Londres – As especulações sobre a gradativa saída de cena da rainha Elizabeth II por motivos de saúde estão pouco a pouco se confirmando: o Palácio de Buckingham anunciou na tarde desta quinta-feira (5) que a monarca não participará de uma das mais tradicionais festividades anuais da realeza, as famosas “Garden Parties” (festas no jardim).
Os encontros no gramado do Palácio, que reúnem autoridades, jornalistas e pessoas comuns que fizeram contribuições importantes para a sociedade, não eram realizados desde 2019, por causa da pandemia – e este ano seriam ainda mais especiais devido aos 70 anos da rainha no trono.
O informe do Palácio diz que Elizabeth II será substituída nas três festas, programadas para os dias 11, 19 e 26 de maio, por integrantes da família real, recebendo os cerca de 30 mil convidados que participarão nos três dias, em trajes de gala.
Saúde da Rainha Elizabeth preocupa
Para a imagem da família real não é uma boa notícia, pois nenhum deles tem o carisma da monarca. E a ausência reforça as preocupações com sua saúde.
O impacto da redução das aparições públicas de Elizabeth II é significativo para a reputação da monarquia. Ela é a figura mais admirada da família, e tem conseguido ficar à margem de escândalos envolvendo os filhos Charles e Andrew e o neto Harry.
Ao comentar a importância da figura da rainha quando Elizabeth II completou 70 anos no trono, o publicitário Washington Olivetto, que mora em Londres, definiu o seu papel não apenas para a realeza mas para o próprio país, dizendo que ela é a melhor agência de propaganda que o Reino Unido poderia ter.
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Para a monarquia, ela é o pilar que sustenta a alta popularidade, e que ajuda a neutralizar movimentos antimonárquicos. Mas pesquisas mostram que há uma tendência de apoio público para que a rainha não seja substituída quando morrer.
A informação de que ela não vai participar das festas repercutiu imediatamente na imprensa britânica, com as TVs fazendo boletins “Breaking news” e a mídia tuitando a notícia.
Como as festas no jardim exigem um longo tempo de pé, a exigência física parece ser acima do que ela conseguiria suportar. A opção de utilizar uma cadeira de rodas talvez tenha sido descartada para não alimentar ainda mais a percepção de problemas de saúde da rainha Elizabeth.
A conta oficial The Royal Family no Twitter não postou o comunicado. Mas postagens recentes mostram que o motivo provável para a ausência – dificuldades de mobilidade – também determinou mudanças na rotina de encontros com autoridades.
Esses encontros eram feitos de forma presencial, e muitos deles agora passaram a ser online.
No dia em que o cancelamento da ida às festas foi anunciado, a rainha recebeu em audiência o representante da ilha Santa Lucia em Londres por videoconferência, ele no Palácio de Buckingham e ela no Castelo de Windsor, onde passou a viver desde a pandemia.
The Queen today held an Audience via video link with His Excellency Mr Anthony Severin, upon his appointment as High Commissioner for Saint Lucia in London. pic.twitter.com/TrtRO8Rpjq
— The Royal Family (@RoyalFamily) May 5, 2022
A última aparição pública de Elizabeth II ou imagem de encontro privado presencial foi na semana passada, um encontro com o presidente da Suíça. Ela parecia bem disposta, sem sinais de fragilidade nem uso de bengala.
🇨🇭This afternoon The Queen received the President of Switzerland, Mr Ignazio Cassis, for an Audience at Windsor Castle.
Find out more about Audiences – https://t.co/jsAyH3qQ3t pic.twitter.com/OKAECTiQQv
— The Royal Family (@RoyalFamily) April 28, 2022
Há uma expectativa sobre um outro compromisso público com grande efeito simbólico, que acontece na semana que vem: a abertura do ano legislativo do Parlamento.
É tradição os reis da Inglaterra lerem o discurso com as prioridades do ano, na qualidade de Chefes de Estado. O texto é preparado pelo gabinete do primeiro-ministro que governa o país, atualmente Boris Johnson.
A presença exigiria uma viagem do castelo de Windsor até o centro de Londres, onde fica o Parlamento, e uma caminhada com pompa até o local onde ela discursa. Os rumores são de que o príncipe Charles, o futuro rei, seria seu substituto.
Preocupações e especulações
A Rainha Elizabeth II não tem feito segredo sobre suas dificuldades de saúde. Já reclamou de questões de mobilidade em público e disse que a covid (que pegou em março passado) a deixou cansada e enfraquecida.
No fim ano passado, uma breve internação deixou o país assustado, porque foi escondida do público e só admitida depois que um jornal tabloide publicou a notícia.
A imagem de uma mulher a serviço do país e dedicada à sua missão acima de tudo foi alimentada no dia em que Elizabeth II completou o Jubileu de Platina, em 6 de fevereiro, um domingo.
Em vez de fotos de uma senhora então com 95 anos passando o dia com a família ou indo à missa, um de seus hábitos, o Palácio de Buckingham divulgou um vídeo da monarca em plena atividade.
Ela apareceu ao lado de um de seus secretários particulares analisando documentos na famosa caixa vermelha. E uma série de imagens histórias retratava Elizabeth II trabalhando ao longo de toda a vida.
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Para quem acompanha os passos da família real, a interpretação foi de que a escolha teve como objetivo tentar reverter os comentários de uma aposentadoria ou mesmo abdicação iminentes por motivos de saúde.
Por isso, o cancelamento da participação nas festas do jardim do Palácio de Buckingham causou repercussão.
Pode não ser apenas uma, mas o início de uma série de ausências que tiram de cena a figura mais popular e admirada da realeza britânica e uma das mais queridas do mundo.
No entanto, a expectativa (e torcida de boa parte do país, inclusive da mídia que cobre cada passo da monarca) continua sendo a de que ela não vai deixar de aparecer nos eventos principais, previstos para os primeiros dias de junho.
No entanto, eles podem ser adaptados para permitir que a “melhor agência de propaganda” do Reino Unido e talvez de todas as famílias reais do mundo dê mais um show de carisma.
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