a introduzir uma política abrangente de controle da desinformação. 

A rede afirma que passará a remover conteúdo postado por usuários e também anúncios pagos que neguem a existência dos impactos das mudanças climáticas, a influência humana sobre elas e que eventos climáticos extremos não são considerados um consenso científico, dentre outras alegações falsas.

Combate a fake news sobre aquecimento global na semana do novo relatório do IPCC

A iniciativa do Pinterest ainda a criação de conteúdo sobre mudanças climáticas por influenciadores de 11 países, incluindo o Brasil. 

Ela chega ao público dias depois da divulgação do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no início da semana.

No documento, a Organização das Nações Unidas (ONU) sinaliza a urgência da adoção de fontes sustentáveis, redução de emissão mundial de gases estufa e estabelece que, até 2030, todos os países devem reduzir pela metade o volume de emissões.

Indo ao encontro dos apelos da ONU, as diretrizes de comunidade recém-atualizadas pelo Pinterest querem promover a consciência ambiental entre os usuários da rede social.

Por isso, a empresa reforçou que as novas regras valem também para os anunciantes, e não somente para os usuários.

Dessa forma, a plataforma atualizou as diretrizes de publicidade para proibir explicitamente quaisquer anúncios que contenham teorias da conspiração, informações erradas e desinformações relacionadas às mudanças climáticas.

Em comunicado à imprensa, Sarah Bromma, chefe de política do Pinterest, admitiu que o movimento é “ousado”, mas necessário para cultivar um “espaço confiável e verdadeiro” para os usuários do site.

“A política […] é mais um passo na jornada do Pinterest para combater a desinformação e criar um espaço seguro online.”

Leia também 

Apocalipse do planeta: cientistas mantêm o ‘Doomsday Clock’ a 100 segundos para a meia-noite

Relógio do Juízo Final Doomsday Clock 2022

Ajuda de entidades preocupadas com fake news sobre o clima 

A rede social contou com o apoio de organizações especialistas para o desenvolvimento das novas regras, incluindo a Climate Desinformation Coalition e a Conscious Advertising Network, que contribuíram indicando os temas mais comuns com desinformação que circulam nas plataformas de mídia digital. 

O controle das fake news sobre o clima é um desafio para as grandes plataformas. 

Uma pesquisa recente da ONG Global Witness comprovou que usuários do Facebook que demonstram interesse em conteúdo negando a existência ou os efeitos das mudanças climáticas estão sendo direcionados cada vez mais para publicações com desinformação sobre o tema pelos algoritmos da plataforma.

Leia também 

AFP reorganiza redação em Paris e cria unidade especializada em jornalismo ambiental

A plataforma disse que utilizará uma combinação de sistemas automatizados e moderadores humanos para localizar e eliminar conteúdo com fake news sobre o aquecimento global. 

Tendências motivaram mudanças no Pinterest 

A atualização das políticas do Pinterest segue uma tendência revelada pelos próprios usuários. Segundo a empresa, as buscas por assuntos relacionados a um estilo de vida mais sustentável dispararam na plataforma.

No ano passado, a pesquisa pelo termo “dicas de desperdício zero” cresceu seis vezes, enquanto “ideias de roupas recicláveis” tiveram quatro vezes mais procura.

As buscas por “decoração de casa reciclada” aumentaram 95%, e por “estilo de vida sem desperdício”, 64%.

Para aumentar a inspiração em uma vida mais verde, o Pinterest também anunciou uma série de conteúdo Creator Originals liderada por influenciadores dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Alemanha, França, Japão, Brasil, México, Argentina, Indonésia e Índia.

A proposta é que os criadores compartilhem dicas sustentáveis sobre como economizar, reciclar roupas e minimizar o desperdício de alimentos, entre outras.

Neste vídeo, a influenciadora Green Girl Leah orienta usuários a identificar e combater fake news sobre aquecimento global e mudanças climáticas. 

Além disso, usuários que pesquisarem tópicos como “vida ecologicamente correta” e “vida sustentável” serão direcionados a páginas com conteúdo inspirado em sustentabilidade.

A iniciativa do Pinterest foi elogiada por organizações que trabalham em prol do meio ambiente, que cobraram publicamente ações semelhantes de outras plataformas.

“As fake news sobre o aquecimento global em plataformas digitais são uma séria ameaça ao apoio público necessário para resolver a crise climática”, disse Michael Khoo, co-presidente de desinformação climática da Friends of the Earth. Ele aplaudiu a iniciativa: 

“O Pinterest demonstrou grande liderança ao criar um padrão comunitário que inclui uma definição de desinformação climática, e continuaremos a pressionar todas as plataformas por transparência e relatórios sobre suas ações.”

Em uma linha do tempo, o Pinterst divulgou outras ações adotadas para se alinhar com a comunidade científica nos últimos anos.

Em 2019, por exemplo, antes da pandemia de covid-19, a plataforma decidiu limitar os resultados de pesquisa relacionados a vacinas a fontes autorizadas, incluindo as principais organizações de saúde pública, como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A medida foi uma resposta ao crescente movimento antivacina já existente. Em 2020, o Pinterest também direcionou resultados de pesquisas oficiais para quem pesquisava sobre o coronavírus na plataforma.

Em anos anteriores, o site adotou outras medidas para tornar sua comunidade um ambiente mais positivo. Em 2016, anúncios de conteúdo sensível, incluindo fantasias culturalmente apropriadas e inadequadas, foram proibidos. 

Anúncios políticos também foram banidos em 2018 e, no ano seguinte, direcionou pessoas que buscavam apoio à saúde mental.

Para os céticos, Facebook mostra mais fake news sobre aquecimento global 

O movimento do Pinterest para reverter as fake news sobre o clima na plataforma é feito em um momento em que o Facebook é cada vez mais criticado por não adotar um controle mais eficiente.

A pesquisa feita pela ONG Global Witness criou dois perfis de usuários, um que visitava páginas com conteúdo negacionista e outro que seguida páginas com informações científicas comprovadas.

Ao dar like em páginas com conteúdo negacionista apoiadas por grupos conservadores, o usuário-teste recebia imediatamente recomendações de outras que também desqualificam fatos científicos sobre a crise do clima. 

A investigação da ONG constatou que, à medida que a simulação se aprofundava, o Facebook começou a recomendar até mesmo teorias da conspiração anticlimáticas, como a “chemtrail”, que afirma que a condensação deixada pelos aviões contém agentes químicos que controlam o clima.

Leia mais

Facebook exibe mais fake news para quem já duvida das mudanças climáticas, diz pesquisa