O impacto da internet e das redes sociais no exercĂ­cio do jornalismo foi o tema escolhido pela Unesco para sua conferĂȘncia global em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado em 3 de maio.

O encontro, em Punta del Leste (Uruguai), começou na segunda-feira (2) e vai atĂ© 5 de maio, em formato presencial e virtual. Qualquer interessado pode assistir aos debates pelo site da organização (veja abaixo a programação completa). 

Entre os temas discutidos estĂŁo os impactos e ameaças para o trabalho de jornalistas na era digital, segurança, liberdade de expressĂŁo e privacidade nas redes sociais. 

ImportĂąncia de defender a liberdade de imprensa serĂĄ debatida em evento

A conferĂȘncia marcando o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi aberta oficialmente na tarde desta segunda-feira pela diretora-geral da agĂȘncia, Audrey Azoulay, e o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.

Jornalistas, executivos de organizaçÔes de mídia, especialistas jurídicos e em segurança cibernética participam para se aprofundar em questÔes que apontem caminhos concretos para enfrentar as ameaças à liberdade de imprensa surgidas no ambiente digital.

“Todos devemos fazer mais para enfrentar os riscos e aproveitar as oportunidades da era digital”, diz Azoulay em comunicado. “[Devemos] nos unir para desenvolver uma nova configuração digital – uma que proteja tanto o jornalismo quanto os jornalistas.”

A preocupação com os efeitos das tecnologias digitais sobre a sociedade nĂŁo preocupam apenas organizaçÔes de liberdade de imprensa e jornalistas. HĂĄ duas semanas, o ex-presidente dos EUA Barack Obama fez um discurso defendendo regulamentação paras as empresas de mĂ­dias sociais, sob o argumento de que Ă© preciso defender a democracia controlando a desinformação. 

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A programação da conferĂȘncia 

Entre os destaques da conferĂȘncia do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa estĂĄ a palestra que destrincha o tema deste ano, “Jornalismo sob Cerco Digital”, a primeira ocorrida no evento.

Participaram dela Irene Khan, relatora especial da ONU para a promoção e proteção do direito Ă  liberdade de opiniĂŁo e expressĂŁo; Marcelo Bechara, diretor de RelaçÔes Institucionais e Regulação do Grupo Globo; Will Cathcart, CEO do WhatsApp; Shoshana Zuboff, autora de “Surveillance Capitalism”; Timnit Gebru, fundador e diretor executivo do Distributed Artificial Intelligence Research Institute (DAIR); e a jornalista investigativa Claudia Duque, da ColĂŽmbia.

Na terça-feira (3), Ă s 10h30, a diretora executiva da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Cristina Zahar, modera o painel “Liberdade de Imprensa e o Plano de Ação da ONU sobre a Segurança dos Jornalistas e a QuestĂŁo da Impunidade”. Participam o presidente da Unesco, Santiago Irazabal MourĂŁo; Abdulla Shahid, presidente da Assembleia Geral da ONU; e Federico Villegas, presidente da ONU Direitos Humanos.

No mesmo dia, Ă s 12h (horĂĄrio de BrasĂ­lia), o painel “Contribuição das OrganizaçÔes da Sociedade Civil para o Avanço da TransparĂȘncia das Plataformas Digitais”, promovido pelo FĂłrum sobre Informação e Democracia, reĂșne os brasileiros OlĂ­via Bandeira, do coletivo Intervozes, e VirgĂ­lio Almeida, professor emĂ©rito de CiĂȘncia da Computação, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com colega latinoamericanos para falar sobre o acesso de dados. 

Acesse a programação completa do evento neste link.

Campanha da Unesco para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 2022 (Foto: Divulgação)

RelatĂłrio da Unesco aponta riscos de redes sociais para o jornalismo

Em março, a Unesco divulgou um relatório com conclusÔes alarmantes sobre os riscos que o jornalismo profissional e independente enfrentam diante do crescimento exponencial das redes sociais, e que ressalta a importùncia da liberdade de imprensa.

A pandemia de covid-19 contribuiu para a crise das empresas de mídia e evidenciou o risco para o direito fundamental à informação, constatou o relatório.

O perĂ­odo intensificou as tendĂȘncias existentes de queda na receita de publicidade, perda de empregos e fechamento de redaçÔes. AlĂ©m disso, tambĂ©m se  agravou os ataques online e fĂ­sicos a jornalistas e demais profissionais de imprensa.

A pandemia tambĂ©m deixa dĂșvidas sobre o futuro da profissĂŁo e sua rentabilidade.

Dados do Centro Internacional para Jornalistas analisados pela agĂȘncia da ONU mostram que dois terços dos jornalistas se sentem menos seguros em seus empregos como resultado das pressĂ”es econĂŽmicas, apesar dos Ășltimos dois anos evidenciarem como a profissĂŁo Ă© essencial para a sociedade.

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Isso porque Ă  medida que o conteĂșdo falso relacionado Ă  covid-19 se espalhou rapidamente nas mĂ­dias sociais, o fechamento de redaçÔes e os cortes de empregos criaram um vĂĄcuo significativo no cenĂĄrio da informação, principalmente no HemisfĂ©rio Sul.

Esse våcuo, no entanto, não permanece vazio por muito tempo. Algoritmos das principais redes sociais ainda não conseguem distinguir de maneira eficiente publicaçÔes reais e falsas.

Na ausĂȘncia do jornalismo profissional, as fake news se disseminam pelas redes sociais de forma assustadora e colocam ainda mais enfoque na importĂąncia da liberdade de imprensa, pois sĂŁo os jornalistas que ajudam a desvendĂĄ-las.

Em setembro de 2020, mais de 1 milhĂŁo de postagens circularam no Twitter com informaçÔes imprecisas, nĂŁo confiĂĄveis ​​ou enganosas relacionadas Ă  pandemia, de acordo com dados do ObservatĂłrio de Infodemias Covid-19 da Fondazione Bruno Kessler.

Desde o início da pandemia até agosto de 2021, mais de 20 milhÔes de publicaçÔes foram removidas do Facebook e no Instagram por promoverem informaçÔes falsas relacionadas com ao coronavírus.

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