Londres – As mudanças prometidas por Elon Musk para o Twitter podem chegar a algo que sempre pareceu intocável no negócio das mídias digitais: a gratuidade para todos os tipos de usuários. 

Seguindo seu padrão de usar a rede social para antecipar ideias e planos para as suas empresas, o que ele já fazia antes com a Tesla e com a SpaceX, o novo dono da empresa tuitou nesta quarta-feira (4) sugerindo que pode criar uma taxa para empresas e usuários governamentais. 

Na nota curta, ele garante que o Twitter continuará sendo gratuito para “casual users”, uma definição vaga que pode não incluir, por exemplo, influenciadores com uso intensivo da plataforma e que ganham dinheiro monetizando posts, o que poderia enquadrá-los na categoria “empresa”.

Mudanças no Twitter por Musk em sintonia com mercado 

Em seu estilo enigmático, ele compara a gratuidade aos artesãos que trabalhavam no corte de pedras na era medieval, sugerindo que eles foram à falência por cobrarem pouco por seus serviços.

E fala em “slight cost”, sugerindo que o custo seria baixo.

Como preço é uma questão relativa, dependendo da conta bancária de quem vai pagar, não é possível adivinhar o que passa na cabeça de Elon Musk sobre a taxa, ou como ela seria calculada: por faturamento da empresa? Por tweets? Uma taxa diferente para empresas e outra para usuários de governos? Valeria também para políticos que não ocupam cargos executivos? Órgãos governamentais de serviço público teriam que pagar? 

A possibilidade do Twitter ir à falência se não cobrar mais pelos seus serviços, como aconteceu com os cortadores de pedra na Idade Média, é pequena.

Mas os planos podem agradar ainda mais aos investidores que se entusiasmaram com a aquisição da rede social por Musk, em uma operação de US$ 44 bilhões que ainda aguarda aprovação das autoridades regulatórias. 

Logo que a notícia foi confirmada, as ações subiram, com expectativa de mudanças no Twitter feitas por Musk que possam aumentar receita e lucro. 

Aumentar ainda mais, pois o bilionário começou a semana como dono da plataforma com a boa notícia de que os lucros subiram 7 vezes no primeiro trimestre e a receita aumentou 15%.

Como tudo que envolve Elon Musk, apostas sobre como mudanças no Twitter serão realizada e qual a extensão delas são difíceis de fazer.

Analistas de mercado financeiro e especialistas em tecnologia têm escrito com ressalvas sobre o que acham que vai acontecer, refletindo a imprevisibilidade do empresário. 

Ideia de Musk mudaria padrão do universo das redes 

A ideia de cobrança para usuários do Twitter quebra um dogma no mundo das redes, que ganham em publicidade utilizando os dados de perfil e os algoritmos para que anunciantes direcionem com exatidão as mensagens aos seus potenciais consumidores. 

A eficiência desse modelo levou a uma crise na propaganda tradicional, afetando severamente as empresas de mídia. Elas viram as verbas publicitárias migrarem para as plataformas, tanto as redes sociais como buscadores como Google e streamings de vídeo como YouTube. 

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Mas Musk deve saber o que faz, não fosse ele o homem mais rico do mundo, posição conquistada  antes dos 50 anos de idade.  

O prestígio do Twitter e sua influência são enormes, sobretudo entre uma audiência de formadores de opinião, como políticos, jornalistas e pessoas que são referência em seus segmentos de atuação. 

Isso ficou evidenciado em um relatório da consultoria britânica Brand Finance divulgado na semana passada. O MediaBrands 50, que lista as marcas de mídia mais fortes e valiosas, atestou crescimento de 85% no valor da marca do Twitter.

Em 26º lugar na lista, valendo US$ 5,7 bilhão, ainda está longe do líder Google, avaliado em US$ 263,4 bi.

Mas o avanço de 10 posições na lista mostra a solidez da marca, que a Brand Finance atribui justamente à força da rede social entre seus maiores usuários, líderes de opinião altamente qualificados.

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Desde que a compra foi anunciada, Elon Musk vem alarmando alguns com os planos de relaxar com as políticas de moderação em nome da liberdade de expressão na rede social.

E sempre reafirma sua ideia de explorar melhor as possibilidades comerciais do Twitter aproveitando sua base de usuários e seu capital de reputação, como disse no comunicado após a compra: 

“Pretendo tornar o Twitter melhor do que nunca, aprimorando o produto com novos recursos, tornando os algoritmos de código aberto para aumentar a confiança, derrotando os bots de spam e autenticando todos os humanos”.

“O Twitter tem um tremendo potencial – estou ansioso para trabalhar com a empresa e a comunidade de usuários para destravá-lo”. 

Além de mudanças relacionadas às políticas de moderação, outras possibilidades têm sido mencionadas pelo empresário e pela própria diretora, como a introdução do recurso de apagar tweet e redução de preço no Twitter Blue, serviço de assinatura premium. 

Musk reage a sugestão de boicote 

Deixando de lado os investidores que parecem estar felizes, reações aos planos de Elon Musk para o Twitter estão vindo de vários lados, incluindo do mundo do jornalismo, receoso de que as mudanças na moderação possam abrir espaço para mais desinformação e discurso de ódio. 

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No entanto, outro grupo de pressão poderia incomodar mais: as empresas. Na terça-feira (3), a rede americana CNN publicou uma reportagem sobre uma carta enviada por dezenas de grupos da sociedade civil aos participantes da conferência de propaganda digital NewFronts 2022. 

O documento pede que os profissionais de marketing exijam do Twitter compromisso de manter suas políticas atuais de moderação, sobretudo em questões como integridade cívica e discurso de ódio. E insta as marcas a boicotarem a plataforma se o pedido não for cumprido. 

Fazendo jus ao seu perfil intrépido, Elon Musk devolveu a estocada. Pelo Twitter, ele provocou:

“Quem financia essas organizações que querem controlar o seu acesso à informação? Vamos investigar…”

Mudanças no Twitter via Twitter 

Decisões empresariais em grandes corporações como o Twitter costumam ser tomadas a portas fechadas, por grupos de diretores especializados nas várias disciplinas envolvidas no negócio a partir do exame de estudos financeiros, pesquisas e projeções. 

No Twitter não está sendo assim. Musk não faz parte do Conselho (abriu mão de um assento que limitaria sua participação acionária). E parece ter um diálogo pouco amigável com a diretoria executiva, criticada publicamente pelo empresário. 

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Acompanhar as mudanças futuras no Twitter é algo que poderá ser feito por qualquer interessado sem acesso às salas de reunião da empresa. 

Basta seguir Elon Musk no Twitter, como já fazem mais de 90 milhões de pessoas. Eram 80 milhões na semana em que ele comprou a plataforma. 

E se for verdade a tese de que ninguém conhece melhor uma pessoa do que sua própria mãe, uma entrevista com Maye no tapete vermelho do Met Gala da revista Vogue em Nova York confirma que tudo é possível. 

Perguntada sobre o que a faz mais orgulhosa sobre o filho, ela responde: “tudo”.

Segue dizendo que Elon a surpreende todos os dias (não só a ela).

E que ele “tem ideias que ninguém jamais pensou que pudessem acontecer”. 

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