No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado em 3 de maio, a organização internacional CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) fez um apelo nas redes sociais pedindo o fim de ataques a jornalistas e profissionais de profissionais da mídia na guerra na Ucrânia.

A hashtag da iniciativa é #NotATarget (#NãoSãoAlvos). O vídeo da campanha exibe depoimentos comoventes de familiares e colegas de trabalho dos profissionais que perderam a vida na guerra. 

Pelo menos sete jornalistas já morreram durante a cobertura da invasão russa ao território vizinho. Outras cinco mortes estão sendo investigadas para apurar se foram relacionadas ao trabalho.

Mortes de jornalistas em guerra na Ucrânia desafiam liberdade de imprensa

A data de 3 de maio foi proclamada como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa durante a Assembleia Geral da ONU, em 1993. O dia, segundo a organização, é destinado a funcionar  “como um lembrete aos governos da necessidade de respeitar seu compromisso com a liberdade de imprensa”.

Ele serve também para a “reflexão entre os profissionais da mídia sobre questões de liberdade de imprensa e ética profissional”.

Mas o CPJ destaca que, quase três décadas depois, a Rússia age para sufocar as reportagens sobre a guerra contra a Ucrânia reprimindo a mídia independente dentro do país e detendo jornalistas da nação vizinha.

“Todos os jornalistas e profissionais da mídia são civis sob o Direito Internacional Humanitário, e seus direitos devem ser respeitados e protegidos”, lembra o diretor executivo do CPJ, Robert Mahoney.

Por isso, o comitê reforça o apelo pela proteção dos jornalistas que cobrem o conflito e lança a campanha #NotATarget nas redes sociais, com um vídeo compartilhando depoimentos de colegas e  familiares dos jornalistas que morreram cobrindo o conflito no Leste Europeu.

A primeira morte de profissional de mídia registrada na guerra na Ucrânia foi a do cinegrafista ucraniano Evgeny Sakun, da Kiev Live TV, que perdeu a vida após ser atingido no bombardeio da torre de televisão da capital, no dia 1º de março.

O jornalista ucraniano Viktor Dedov foi morto em 11 de março, em Mariupol, depois que seu apartamento foi bombardeado.

O vídeo do CPJ também traz o depoimento do irmão de Brent Renaud, documentarista americano morto depois de ser alvejado por soldados russos na cidade Irpin, no dia 13 de março:

“Uma coisa que fez a diferença com Brent e transpareceu em nossos filmes é o quanto ele se importava com as pessoas que estávamos filmando. E, no fim, é por isso que Brent morreu.

Ele estava tentando chegar a uma ponte, longe de onde o conflito estava acontecendo, mas onde os refugiados estavam tentando fugir da Ucrânia com alguns poucos pertences.”

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Apenas um dia após a morte de Renaud, o cinegrafista americano Pierre Zakrzewski, da Fox News, e a produtora ucraniana que o acompanhava, Oleksandra Kuvshinova, também foram vítimas fatais de um ataque por parte de soldados da Rússia. Seus amigos e familiares também participam do vídeo do CPJ. 

Em 23 de março, a jornalista russa do site investigativo The Insider Oksana Baulina morreu após bombardeio de tropas russas a um bairro residencial em Kiev.

Ela estava na Ucrânia cobrindo o conflito quando foi atingida no ataque, confirmou o veículo que Oksana trabalhava. O editor do Insider, Timur Olevskiy, falou ao CPJ sobre ela:

“Quando a guerra começou, ela queria estar na Ucrânia. Era uma situação muito perigosa, mas acho que ninguém conseguiria impedi-la ou pedi-la para ficar em casa, não ir trabalhar. Era algo muito importante.”

Além de jornalistas, cineasta morre na guerra da Ucrânia 

No dia 2 de abril, o premiado documentarista lituano Mantas Kvedaravicius foi o sétimo profissional de mídia a morrer durante o conflito. O Ministério da Defesa ucraniano informou que o cineasta de 45 anos foi morto por forças russas ao tentar fugir da cidade.

Ele ficou conhecido pelo filme “Mariupolis”, de 2016, que ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Lithuanian Film Awards, além de receber elogios nos festivais de cinema de Berlim, Hong Kong e Estocolmo, segundo o Hollywood Reporter.

Durante a conferência anual da Unesco para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em Punta del Leste, o CPJ apresentou o painel “Verdade, Mentiras e Guerra”, que abordou a importância da reportagem factual e independente durante o conflito.

A Chefe do Programa Europa e Ásia Central do CPJ, Gulnoza Said, destacou os ataques da Rússia contra a imprensa:

“A Rússia não está apenas tentando ganhar o controle de novos territórios [na Ucrânia], mas [também] controlar a informação. A verdade é um alvo. A desinformação tem sido muito usada [nos últimos 8 anos desde a anexação da Crimeia]”.

ONG cobra de governantes proteção a jornalistas 

Além de lembrar sobre os ataques aos jornalistas que cobrem a guerra na Ucrânia, o CPJ também cobrou nas redes sociais de países e governantes mais proteção aos profissionais de imprensa, incluindo o Brasil. 

E lembrou que, em 2021, ao menos 28 jornalistas tiveram mortes relacionadas à profissão. 

O comitê listou os 12 piores países do mundo em investigar as mortes de jornalistas, de acordo com o próprio Índice de Impunidade de 2021: o Brasil aparece em 8º lugar.

A ONG também divulgou um comunicado conjunto a 10 grupos defensores da liberdade de imprensa brasileiros e internacionais, incluindo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), pedindo às autoridades e candidatos das próximas eleições do país que respeitem o papel da imprensa livre.

“Tentativas de enfraquecer ou restringir o trabalho de jornalistas e veículos da imprensa em um contexto eleitoral violam não apenas o direito das pessoas à informação: também enfraquecem os processos democráticos.”

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