Londres – Ao lançar um relatório sobre o a extensão do marketing do álcool no mundo, nesta terça-feira (10), a OMS (Organização Mundial de Saúde) cobrou regulamentação mais eficaz para controlar a propaganda e a ação de influenciadores digitais que promovem bebidas alcoólicas nas redes sociais.

Segundo a OMS, 3 milhões de pessoas morrem a cada ano como resultado do uso nocivo de álcool, uma a cada 10 segundos, representando cerca de 5% de todas as mortes.

O estudo mostra que os jovens e consumidores frequentes ​​são os principais alvos de anúncios e compartilhamento de postagens nas mídias digitais.

Marketing de álcool ultrapassa fronteiras

O movimento da OMS para regulamentar o marketing de bebidas alcóolicas é semelhante ao que a organização fez no passado contra a propaganda de cigarros, que acabou limitada ou inteiramente banida em vários países.

O Brasil tem uma das leis mais rigorosas do mundo sobre marketing de produtos à base de tabaco. 

O novo relatório destacou o peso da internet no marketing do álcool, que se acentuou nos últimos anos colaborando para o excesso de consumo e atração de jovens. 

“A coleta e análise de dados sobre hábitos e preferências dos usuários por provedores globais online criaram grandes oportunidades para os comerciantes de bebidas alcoólicas falarem diretamente ao público-alvo além de fronteiras nacionais”, alerta a organização.

A OMS afirma que a publicidade em redes sociais é eficaz no uso desses dados, com seu impacto fortalecido por influenciadores digitais e compartilhamento de postagens entre usuários.

Uma estimativa citada no relatório aponta que de 70% dos gastos com mídia das principais empresas de bebidas alcoólicas sediadas nos Estados Unidos em 2019 foram em promoções, merchandising e promoção online nas redes sociais.

O responsável da Unidade de Álcool, Drogas e Comportamentos Aditivos da OMS, Dag Rekve, afirma que a crescente importância da mídia digital significa que o marketing do álcool alcança pessoas fora do país de origem da ação promocional. 

Para ele, isso aumenta a dificuldade para que os países regulamentem e controlem efetivamente o marketing no setor, exigindo mais colaboração entre os países nesta área.

Segundo a OMS, a falta de regulamentação para lidar com o marketing além das fronteiras nacionais é uma preocupação particular para crianças e adolescentes, mulheres e consumidores frequentes.

Os estudos da entidade apontam que começar a beber álcool precocemente aumenta o consumo de risco na juventude.

Além disso, os adolescentes são mais vulneráveis ​​aos danos do consumo de álcool do que os adultos. Áreas do mundo com populações jovens e em crescimento, como África e América Latina, estão sendo particularmente visadas.

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Mulheres, alvos do marketing de álcool 

A OMS destaca ainda que o consumo de álcool entre as mulheres é um importante setor de crescimento para a produção e venda de bebidas.

Enquanto três quartos do álcool vendido mundialmente são consumidos por homens, a indústria de bebida alcóolica enxerga na menor taxa de consumo entre mulheres como uma oportunidade para aumentar seu mercado, diz o relatório. 

“As propagandas muitas vezes retratam o consumo de mulheres como um símbolo de empoderamento e igualdade.”

Segundo a organização, as estratégias adotadas pelas companhias que produzem bebidas alcoólicas incluem o apoio a iniciativas de responsabilidade social corporativa, sobre temas como câncer de mama e violência doméstica, e envolvimento com mulheres conhecidas por seu sucesso em áreas como esportes ou artes para promover marcas de álcool.

O relatório completo da OMS pode ser visto aqui.

Regulamentação do marketing para salvar jovens

A OMS salientou o número preocupante das mortes relacionadas ao álcool ocorre entre pessoas mais jovens. O relatório informa que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas é responsável por 13,5% de todas as mortes entre pessoas com 20 a 39 anos.

Para o diretor-geral da organização, Tedros Ghebreyesus, o álcool rouba a vida e o potencial dos jovens, suas famílias e sociedades.

Ele adiciona que, apesar dos claros riscos para a saúde, os controles sobre a comercialização do produto são muito mais fracos do que para outros psicoativos.

Tedros Ghebreyesus acredita que uma regulamentação melhor, bem aplicada e mais consistente do marketing do álcool salvaria e melhoraria a vida dos jovens em todo o mundo.

O uso de influenciadores nas redes sociais é um mercado que se profissionalizou nos últimos anos, concentrando parcelas significativas do orçamento das empresas. 

Usuários das redes que têm muitos seguidores ou audiência em nichos especializados ganham fortunas exibindo marcas ou consumindo produtos. 

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