O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado em 3 de maio, foi criado hĆ” mais de 20 anos pela Unesco para celebrar os princĆ­pios fundamentais da liberdade do jornalismo e reforƧar o compromisso de governos com jornalistas e o livre exercĆ­cio da profissĆ£o.

Longe de ser somente um marco festivo, a data Ć© usada tambĆ©m para demonstrar apoio aos veĆ­culos de comunicaĆ§Ć£o e profissionais que sĆ£o alvos de censura, avaliar a liberdade de imprensa em todo o mundo e honrar a memĆ³ria dos jornalistas que perderam a vida trabalhando em ambientes hostis.

Como parte das atividades para marcar o dia, a organizaĆ§Ć£o RepĆ³rteres Sem Fronteiras divulgou a ediĆ§Ć£o 2022 do ƍndice Global de Liberdade de Imprensa, que aponta o Brasil em 110Āŗ lugar entre 180 paĆ­ses, e a Unesco estĆ” promovendo uma conferĆŖncia global que pode ser acompanhada online 

A origem do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

A data, instituĆ­da em 1993, Ć© a mesma em que tinha sido assinada dois anos antes a DeclaraĆ§Ć£o de Windhoek, considerada histĆ³rica.

Capital da NamĆ­bia, Windhoek reuniu os jornalistas africanos em 1991 que participaram do seminĆ”rio “Como promover uma mĆ­dia africana independente e pluralista”, convocado pela Unesco.

O texto final do evento abordou justamente a importĆ¢ncia do pluralismo e da independĆŖncia da mĆ­dia africana e serviu como exemplo a ser seguido pelo resto do mundo.

Com base nele, a Assembleia Geral da ONU de 1993 proclamou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, apĆ³s uma recomendaĆ§Ć£o aprovada na 26ĀŖ sessĆ£o da ConferĆŖncia Geral da Unesco, em 1991.

A data de 3 maio tambĆ©m foi baseada no Artigo 19 da DeclaraĆ§Ć£o Universal dos Direitos Humanos, que diz:

ā€œTodo indivĆ­duo tem direito Ć  liberdade de opiniĆ£o e de expressĆ£o, o que implica o direito de nĆ£o ser inquietado pelas suas opiniƵes e o de procurar, receber e difundir, sem consideraĆ§Ć£o de fronteiras, informaƧƵes e ideias por qualquer meio de expressĆ£oā€.

A agĆŖncia da ONU Ć© a responsĆ”vel por promover a liberdade de imprensa e a liberdade de expressĆ£o. “A Unesco acredita que essas liberdades permitem o entendimento mĆŗtuo para construir uma paz sustentĆ”vel”, define a organizaĆ§Ć£o.

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Para a Unesco, o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa serve como uma ocasiĆ£o para informar os cidadĆ£os sobre as violaƧƵes da liberdade de imprensa.

“Ɖ um lembrete de que em dezenas de paĆ­ses ao redor do mundo as publicaƧƵes sĆ£o censuradas, multadas, suspensas e fechadas, enquanto jornalistas e editores sĆ£o perseguidos, atacados, detidos e atĆ© assassinados.

Ɖ uma data para incentivar e desenvolver iniciativas em prol da liberdade de imprensa e avaliar o estado da liberdade de imprensa em todo o mundo.”

Todos os anos, a Unesco realiza uma conferĆŖncia global para celebrar a data. Em 2022, o evento acontece entre os dias 2 e 5 de maio, em Punta del Leste (Uruguai), com o tema ā€œJornalismo sob Cerco Digitalā€ em formato hĆ­brido. Qualquer interessado pode assistir aos debates pelo site da organizaĆ§Ć£o.

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A importĆ¢ncia de celebrar e defender a liberdade de imprensa

A pandemia de covid-19 e a guerra na UcrĆ¢nia sĆ£o dois eventos recentes que ressaltaram a importĆ¢ncia do jornalismo profissional e da liberdade de imprensa.

Em ambos, a disseminaĆ§Ć£o de fake news e a repressĆ£o de governos para impedir que fatos fossem informados ao pĆŗblico fizeram com que centenas de jornalistas fossem intimidados, presos e atĆ© mortos.

Em 2022, o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa tambĆ©m vai servir como um alerta de que a censura e a perseguiĆ§Ć£o a jornalistas nĆ£o Ć© uma iniciativa que se restringe apenas a paĆ­ses sob regimes ditatoriais.

Um novo relatĆ³rio do Conselho da Europa (CoE), feito em parceria com as FederaƧƵes Internacional e Europeia de Jornalistas (FIJ e EFJ), revela que o continente europeu vive uma crescente ameaƧa ao livre jornalismo.

Em 2021, 282 graves violaƧƵes da liberdade de imprensa ocorridas em 35 paĆ­ses foram reportadas ao CoE ā€” um aumento de 41% em relaĆ§Ć£o Ć s 200 comunicadas em 2020.

O relatĆ³rio ā€œDefendendo a liberdade de imprensa em tempos de tensĆ£o e conflitoā€, apresentado na AssociaĆ§Ć£o de Imprensa da BĆ©lgica, indica que ā€œas luzes vermelhas estĆ£o piscandoā€ para a mĆ­dia independente da Europa.

Segundo o CoE, polĆ­ticos e demais agentes do Estado responderam por 47% das violaƧƵes reportadas em 2021. E, em um nĆŗmero crescente de paĆ­ses, esses casos nĆ£o sĆ£o ocasionais.

ā€œEles resultam de uma estratĆ©gia deliberada para impor um modelo ā€˜iliberalā€™, em total violaĆ§Ć£o dos princĆ­pios fundamentais do Estado de direito e dos direitos humanos.ā€

Das 282 violaƧƵes contra a liberdade de imprensa destacam-se 82 ataques Ć  seguranƧa e integridade fĆ­sica de jornalistas, 32 detenƧƵes e prisƵes de jornalistas e 110 casos de assĆ©dio e intimidaĆ§Ć£o de jornalistas.

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Jornalismo profissional ameaƧado por redes sociais

Em outra faceta que inibe a livre imprensa e mexe com o bolso das organizaƧƵes de mĆ­dia, estĆ£o as redes sociais — controladas por big techs bilionĆ”rias que dividem apenas uma pequena parcela dos seus lucros gigantescos com os meios de comunicaĆ§Ć£o.

Em marƧo, a Unesco divulgou um relatĆ³rio com conclusƵes alarmantes sobre os riscos que o jornalismo profissional e independente enfrentam diante do crescimento exponencial das redes sociais.

A anĆ”lise, com recorte mais recente feito entre 2021 e 2022, identificou que tanto o pĆŗblico de notĆ­cias quanto as receitas de publicidade migraram em massa para as plataformas controladas pelas gigantes da internet Google e Meta/Facebook. 

Somado a esse cenĆ”rio, o estudo da Unesco avaliou que a pandemia intensificou as tendĆŖncias existentes de perda de empregos e fechamento de redaƧƵes.

O perĆ­odo agravou os ataques online e fĆ­sicos a jornalistas e demais profissionais de imprensa, alĆ©m de deixar dĆŗvidas sobre o futuro da profissĆ£o e sua rentabilidade.

Dados do Centro Internacional para Jornalistas analisados pela agĆŖncia da ONU mostram que dois terƧos dos jornalistas se sentem menos seguros em seus empregos como resultado das pressƵes econĆ“micas da pandemia.

Isso porque Ć  medida que o conteĆŗdo falso relacionado Ć  covid-19 se espalha rapidamente nas mĆ­dias sociais, o fechamento de redaƧƵes e os cortes de empregos criaram um vĆ”cuo significativo no cenĆ”rio da informaĆ§Ć£o, principalmente no HemisfĆ©rio Sul.

Na ausĆŖncia do jornalismo profissional, as fake news se disseminaram pelas redes sociais de forma assustadora.

Em setembro de 2020, mais de 1 milhĆ£o de postagens circularam no Twitter com informaƧƵes imprecisas, nĆ£o confiĆ”veis ā€‹ā€‹ou enganosas relacionadas Ć  pandemia, de acordo com dados do ObservatĆ³rio de Infodemias Covid-19 da Fondazione Bruno Kessler.

Desde o inƭcio da pandemia atƩ agosto de 2021, mais de 20 milhƵes de publicaƧƵes foram removidas do Facebook e no Instagram por promoverem informaƧƵes falsas relacionadas com ao coronavƭrus.

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